OPINIÃO

Serena Veloso Gomes é jornalista na Secretaria de Comunicação da UnB e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da UnB, na linha de pesquisa Poder e Processos Comunicacionais. É mestra em Comunicação pela Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de Goiás, na linha de pesquisa Mídia e Cultura (2016).

Serena Veloso Gomes

 

Aquela noite em 14 de dezembro de 2019 ficou marcada em minha memória. Chegava, em pleno breu, com cerca de 40 graduandos e três docentes da Universidade de Brasília, a um acampamento de beira de estrada do Movimento Sem Terra (MST), em Marabá (PA): o Hugo Chávez. Como repórter da revista Darcy, publicação de jornalismo científico e cultural produzida pela Secretaria de Comunicação (Secom) da UnB, acompanhava o grupo para produzir matéria sobre a Vivência Amazônica. O projeto de extensão convida discentes a produzir conhecimentos para além dos muros da Universidade em visitas a comunidades amazônicas.

 

Ao caminhar pelo acampamento, casinhas simples, de pau a pique, tomavam conta da paisagem e nos davam dimensão de uma realidade precária, profundamente enraizada no Brasil. Não havia energia elétrica e a água era estocada em barris. Os moradores, desassistidos de políticas públicas, tinham muito a nos falar sobre suas lutas e dores ao serem constantemente ameaçados por fazendeiros após ocuparem terras improdutivas na região. Ainda assim, seguiam em busca de uma vida melhor.

 

Aquele encontro tocante despertou meu desejo de ir além de uma mera reportagem sobre o projeto: precisava amplificar aqueles relatos, expressar emoções e reflexões diante do que havia presenciado. Também me fez indagar sobre qual é, de fato, o papel do repórter na atualidade.

 

>> Confira esta reportagem da Darcy, publicada em formato de podcast 

 

Contar histórias impactantes do cotidiano. Potencializar vozes silenciadas. Investigar, apurar, questionar, contextualizar as diferentes perspectivas de um fato para fundamentar a opinião pública, sempre com olhar crítico. Fiscalizar e cobrar autoridades quando em falta com seus deveres. Promover cidadania e democracia. Garantir o direito à informação. O repórter é aquele que está atento à realidade a sua volta, contribuindo para construir narrativas de interesse público, com clareza, profundidade e diálogo. Ou deveria ser.

 

É preciso sensibilidade, humanidade, cautela e escuta atenta no exercício profissional. Por trás de toda reportagem, há pessoas, com suas experiências particulares – muitas, marginalizadas perante a sociedade. Respeito e responsabilidade social deveriam ser valores intrínsecos ao jornalismo, na contramão da banalização de violências e desumanizações no tratamento da informação e no olhar para o cidadão.

 

Em tempos de proliferação de notícias falsas, é ainda mais pujante o compromisso ético deste profissional como antídoto contra a desinformação e a descredibilidade que acomete a imprensa em geral.

 

O que se vê, no entanto, é o enfraquecimento da prática e ética profissional, por fatores que coadunam com as dinâmicas perversas do mundo neoliberal. Entre estes tantos, lacunas na formação, sobretudo no que tange à promoção dos direitos humanos; precarização e sobrecarga de trabalho; desvalorização do profissional; plataformização da comunicação, com consequente instantaneidade da informação e da produção rotineira; prevalência de interesses privados/comerciais nas políticas editoriais dos veículos; violências contra jornalistas.

 

À luz de outras experiências, sem perder de vista as atuais transformações nos meios de comunicação, a Secom tem se firmado no dever de promover comunicação pública de qualidade para toda a comunidade, compromisso reforçado pela promoção de transparência, inclusão, equidade, participação social, responsabilidade institucional e prestação de serviço público.

 

Todos os dias, repórteres da Secretaria, com apoio de outros profissionais da comunicação, transformam histórias de pessoas e de iniciativas marcantes na Universidade em conteúdos ecoados nos produtos institucionais de comunicação. Em 2023, 558 matérias foram publicadas no portal da UnB e dezenas estamparam duas edições da revista Darcy.

 

Nestas, estão relatos emocionantes dos primeiros de suas famílias a ingressar no ensino superior; de quem estuda e faz o dia a dia da instituição, superando barreiras sociais; daqueles que produzem ciência de ponta, para benefício da sociedade, durante horas a fio em laboratórios, salas de aula e outros ambientes acadêmicos; de pessoas que transformam ideias em projetos pioneiros para melhoria da qualidade de vida da população; dos que se comprometem institucionalmente a promover educação de excelência e a democratizar o acesso à Universidade.

 

Estes conteúdos mostram como a UnB é um espaço pulsante, dialógico, plural, de importância na produção de conhecimentos que transformam a vida de muita gente.

 

Neste 16 de fevereiro, Dia do Repórter, que possamos celebrar o ofício do profissional que projeta histórias como estas, com compromisso coletivo, engajamento, criticidade e atenção à dignidade humana. Que possamos lutar pela valorização do jornalista e de sua relevância na construção de uma sociedade democrática!

 

 

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