OPINIÃO

 

 

Sheila Tavares Nascimento é professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Doutora em Zootecnia pela Unesp. Coordenadora do Grupo de Inovação em Biometeorologia e Bem-Estar Animal da UEM.

 

 

Bruno Emanoel Teixeira é graduando em Agronomia pela UnB. Membro do Grupo de Inovação em Biometeorologia e Bem-estar Animal da UEM.

Sheila Nascimento e Bruno Teixeira

 

O Cerrado, bioma de savana mais rico em biodiversidade do mundo, perdeu parte do seu espaço e tem sido ameaçado pela expansão da atividade agropecuária no país. Mas será possível os sistemas de produção integrarem o Cerrado?
 
Alternativas e soluções para incrementar a sustentabilidade e mitigar os efeitos das mudanças climáticas, como o aquecimento global sobre a produção agropecuária, nos remetem a um alto nível de tecnologia implementada. No entanto, a estratégia pode estar no próprio bioma que compõe ou compôs um dia as áreas agricultáveis ou de pastagens do país.


Um dos componentes primordiais e mais característicos da savana brasileira são suas árvores com troncos de casca grossa e contorcidos, evoluídas para sustentar um longo período de seca e a resistir a queimadas.


A agropecuária no Brasil é sem dúvidas um dos participantes mais fundamentais à economia do país. A maior proporção de animais de produção é manejada em ambientes a pasto, sua maioria sem nenhuma espécie arbórea para a proteção às condições ambientais, principalmente à radiação solar, que nas condições tropicais afetam severamente a saúde, o bem-estar e consequentemente a produtividade dos animais.


Deve-se salientar que os consumidores tornam-se cada vez mais exigentes por condições de bem-estar animal e ao atendimento da sustentabilidade na produção dos alimentos. Diante destes pontos relacionados à conservação da biodiversidade, o grupo BioCer - A Biometeorologia aplicada ao Cerrado Brasileiro da Universidade de Brasília dedicou-se a estudar as árvores nativas do Cerrado como potenciais fontes de sombreamento natural aos animais de produção em sistemas silvipastoris, agroflorestais e de integração lavoura-pecuária-floresta, além de buscar compreender o impacto destas espécies como sequestradoras de dióxido de carbono.


Desta indagação e experimentação científica realizada na Unidade Demonstrativa de Criação de Suínos ao Ar Livre da Fazenda Água Limpa, originou-se o artigo científico: The potential of natural shade provided by Brazilian savanna trees for thermal comfort and carbon sink, publicado no periódico Science of The Total Environment. Além disso, vale destacar que o trabalho foi fruto de um projeto de iniciação científica (Pibic) e já teve repercussão internacional, por ter seus autores convidados a participar de uma reunião com pesquisadores da África do Sul.


A partir do trabalho, foi possível verificar a capacidade que as árvores nativas do Cerrado possuem em prover conforto térmico aos animais de produção sob os ambientes tropicais, além de suas espécies terem eficiente potencial em sequestrar carbono atmosférico. Um dos maiores destaques refere-se à árvore do Pequi (Caryocar brasiliense), que demonstrou proporcionar um microclima sombreado essencial para o conforto e bem-estar dos animais, por uma significativa redução nas temperaturas do ar e do solo, bem como a importância de possuir uma biodiversidade nos sistemas de produção, uma vez que em estações como o inverno, algumas espécies perdem suas folhas.


Portanto, os sistemas de produção agropecuária, podem sim integrar o bioma Cerrado. Um bioma que possui as ferramentas práticas e essenciais no incremento de sustentabilidade e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

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