Rodolfo Augusto Melo Ward de Oliveira
A arte pode ser uma ferramenta de resistência e inovação cultural?
Vivemos em um momento de profundas transformações sociais, culturais e tecnológicas. Diante desses desafios, novas abordagens para compreender a arte e a cultura tornam-se essenciais. Um dos conceitos emergentes nesse cenário é a Estética Hori, uma teoria inovadora inspirada nas práticas indígenas amazônicas, que propõe uma arte integradora, conectada ao espiritual, ao comunitário e ao ecológico.
Essa abordagem é fruto de minha mais recente pesquisa acadêmica, publicada em uma revista de alto impacto internacional. O estudo analisa como a crise provocada pela pandemia da covid-19 impulsionou mudanças nas práticas artísticas, gerando novas formas de expressão e reflexão sobre a cultura brasileira. O projeto Arte e Inovação em Tempos de Pandemia (AITP), que inicialmente surgiu como uma resposta à crise sanitária, evoluiu para um espaço de experimentação e construção de novas epistemologias para a arte e a cultura.
O que é a Estética Hori?
A palavra "Hori" vem das práticas culturais de povos indígenas do Brasil e está associada às manifestações artísticas que vão além da simples expressão visual. Na visão desses povos, arte, espiritualidade e meio ambiente estão profundamente interligados. Diferente da tradição europeia, onde a arte muitas vezes é entendida como um objeto de contemplação ou uma forma de expressão individual, a Estética Hori propõe uma abordagem mais holística. Ela sugere que a arte é uma ferramenta de conexão e transformação social, sendo vivida e compartilhada coletivamente.
Antropofagia Cultural e Inovação
Outro conceito central da pesquisa é o descolonialismo antropofágico, inspirado na Antropofagia Modernista de Oswald de Andrade. Essa ideia defende que devemos assimilar e transformar influências externas para criar algo autêntico e enraizado na cultura brasileira. Isso se torna ainda mais relevante no atual cenário global, onde as tecnologias digitais estão redefinindo a produção e o consumo cultural. O AITP, por exemplo, utilizou transmissões ao vivo e outras ferramentas digitais para conectar artistas, pesquisadores e comunidades, criando um espaço inovador para reflexão e produção artística.
Patrimônio Cultural Imaterial e a Era Digital
A preservação do patrimônio cultural imaterial é um dos desafios centrais na era da globalização e da digitalização acelerada. Como reflete o filósofo Byung-Chul Han (2021), “com uma certa vertigem, o mundo material, feito de átomos e moléculas, de coisas que podemos tocar e cheirar, está se dissolvendo em um mundo de informação, de não-coisas”. Essa perspectiva ilustra o crescente hibridismo entre o mundo digital e o real, no qual a existência se torna cada vez mais intangível e fugaz. Essa realidade exige novas abordagens que integrem saberes ancestrais e tecnologias contemporâneas, promovendo diálogos transdisciplinares capazes de superar a polarização entre progresso e preservação. Ademais, é essencial uma reflexão ética sobre o uso da inteligência artificial e a responsabilidade na disseminação de informações no ciberespaço, em um esforço para garantir o respeito às especificidades culturais e a ampliação do acesso democrático ao patrimônio cultural.
O Futuro da Pesquisa e da Cultura Brasileira
Este artigo se sustenta nos resultados da tese Humanidades Digitais: arte e tecnologia ancestral e contemporânea, defendida no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade de Brasília (UnB), com período de pesquisa internacional no Departamento de World Arts and Cultures/Dance e no Laboratório Art|Sci, da University of California, Los Angeles - UCLA (2022-2023), financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Complementa-se com o artigo publicado na Revista PÓS, periódico de alto impacto (Qualis A1) do Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que destaca a importância de metodologias transdisciplinares na construção de epistemologias descoloniais aplicadas ao design intercultural.
Clique aqui para ler o artigo na íntegra.