OPINIÃO

Jaqueline Godoy Mesquita é professora do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília, presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (2023-2025).

Jaqueline Godoy Mesquita

 

Em 11 de fevereiro, celebramos o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, uma iniciativa da Unesco e ONU-Mulheres, instituída em dezembro de 2015. Este marco não apenas destaca a importância do papel das mulheres na sociedade, mas também impulsiona ações e iniciativas para ampliar a representatividade de gênero no campo científico.

 

Globalmente, a data é marcada por diversas atividades que visam promover a reflexão e o debate sobre a inclusão das mulheres na ciência. No ano passado, a terceira edição do tradicional evento da Universidade de Brasília, o Seminário Mulheres na Ciência da UnB, organizado pelo Departamento de Matemática, foi realizado de 8 a 10 de fevereiro de 2023, justamente devido a esta data comemorativa, e reuniu importantes lideranças, bem como estudiosas e pesquisadoras sobre questões de gênero com o intuito de discutir esta temática e suas interseccionalidades na academia.

 

Embora tenhamos testemunhado avanços notáveis na presença de mulheres nos cursos de graduação, a equidade de gênero ainda representa um desafio, especialmente nos cargos de destaque e de poder, em que decisões cruciais são tomadas. O fenômeno conhecido como "efeito tesoura" corta as mulheres à medida que elas avançam em suas carreiras, limitando o seu alcance às posições de destaque.

 

Além disso, a falta de acolhimento e de apoio dentro do ambiente acadêmico faz com que muitas mulheres desistam de suas carreiras, descontinuando sua inserção na área científica. Outro fator preocupante é o alto índice de assédios tanto moral quanto sexual sofridos pelas mulheres dentro do ambiente científico. Apesar disso, poucas são as medidas protetivas às vítimas, levando muitas mulheres a se silenciarem após sofrerem a violência, devido ao medo de sofrerem retaliação dentro de suas instituições. Portanto, se queremos mais representatividade de gênero dentro da academia, é necessário repensarmos este ambiente, tornando-o mais acolhedor para as mulheres, com medidas protetivas e de inclusão, para proporcionar-lhes sensação de pertencimento e não as desestimular a seguir adiante.

Nesta direção, a representatividade tem um papel crucial, apesar de estar muito aquém quando analisamos os altos postos. Basta observarmos ao nosso redor: a Academia Brasileira de Ciências teve sua primeira mulher presidente apenas em 2022, após mais de um século de existência. O CNPq, importante agência de fomento, nunca teve uma mulher em seu comando, e a primeira reitora da Universidade de Brasília assumiu o cargo apenas em 2016.

 

Esses fatos suscitam reflexões profundas sobre a necessidade urgente de avançar rapidamente na promoção da diversidade, uma vez que a falta de representatividade de gênero gera prejuízos substanciais para o avanço científico. Em um contexto de desafios globais, o desenvolvimento científico e tecnológico se torna crucial para o sucesso da humanidade, exigindo uma ciência mais inclusiva que abrace as mulheres, que constituem aproximadamente 50% da população.

 

Que esta data não apenas inspire celebrações, mas também renove o compromisso com a construção de um ambiente científico verdadeiramente diverso e inclusivo, não somente relacionado às questões de gênero, mas que inclua também toda a diversidade que nossa sociedade brasileira representa.

 

Nesta data importante, celebrar as conquistas e os direitos alcançados é essencial, mas é igualmente crucial refletir sobre os espaços ainda não conquistados e as ações necessárias para alcançar uma verdadeira equidade de gênero na ciência. A jornada rumo a um futuro mais igualitário exige esforços contínuos e a colaboração de toda a comunidade científica em prol deste objetivo.

 

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