OPINIÃO

Remi Castioni é professor-pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação na modalidade acadêmica e profissional da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade de Caxias do Sul, doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. É membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Educação Comparada (SBEC). Atua nos temas: educação, qualificação profissional, políticas de educação, sistema nacional de emprego, desenvolvimento regional, federalismo, certificação profissional e ensino médio.

Remi Castioni

 

O Distrito Federal deu início nesta semana à formação dos professores que vão atuar nas 88 escolas da rede pública a partir do ano que vem, oferecendo aos quase 90 mil alunos o novo ensino médio, fruto da reforma ocorrida com a Lei n. 13.415/2017. A polêmica Lei aproximou ao que já se praticava em termos organizativos as quatro áreas do Enem, desde 1998, incluindo mais uma, a formação técnica e profissional. Todos os cinco itinerários serão oferecidos em todas as 88 escolas do Distrito Federal.


Em menor ou maior grau, mudanças importantes estão ocorrendo nos sistemas de educação sob a égide da indústria 4.0. Guardadas algumas particularidades, os países particularmente no âmbito da OCDE firmaram como possibilidade um ensino médio vocacional, com opções de ascender ao ensino superior tanto a partir de escolhas vocacionadas já no ensino médio como de possibilidades de migrar para opções mais acadêmicas, submetendo-se a exames nos mais distintos países, como o GaoKao chinês.


Com certo atraso em relação aos países da União Europeia, os países latino-americanos vêm afirmando esta opção também. Com a definição de uma Base Curricular Comum, os alunos podem optar por alguma focalização na etapa final do ensino médio. Isso, de certa forma, permite organizar melhor as ofertas formativas e permite conectar com as distintas realidades do “mundo real”, inclusive para o prosseguimento de estudos. Os principais sistemas de educação dos países da OCDE têm uma organização que divide a parte final da educação básica em duas etapas: um secundário inferior, equivalente aos nossos anos finais do ensino fundamental, e um secundário superior, o nosso ensino médio. Neste, há percursos formativos que, em geral, se dividem numa primeira parte mais acadêmica e numa segunda mais vocacionada, igual ao que vem sendo buscado agora com os cinco itinerários do novo ensino médio.


Uma tendência que se observa nos diversos países é a tentativa de reproduzir o sistema dual alemão/suíço/austríaco, combinando períodos de formação na escola com vivência prática em projetos de inserção. O DF está chamando isso de Projetos de Vida.


Esta reconversão tem por base a Apprenticeship Model (Modelo de Aprendizagem). A aprendizagem foca no intercâmbio de práticas e saberes das escolas, em sintonia com espaços de aprendizagem e a existência de preceptores que acompanham o desenvolvimento dos aprendizes.


Além disso, um conjunto de inovações pedagógicas que visa dar maior autonomia ao aluno passa a ser adotado, ao tempo também que as formações rompem os aspectos disciplinares da curricularização e passam a ser mais integradas, combinando a formação para além da sala de aula e notadamente baseada em projetos. Há uma preocupação em formar um trabalhador com amplas habilidades, independentemente do setor em que venha atuar. O desenvolvimento dos aspectos socioemocionais está muito presente em todos os países que estão empreendendo mudanças.


A pandemia de covid-19 trouxe mudanças substantivas na educação. A migração das atividades presenciais para o ensino remoto emergencial impôs novos desafios à oferta educacional.


As universidades estão muito atrasadas neste debate. Já estamos recebendo alunos, e serão em maior volume em 2023, que já fizeram suas escolhas muito antes de concluírem o ensino médio. Quando a universidade vai se conectar com a educação básica? Fica a pergunta.

 

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