OPINIÃO

Pio Penna Filho é professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. Graduado em História, pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), mestre em História e doutor em História das Relações Internacionais, ambos pela UnB. Atua nas áreas de História, Relações Internacionais e Segurança Internacional, nos temas: em América Latina e África. 

Pio Penna Filho

 

No último século a sociedade de consumo aumentou de forma espetacular a produção de lixo. Basta verificar, em casa, quanto lixo produzimos diariamente.

 

Se uma única residência é capaz de produzir tanto lixo, imagine um país. Residências, indústrias das mais variadas, hospitais, grandes empresas, comércio, bares, restaurantes e por aí afora vai. E, claro, é preciso dar um fim a todo esse lixo produzido cotidianamente.

 

A produção de lixo se transformou num problema global.

 

Na verdade, nem tanto a produção, mas o destino dado aos detritos produzidos por uma sociedade de consumo que não prevê limites.

 

Os processos de reciclagem não conseguiram até hoje acompanhar a velocidade e quantidade da fabricação do que um dia foi produto de consumo.

 

Os mais ricos quase sempre produzem mais lixo. Isso vale tanto para indivíduos quanto para Estados. No caso destes últimos, o problema é ainda maior. Estados têm que dar conta da limpeza dos seus territórios, seja das cidades menores, médias ou grandes. O desleixo com resíduos que não servem mais pode causar sérias implicações sanitárias. Isso é histórico.

 

O que fazemos com a enorme quantidade de lixo produzido?

 

Uma ínfima parte é reciclada, outro tanto vai parar em lixões e outro tanto ainda vira produto de exportação para depois ir parar em outros lixões. Pois é, o lixo virou um produto de exportação!

 

Mas quem exporta esse tipo de produto? Certamente, não são os países pobres. Os ricos dão um jeitinho em tudo. Ou pelo menos tentam dar.

 

No caso do lixo, muito é exportado do Norte para o Sul, ou seja, dos países ricos para os países pobres. Os ricos têm dificuldade em dar um destino correto para os resíduos que sobram do que produzem, seja pelo volume, seja pelo alto custo em processar e reciclar essa sobra. Os pobres aceitam tudo, sobretudo suas elites, que viram e veem nesse processo uma possibilidade de lucro, sem se importar com as suas danosas consequências.

 

O resultado disso tudo é que muitos países pobres (também chamados de países 'em desenvolvimento'), recebem o que há de mais tóxico e nocivo do lixo dos ricos. Resíduos hospitalares (com alta taxa de contaminação), produtos resultantes da chamada 'obsolescência programada' (que contam com metais pesados e altamente contaminantes, como mercúrio, chumbo e cádmio, entre outros), vão parar na periferia dos países mais pobres, afetando diretamente a saúde dos seus cidadãos mais necessitados.

 

Até o Brasil, que possui uma estrutura relativamente organizada e operacional de fiscalização, vira e mexe recebe o lixo dos mais ricos, via de regra importado por empresas irresponsáveis e que nunca, ou quase nunca, são devidamente punidas.

 

A poluição da terra e dos mares já é algo mais do que provado. Lixões proliferam nas periferias dos países pobres e os Oceanos viraram lugar de despejo de objetos que comprometem muito a vida marítima. A questão do lixo e sua destinação não é apenas um problema municipal, estadual ou nacional. O problema é mundial. Portanto, demanda soluções globais.

 

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Publicado originalmente em A Gazeta em 19/11/21

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