OPINIÃO

Roberto Doglia Azambuja é médico dermatologista aposentado do Hospital Universitário de Brasília (HUB/UnB).

Roberto Doglia Azambuja

 

O tema câncer de pele necessita ser muito divulgado por ser este tipo de neoplasia, entre os todos os que afetam o ser humano – o mais fácil de ser diagnosticado, prevenido e curado precocemente.

 

Há fatores que influenciam o aparecimento de tumores malignos na pele. Entre eles, o mais discutido é a luz solar. É evidente que maior exposição à radiação UVA e UVB, em certos tipos de pele, quais sejam os tipos I e II, isto é, a pele branca total e a pele muito branca, tipos que possuem muito pouca melanina, são mais propensos a desenvolver proliferação maligna de células epidérmicas. Outras condições da pele podem exercer papel importante, como presença de muitos nevos displásicos, o xeroderma pigmentoso, o líquen plano de mucosas, o líquen escleroso genital, inflamação crônica, feridas. O hábito de fumar cigarros ou cachimbos é responsável por cancerização da semimucosa dos lábios e da mucosa oral. Infecções por vírus HPV podem exercer influência e fatores externos, radiação ionizante, exposição a alcatrão e arsênico e ainda imunossupressão.

 

Os três tipos mais comuns de câncer de pele são o carcinoma basocelular, o carcinoma espinocelular e o melanoma.

 

O câncer de pele mais comum é o carcinoma basocelular. É o mais fácil de curar e o que tem menor risco de metastatizar. Origina-se de células da camada inferior da epiderme. Seu crescimento é lento e tem cinco tipos: nodular, esclerodermiforme, mulicêntrico, fibroepitelioma e o ulcerado. Aparece após os 40 anos. Incide mais , frequentemente no rosto, principalmente no nariz, e no tronco. Seu tratamento preferencial é a excisão cirúrgica controlada microscopicamente (cirurgia micrográfica de Mohs). Outros métodos são a excisão simples, a radioterapia, a curetagem, a terapia fotodinâmica e a imunoterapia por 5-fluoruracil ou imiquimod. Nas terapias mais superficiais, há o risco de crescimento de resquícios do tumor na profundidade, o que exigirá novo tratamento pelo mesmo método ou por cirurgia. Com o tratamento adequado, o prognóstico é de cura total, sendo de notar, porém, que certas peles têm a tendência a formar outros tumores em outras áreas.

 

O segundo câncer mais comum é o carcinoma espinocelular. Origina-se das células espinhosas da epiderme e pode ser iniciado por formas clínicas pré-cancerosas, das quais as mais comuns são a ceratose actínica, a doença de Bowen (carcinoma intraepidérmico), a eritroplasia de Queyrat e a leucoplasia de mucosa. Incide preferencialmente nas áreas mais expostas à radiação ultravioleta, geralmente rosto, membros superiores e mãos e, por isso, os tipos de pele I e II são os mais vulneráveis. Outros fatores capazes de gerar um carcinoma espinocelular são infecção por papilomavírus humano, radiação ionizante, inflamação crônica ou feridas, queimaduras solares, exposição ao alcatrão, arsênico, tabaco e fuligem, cicatrizes de queimaduras, líquen escleroso genital, líquen erosivo de mucosa. A evolução depende da profundidade do tumor: com menos de 2mm de espessura não dá metástase, com mais de 6mm 20% podem dar metástase. Com adequado tratamento, a cura atinge 90%, embora os carcinomas de língua, vulva e pênis tenham prognóstico pior. Os métodos de tratamento vão desde a imunoterapia com imiquimod ou 5-fluoracil, à crioterapia, à excisão simples, à cirurgia controlada microscopicamente e a radioterapia.

O tumor de pele mais grave é o melanoma, originado dos melanócitos da epiderme, que pode dar metástases linfogênicas e hematogênicas. Entretanto, 95% dos tumores com espessura de menos de 0,75mm de espessura no momento da excisão não desenvolvem metástases. Há vários tipos deste tumor: lentigo maligno, melanoma acrolentiginoso, subungueal, nodular, amelanótico, extensivo superficial. São fatores de risco pele clara, cabelos ruivos ou louros, olhos claros, presença de mais de cinco nevos displásicos, história de melanoma na família. O melanoma pode ocorrer em qualquer área da pele, inclusive couro cabeludo e regiões plantares. A intervenção mais precoce possível é decisiva. Todo nevo melanocítico que, à dermatoscopia, mostre forma irregular e pigmentação variável, véu acinzentado, rede pigmentar irregular e proeminente e pontos pretos deve ser excisado preventivamente. Acentua-se a necessidade de intervenção nas lesões localizadas no couro cabeludo e nas regiões plantares. Com essa atitude, consegue-se evitar a enorme maioria dos melanomas, atingindo-se o que dizia o dermatopatologista americano A. Bernard Ackerman: ninguém deveria morrer de melanoma.

 

A vigilância constante por parte da pessoa e do médico são decisivas para evitar o desenvolvimento e as consequências dos cânceres de pele.

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