OPINIÃO

Rafael Santos Santana é farmacêutico pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Doutor pela Universidade de Brasília, professor e orientador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UnB.

Rafael Santos Santana

 

Mesmo com uma farmácia em cada esquina, o Brasil, por incrível que pareça, possui um número pequeno de farmacêuticos. No ranking da OMS que compara o número de farmacêuticos por 10 mil habitantes o país ocupa a posição 84º atrás de Japão, EUA e de vizinhos como Argentina e Chile. 

 

Essencial para a saúde pública e o bem-estar da população a profissão farmacêutica é, entre outras funções, responsável pela pesquisa e produção de medicamentos, gestora de políticas de acesso e estabelecimentos farmacêuticos, e principalmente garantidora do uso adequado de tratamentos medicamentosos.

 

No entanto, a profissão farmacêutica ainda não é devidamente valorizada no Brasil. Com grandes jornadas de trabalho e ganhos médios salariais em torno de 2 ou 3 salários-mínimos, os cursos de graduação em farmácia se espalham pelo Brasil, mas com dificuldade de fechar turmas e com uma média de 43% de taxa de desistência acumulada, uma das maiores entre os cursos de saúde... ainda que não falte emprego para os graduados. 

 

Esse cenário de desvalorização tem consequências muito negativas para o país: 

 

1) Ampliação da dependência externa na pesquisa e produção de medicamentos: com menos farmacêuticos e pesquisadores da área da farmácia o Brasil tem se consolidado como mercado puramente receptor de tecnologias, diferente da Índia, por exemplo, que tem investido fortemente na área farmacêutica, dominando 60% da produção global de vacinas e possuindo o triplo de farmacêuticos per capta quando comparado ao Brasil. 

 

2) Gigantesco cenário de automedicação disseminada: pois engana-se quem pensa que a automedicação ocorre por conta da falta de médicos...na realidade é a falta de farmacêuticos clínicos treinados e disponíveis que faz com que 2 em cada 10 brasileiros estejam usando medicamento por conta própria nesse momento, segundo estimativas da maior pesquisa de acesso do país. 

 

3) Falta de acesso a tratamentos simples e sobrecarga dos serviços de saúde: diferente de países como o Reino Unido que acabou de lançar um grande programa de treinamento e financiamento de consultas farmacêuticas para problemas autolimitados com objetivo de desafogar o sistema de saúde, o Brasil desperdiça uma grande rede de quase 100 mil farmácias privadas e 200 mil farmacêuticos que poderiam trabalhar em parceria com o SUS.

 

4) Uso incorreto e problemas relacionados a medicamentos: com uma população cada vez mais idosa e com aumento de doenças crônicas – os países desenvolvidos têm investido em programas de farmácia clínica e revisão periódica da farmacoterapia por farmacêuticos, uma ação estratégica que evita intoxicações, reações adversas, falta de adesão, resistência bacteriana entre outros problemas atualmente responsáveis por cerca de 10% das internações hospitalares e por 1 erro de medicação para cada 30 pacientes internados.

 

Como pode ser visto e com perdão do trocadilho, “sem farmacêutico o país não tem remédio”, pois certos profissionais devem ser encarados como questão de segurança nacional! O farmacêutico Carlos Drummond de Andrade chegou a afirmar que o amor desse profissional está na ação de servir a qualquer hora e em qualquer lugar! E sendo verdade, valorizar e investir o farmacêutico é sem dúvidas, estratégico para o desenvolvimento social e bem-estar do povo brasileiro.

 

Feliz Dia do Farmacêutico, continuemos na luta, colegas!

 

 

 

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