OPINIÃO

 

Alberto Luís Araújo Silva Filho é graduado em Ciência Política pela UFPI; mestre em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB); doutorando em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), vinculado à linha de pesquisas Feminismo, Relações de Gênero e Raça. 

 

 

 

Gabrielle Andrade da Silva é graduada em Direito pela Unifan; mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG); doutoranda em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB). É também a idealizadora do Projeto Bertha de combate a violência de gênero.

Alberto Luís A. Silva Filho e Gabrielle Andrade da Silva

 

No dia 12 de Setembro de 2021 nos deixou uma das maiores especialistas nas questões feministas e de gênero do país: Lourdes Bandeira, professora titular da Universidade de Brasília. Uma das definições possíveis que emergem no horizonte ao discorrermos sobre a sua figura seria a de uma mulher à frente do seu tempo. Mas melhor do que isso, preferimos nomeá-la como aquela que estava plenamente inserida e atenta às questões que agitavam as conjunturas das quais fazia parte. Como estudante nos anos da ditadura militar, enquanto professora no departamento de Ciências Sociais da UFPB e a partir da década de 1990 na função de docente da UnB, Lourdes jamais abandonou a interlocução entre os campos acadêmico e político, sempre reivindicando pelos direitos das mulheres, em um clamor tão necessário em um Brasil cravado pelas desigualdades de gênero. Sua atuação enquanto intelectual pública feminista a levou a alçar voos importantes na sua trajetória e no avanço do diálogo entre o Estado e a sociedade civil.


À frente da Secretaria de Políticas para as Mulheres, na lendária parceria com a ministra Eleonora Menicucci, atuou ativamente na formulação de políticas de combate às violências contra as mulheres. Sua experiência institucional entrou no espaço da sala de aula. Como alunos do último curso ministrado pela professora Lourdes Bandeira na pós-graduação em 2019, pudemos observar a relação entre ensinamento e prática feministas a partir das narrativas trazidas com o decorrer da disciplina, fato que enriqueceu profundamente a nossa experiência das abordagens de gênero. Em sala, ela demonstrava o seu domínio das teorias feministas e da metodologia científica. Entretanto, o que mais a diferenciava como a grande mulher que foi era a sua bravura.


Sua coragem ia além da atuação em prol dos direitos femininos, pois jamais hesitou em nos demonstrar suas vulnerabilidades; tampouco se esquivou de pedir perdão quando foi necessário. Lourdes foi uma mulher inspiradora para várias gerações, sempre conectada à novas tendências e firme o suficiente para se posicionar onde quer que fosse. Depois daquele semestre aprendendo com ela, lhe agradecemos pela oportunidade das risadas compartilhadas, das broncas necessárias e da experiência que nos proporcionou, nos ensinando o verdadeiro significado da pesquisa acadêmica para além dos muros da universidade.

 

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