OPINIÃO

Paula Teixeira de Paula é formada em Letras Português pela Universidade de Brasília. É servidora da UnB na Secretaria de Direitos Humanos.

Paula Teixeira de Paula 

 

A Magia é incontrolável, inexistente, irracional, fantasiosa, não quantificável, imprevista e imprevisível... não é verdade? E por ter todas essas características e outras semelhantes, a Magia e a Matemática seriam incompatíveis.

 

O Capitalismo vende histórias mágicas, com seus heróis e heroínas, monstros terríveis, mundos fantásticos, desafios quase impossíveis, em histórias isoladas ou séries (sagas) através de quadrinhos, romances, contos, filmes, peças de teatro, programas de TV, jogos, desenhos animados e outros formatos.

 

Talvez seja possível estimar o valor total da exploração capitalista da Magia, quantificá-la em bilhões ou mesmo em trilhões de dólares. (Há quem diga que o dinheiro funciona, de certo modo, magicamente, porque não teria um valor intrínseco, seria mais um valor de troca.) Mas, neste caso, a própria Magia continuaria essencialmente separada da Matemática.

 

Quem já experimentou um jogo como Diablo (I, II, III ou IV), da Blizzard, talvez tenha reparado como nesse tipo de jogo a Magia está intimamente entrelaçada com a Matemática e o Capitalismo. E é uma matemática muito precisa, detalhista, que estabelece os valores de todas as coisas e seres dentro e fora do jogo.

 

Na luta incansável contra as forças Demoníacas, heroínas e heróis precisam desenvolver seus poderes mágicos em níveis previamente definidos e previamente quantificados. A mesma lógica matemática é aplicada para os poderes mágicos dos monstros e demônios que devem ser exterminados. Energia mágica, força, destreza, vigor, etc, estão numericamente estabelecidos no jogo e equacionados.

 

Quase tudo aquilo que heróis e heroínas conquistam (armaduras, armas, anéis, pergaminhos, etc) tem valor de mercado pré-definido dentro do jogo ou ganha valor através de uma loteria mágica (probabilidade matemática) controlada por algoritmos. Uma parte pequena dos itens é inservível, imprestável, como lixo das batalhas, ou tem apenas valor de uso, como pergaminhos que trazem informações da história do jogo. E Diablo pode ser comprado ou pago por alguma assinatura mais cara ou mais econômica.

 

O nível de racionalização matemática em jogos como Diablo, um Role Playing Game (RPG) – jogo de interpretação de papéis, é tão radical que mesmo a vida de heroínas, heróis, monstros, anjos, demônios, possuem valores numéricos, que vão se alterando a medida em que jogamos. O valor de uma vida é incalculável no Capitalismo? Também a morte em Diablo pode custar um valor pré-definido ou ser “eterna” no modo que o jogo chama de Hardcore, como uma aposta do tipo tudo ou nada.

 

A Magia serve para entreter, divertir, sonhar, imaginar algo para além dos horizontes do possível, mas existe uma Magia racionalizada, quantificada, equacionada, capitalista, que está sendo usada para formar milhões de jovens do mundo inteiro, legiões de Guerreiros e Guerreiras na luta do Bem contra o Mal, em jogos cada vez mais sofisticados e interessantes.

 

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