OPINIÃO

Flávia Nogueira de Sá é professora adjunta na Faculdade UnB Planaltina (FUP). É doutora em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas.

Flávia Nogueira de Sá


Para que a humanidade se conscientize e reflita sobre métodos sustentáveis de utilizar o meio ambiente e preservá-lo, foi criado o Dia da Natureza, comemorado hoje, dia 4 de outubro. A data foi escolhida em homenagem a São Francisco de Assis, frade reconhecido por sua paixão pela natureza, celebrado também neste dia. Mas afinal, por que isto é importante?

Se você mora no Brasil, provavelmente ainda não se esqueceu dos dias quentes que viveu recentemente. Na realidade, nosso país está concentrando um conjunto de tristes histórias relacionadas a desastres ambientais. Neste momento, em que as temperaturas no país estão atingindo recordes históricos, a região Sul enfrenta chuvas intensas causando mortes e a destruição de dezenas de cidades. A seca na Amazônia está afetando a disponibilidade de água, que está mais quente, com menos oxigênio, lamacenta, o que tem causado a morte de diferentes formas de vida que dependem dela.

A explicação para os desastres ambientais tem uma causa em comum: o El Niño e o aquecimento das águas do Pacífico e do Atlântico Tropical Norte. No entanto, esses fatores não aconteceram por acaso. As atividades antropogênicas, como a Revolução Industrial, o desmatamento, excesso de uso de combustíveis e o mau uso da água são as principais explicações para as mudanças climáticas.

Chuvas intensas, extremos de temperaturas, grandes incêndios, entre outros eventos climáticos catastróficos têm sido observados nos quatro cantos do planeta. Além da grande intensidade, o problema desses eventos é a frequência, que está cada vez maior. Isto desafia pessoas, flora e fauna, que não têm tempo para se adaptar.

Sim, adaptação é o problema que ameaça a presença de diversas espécies no planeta. Devemos lembrar que a distribuição da vida no planeta, em seus diversos ambientes, não é aleatória. Espécies evoluem, adaptando-se às diferentes condições ambientais e à presença de outras no local onde se encontram. Portanto, os processos pelos quais diferentes espécies tornam suas vidas possíveis em determinados ambientes, ou falham em existir em outros, são o reflexo do processo evolutivo pelo surgimento de adaptações. Devemos lembrar que este é um processo lento e que pode levar milhares de anos. E voltando às mudanças climáticas, que vêm se tornando cada vez mais intensas nos últimos anos, é possível imaginar que as espécies não terão tempo hábil para evoluir ao apresentar adaptações ao novo ambiente. E é isso que os cientistas têm comprovado recentemente. Sem tempo para se adaptar, observamos populações sendo extintas ou migrando para locais que hoje se assemelham mais àqueles onde surgiram e se adaptaram. E o resultado dessas ausências e movimentações é uma grande desordem pela falta de espécies que precisam uma das outras para interagirem, pelo surgimento de novas interações, o que só desequilibra as comunidades ecológicas.

Hoje, Dia da Natureza, é o dia de nos conscientizarmos sobre essas perdas e sobre o que elas representam para a humanidade e para o planeta. Uma comunidade ecológica equilibrada reflete um ecossistema saudável capaz de fornecer todos os serviços que esperamos e dependemos que estejam presentes. A todo momento, recebemos benefícios como a purificação da água e do ar, decomposição do lixo, mantendo os solos férteis e controlando de erosões, o fornecimento de alimentos pela polinização de flores e dispersão de sementes por animais, entre tantos outros. São muitos os serviços ecossistêmicos e, por isso, o comprometimento da sua provisão gera impactos não somente econômicos, mas também à saúde, bem-estar humano e funcionamento das sociedades.

Nós precisamos mitigar e nos adaptar aos efeitos das mudanças climáticas o mais rapidamente possível. Na semana passada, durante a Semana Universitária, aconteceu na FUP a 1ª Semana da Gestão Ambiental. Um evento bastante precioso que reuniu estudantes e profissionais mostrando que há caminhos para reduzir os efeitos desta crise climática que vivemos. Cabe a nós segui-los.

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