OPINIÃO

Rhaisa Pael é doutora em Educação pela UnB. Pesquisadora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UnB e professora do Núcleo de Educação a Distância do Centro Universitário de Brasília.

Rhaisa Pael

 

A criança vista como cidadã e centro do planejamento pedagógico são princípios norteadores da Educação Infantil (EI) no Brasil e na Noruega. Os dois países ainda encaram o espaço institucional como um terceiro educador, e enfatizam o brincar como uma atividade genuína e de extrema importância para o desenvolvimento infantil. Outra semelhança entre as duas nações é que a EI tem cunho educativo e é ofertada às crianças de 0 a 5 anos de idade. Porém, existem também diferenças, uma delas é que no Brasil, o atendimento oferecido na rede pública a esta etapa é totalmente gratuito, enquanto no país nórdico, as instituições municipais cobram uma mensalidade dos responsáveis. Outra diferença está na formação superior específica que os educadores que atuam nesta etapa recebem por lá, em oposição a formação generalista que temos por aqui, em que o pedagogo pode atuar com crianças do berçário ao 5º ano do ensino fundamental. 

 

Estas semelhanças e diferenças são impressões breves, decorrentes de uma visita técnica realizada à Noruega entre 01 e 29 de dezembro de 2022, com o objetivo de aprender e conhecer mais sobre a educação das crianças pequenas, e da formação de seus professores. Minha viagem aconteceu a convite de Marianne Undheim, professora doutora associada do Departamento de Educação Infantil (IBU), da The University of Stavanger (UiS). Além da UiS, também conheci a The Arctic University of Norway (UiT), em Narvik e três instituições de EI. Na UiS, fiquei acomodada no IBU, que conta com 60 professores especialistas em diversas áreas do conhecimento e atuam nos cursos de graduação, mestrado e doutorado direcionados à EI. 

 

Na vivência dos campi e conversas com os professores do curso de graduação da UiS e UiT, entendi que a formação inicial dos professores carrega valores centrais como o respeito, a criatividade, o diálogo, a curiosidade, a igualdade de gênero e entre todas as pessoas. O que traz qualidade para a formação do professor e, consequentemente, para sua atuação profissional junto às crianças futuramente. 

 

No encontro com as instituições de EI, observei na prática os princípios orientadores e os valores centrais das instituições de EI norueguesas, como o direito das crianças de participarem em decisões em seu cotidiano, de explorarem a natureza em uma perspectiva de responsabilidade e desenvolvimento sustentável, dentre outros. Ao mesmo tempo em que percebi que as crianças têm acesso a um ambiente seguro e de boa qualidade, com profissionais qualificados para promover momentos de brincar, de aprendizagem e de desenvolvimento.  

 

Enquanto egressa do Programa de Pós-Graduação em Educação, na linha de Pesquisa de Estudos Comparados em Educação, e atualmente pesquisadora colaboradora do mesmo programa, lancei-me em uma viagem de exploração e descoberta do mundo nórdico. Essa ideia não é original, o campo educacional tem se proposto a jornadas assim pelo mundo afora em busca de respostas para o aperfeiçoamento de seus sistemas e a compreensão da relação entre educação e sociedade há séculos. Marc-Antoine Jullien utilizou pela primeira vez o termo “educação comparada” no título de sua publicação, em 1817. Jullien apontou que as pesquisas sobre educação comparada deveriam oferecer novos meios para aprimorar a ciência da educação (FERREIRA, 2008). Desde então, a Educação Comparada tem se consolidado e se renovado como uma abordagem confiável capaz de fomentar o intercâmbio de ideias e promover a complexa tarefa de compreender o outro, sua cultura e história. 

 

A visita à Noruega, a partir de uma perspectiva de comparação, descortinou possibilidades e especificidades que a EI tem, e contribuiu para o estabelecimento de uma rede colaborativa entre pesquisadores dos dois países, visando discutir qualidade, currículo, práticas pedagógicas e formação de professores da Educação Infantil. Assim, fomenta-se também a meta de internacionalização da Universidade de Brasília e expandimos nossas referências. 

 

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