Ana Maria Nogales Vasconcelos
A participação de mulheres nas ciências é um tema que tem sido cada vez mais presente em programas e políticas públicas, como também nas discussões na academia e na sociedade. A promoção da igualdade de gênero, quinto Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS), trouxe maior visibilidade à questão do porquê tão poucas mulheres se inserem nas atividades de pesquisas científicas. Para promover a igualdade de gênero nessa área, a Organização das Nações Unidas estabeleceu, em 2015, o dia 11 de fevereiro como o Dia Internacional de Mulheres e Meninas nas Ciências.
No Brasil, temos muitos motivos para celebrar esta data. É crescente o número de mulheres nas ciências, como mostram diversos levantamentos sobre o tema. Em artigo intitulado A produção científica sobre as mulheres na ciência brasileira, de 2020, Josefa Conceição e Maria Teixeira falam sobre o ingresso e reconhecimento tardio das mulheres nas carreiras científicas no país, e sobre o avanço recente da participação feminina nos espaços acadêmicos e de gestão administrativa das instituições públicas e privadas. Por outro lado, o relatório Progress towards gender equality in research and innovation – 2024 review realizado pela Elsevier, mostra o crescimento nas últimas duas décadas da participação feminina nas ciências no mundo. O Brasil recebe destaque com o índice de 49% de participação feminina em produções científicas e de inovação, ocupando o terceiro lugar, logo após Portugal e Argentina.
No entanto, como ressalta o relatório da Elsevier e estudos brasileiros, ainda há um longo caminho a percorrer para o alcance pleno da igualdade de gênero nas atividades científicas no mundo e no país. Em primeiro lugar, observa-se uma forte assimetria de gênero segundo áreas do conhecimento. Enquanto a participação de mulheres é maior nas áreas da saúde, biológicas e humanas, sobretudo naquelas que estão associadas às profissões relacionadas aos cuidados (Enfermagem, Psicologia, Pedagogia), nas áreas de ciências exatas e tecnológicas, conhecidas como STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics), essa participação é muito menor.
Na Universidade de Brasília, basta caminhar pelos quatro campi para perceber a clara assimetria de gênero segundo área do conhecimento. Para estimular o interesse de meninas nas ciências, especialmente, nas áreas de exatas e tecnológicas, é digno de nota os projetos de extensão coordenados por professoras da UnB junto a escolas públicas do ensino fundamental e médio no Distrito Federal. Mas, apesar do entusiasmo de professoras e estudantes nessas atividades, a realidade é que o financiamento é muito reduzido e o reconhecimento acadêmico pequeno.
De fato, como coloca Fabiana Benedito em seu artigo Intrusas: uma reflexão sobre mulheres e meninas na ciência, de 2019, as mulheres enfrentam diversos obstáculos, entre eles, o menor reconhecimento creditado às suas atividades acadêmicas. Juntando-se as dificuldades em conciliar duplas jornadas, as mulheres tendem a deixar suas carreiras mais precocemente do que os homens, e, assim, não ascendem a postos de liderança e prestígio. Sobre as posições de prestígio acadêmico, o estudo realizado por Rocelly Cunha, Magda Dimenstein e Candida Dantas, de 2021, evidencia as desigualdades de gênero na ciência brasileira ao analisar os dados dos bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq. Segundo elas, “as mulheres são minoria entre os bolsistas PQ/CNPq, concentram-se em guetos disciplinares e enfrentam dificuldades tanto para acessar o sistema PQ quanto para alcançar as modalidades de bolsa de maior prestígio científico”. Além dos vários obstáculos, Fabiana Benedito destaca ainda a barreira invisível do assédio moral e sexual que muitas estudantes e cientistas enfrentam em suas trajetórias acadêmicas e profissionais.
Dessa forma, neste 11 de fevereiro, celebremos as conquistas alcançadas, mas, sobretudo, reflitamos sobre as barreiras que dificultam a promoção da igualdade de gênero na ciência brasileira e, em especial, na nossa universidade.
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