OPINIÃO

 

Mariana Campelo é produtora audiovisual na UnBTV. 

 

 

Mariana Campelo

 

Já parou para pensar sobre como um filme chega até si? Ou sobre como as histórias contadas na tela refletem a diversidade e a cultura de um lugar? No Distrito Federal, o cinema local enfrenta desafios e oportunidades únicas que merecem ser explorados. A cadeia produtiva do cinema — que inclui produção, distribuição e exibição — é a espinha dorsal que conecta criadores e espectadores. Mas como esses elementos se entrelaçam na realidade do cinema independente da região?

 

O cinema local enfrenta desafios significativos ao longo de sua cadeia produtiva, desde a criação até a chegada da obra ao público. Esses desafios foram evidenciados pelas entrevistas com Lorena Figueiredo, do filme A Cidade Que Afeta, e Matheus Chaves Itacaramby, do filme Há Fogo em Queimada Grande, ambos exibidos em setembro de 2022. Lorena destacou o planejamento estratégico para a exibição de A Cidade Que Afeta, uma produção independente que optou por um formato curto para ampliar as oportunidades de exibição em festivais, cinemas e, futuramente, na internet. O filme foi apresentado em eventos internacionais, ressaltando a importância de filmes locais e nacionais na televisão para alcançar uma audiência diversificada, formar plateias e fomentar a crítica. Matheus Chaves Itacaramby, por outro lado, adotou um planejamento menos convencional para Há Fogo em Queimada Grande, explorando meios alternativos de veiculação devido à curta duração da obra. O filme foi exibido em faculdades, bares, redes sociais e até na UnBTV. Matheus enfatizou a importância de tornar o cinema brasileiro mais acessível, alegando que a dificuldade na distribuição e a elitização do cinema criam barreiras para o público. Ele defende a necessidade de exibições em canais de fácil acesso, como TV aberta, plataformas online gratuitas e até mesmo canais de torrent, como forma de ampliar a democratização do acesso ao cinema nacional.

 

Essas entrevistas ressaltam a relevância de repensar os meios de exibição para superar desafios estruturais e democratizar o acesso ao cinema local e nacional. A visibilidade de um filme pode ser breve ou prolongada, dependendo das oportunidades de exibição em diferentes janelas. Nos circuitos que valorizam o cinema independente, como festivais locais e mostras de filmes, a trajetória de uma obra depende da quantidade e qualidade de oportunidades nesses eventos. Cada festival possui regras próprias em relação à exibição, acessibilidade e modalidades de entrada — que podem ser digitais, físicas, gratuitas ou pagas. Essas variáveis acabam, por vezes, limitando o público a um grupo específico.

 

Nesse contexto, o programa "Quarta Cine Candango" da UnBTV destaca-se como uma peça central na promoção do cinema local. Exibido todas às quartas-feiras, às 22 horas, o programa dedica um espaço especial às produções cinematográficas brasilienses, valorizando não apenas o cinema local, mas também contribuindo para a riqueza cultural da produção audiovisual da região. Além das exibições regulares, o "Quarta Cine Candango" inclui depoimentos das equipes realizadoras e bastidores das produções, oferecendo ao público uma experiência mais completa e envolvente.

 

Mensalmente, o programa apresenta filmes inéditos, que são reprisados ao longo do mês. A curadoria das sessões é realizada pelo Núcleo de Articulação, Produção e Aquisição de Conteúdos da equipe de Programação da UnBTV, proporcionando aos realizadores a oportunidade de exibir as suas obras e contribuir para a riqueza cultural do cinema nacional. Essa iniciativa reforça o compromisso da UnBTV em promover a produção audiovisual local e ampliar o acesso à diversidade do cinema brasileiro. Portanto, as limitações na cadeia produtiva, especialmente nas fases de distribuição e exibição, destacam a importância de criar alternativas de janelas exibidoras. É essencial que produções independentes do Distrito Federal possam ultrapassar os circuitos tradicionais de festivais e alcançar um público mais amplo e diversificado.

 

Uma estratégia promissora para a exibição de filmes é garantir espaço nas programações de canais de televisão, promovido pela legislação de cotas para conteúdos nacionais. Essa medida visa proteger e incentivar a produção local, assegurando que as obras do Distrito Federal tenham visibilidade num meio acessível a muitas pessoas. A televisão, pela sua abrangência, torna-se um canal eficaz para a distribuição de conteúdo audiovisual, fortalecendo a presença do cinema local. A implementação de políticas que favoreçam a produção do Distrito Federal é fundamental para garantir que as vozes independentes sejam ouvidas e apreciadas, contribuindo para um ecossistema cultural mais rico e diversificado.

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