OPINIÃO

Rafael Litvin Villas Bôas graduado em Jornalismo, mestre em Comunicação Social e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília. Possui pós-doutorado pelo PPG em Artes Cênicas da USP. É professor da Licenciatura em Educação do Campo da Faculdade UnB Planaltina, do Mestrado Profissional em Artes (Profartes pólo UnB) e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPG-CÊN). Coordena o grupo de pesquisa Terra em Cena: teatro, audiovisual e educação do campo. 

Rafael Villas Bôas

 

Entre os dias 18 e 22 de outubro, a UnBTV organizou em parceria com a Faculdade de Comunicação da UnB, sob a coordenação das professoras Erika Bauer e Dácia Ibiapina, a quarta edição do Festival de Cinema Universitário de Brasília. Suspenso desde 2019, data da terceira edição, avaliamos que existia uma demanda represada de filmes produzidos no período da pandemia da covid-19, entre 2020 e 2021. Não estávamos errados: em menos de um mês de inscrições abertas, recebemos 153 filmes de todo o Brasil, e selecionamos 20.


Um aspecto que chama atenção é a dissonância dos temas, das abordagens, dos recursos técnicos empregados, com os padrões consolidados da estética televisiva e cinematográfica que circula nas televisões brasileiras. O ponto de vista de quem narra posiciona o cinema universitário ao lado dos despossuídos, dos explorados e, com isso, outra gramática, outra fotografia, outras sonoridades e... silêncios, outra estética aflora nas telas, e co-move sem apelar à dramaticidade do melodrama. Temas como o racismo, o combate à homofobia, a crítica ao patriarcado assumem o primeiro plano e, com eles, conhecemos protagonistas que resistem ao estado natural das relações de poder desiguais que regem a estrutura social de nosso país. Os estudantes universitários empenham-se em representar um país que, a despeito de ser real, não costuma comparecer nas telas da TV brasileira e dos cinemas de shopping.


A geração universitária que produziu os filmes dos quatro festivais de cinema universitário de Brasília é a geração da democratização da universidade brasileira, transformada pela adoção de ações afirmativas como as cotas para afrodescendentes, para indígenas, quilombolas e para egressos de escolas públicas. Como diz a carta do júri do IV Festuni, os filmes abordam questões emergentes de nossa sociedade em conexão com problemas estruturais que não superamos, enquanto nação. A nova geração do cinema universitário brasileiro produz não apenas nos centros urbanos, mas também no interior do país, porque se beneficiou do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) , responsável pela construção de novas universidades ou novos campi, e pela ampliação de cursos e vagas. A universidade pública brasileira é, portanto, também responsável pela descentralização da capacidade produtiva de bens simbólicos, e pela socialização dos meios de produção da linguagem cinematográfica e audiovisual.

 

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