OPINIÃO

Adriana Pereira Ibaldo é professora do Instituto de Física. Fundadora e líder do grupo Fundamentos, Divulgação Científica e Estudos de Gênero e idealizadora e coordenadora do projeto Atraindo meninas e jovens mulheres do DF para a carreira em física.  Pioneira, na UnB e no país, em estabelecer gênero como linha de pesquisa com financiamento na área de Ciências Exatas. Coordena o Pint of Science Brasília.

Adriana Pereira Ibaldo

 

Onze de fevereiro foi instituído pela Assembleia das Nações Unidas como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Desde 2015, a data é celebrada ao redor do mundo, parte dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Mas por que é necessário existir uma data para lembrar da e promover a existência de mulheres e meninas na ciência?


Apesar de estarmos em pleno século XXI, o machismo e a misoginia ainda são elementos estruturantes nas sociedades contemporâneas, e o mundo está longe de alcançar a tão almejada equidade de gênero no mercado de trabalho – incluindo o mundo científico. Os números mostram uma realidade excludente para elas: dados da ONU e Unesco mostram que apenas 30% do total de cientistas no mundo são mulheres. Se o resultado por analisado fazendo um recorte de área – Exatas, Humanidades, Saúde e Tecnológicas – a situação ainda é mais crítica nas Exatas e Tecnológicas, onde elas representam menos de 20% do total.


As meninas e mulheres ainda enfrentam exclusões e entraves de toda sorte desde a fase escolar e que se estendem à vida profissional. A maneira como meninas e mulheres são socializadas – para serem tudo, menos o que quiserem – é um dos componentes que garante a manutenção da divisão sexual do trabalho na vida adulta. Ao longo da construção das identidades, meninas e mulheres se deparam tanto com a não intersecção do ser mulher com o ser cientista, como com a falta de referências femininas na ciência. Na física, fazendo um trocadilho pertinente, o físico modelo-padrão é a expressão de uma masculinidade excludente: homem, branco, classe média/média alta e supostamente heterossexual – modelo válido para todas as áreas do conhecimento. Onde não há representatividade não há intersecção identitária, e assim inúmeras meninas nem sequer chegam a cogitar serem cientistas, ainda que tenham talento para tanto. Finalmente, ao longo da construção e estabelecimento de uma carreira científica, as mulheres se deparam com a falta de condições de trabalho e reconhecimento, com roubos de autoria, assédios, com o conflito exclusivamente feminino entre carreira versus família, entre outros entraves e falta de perspectivas de sucesso, o que evidencia que a ciência é um espaço social construído e mantido para não comportar a presença e os talentos femininos.


Uma ciência diversa é a chave para uma ciência criativa, inovadora e vanguardista, pois diferentes origens, formações e experiências permitem que cientistas possam reunir os elementos necessários e traduzi-los em insights e descobertas científicas. Como sempre digo, talento não escolhe gênero, raça, classe social, orientação sexual, características físicas nem lugar para nascer – e é exatamente por tudo isso que talentos femininos para a ciência devem ser incentivados e ter todas as condições de realizarem seu potencial.


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