OPINIÃO

 

Hilan Bensusan é graduado em Filosofia pela Universidade de Brasília, mestrado pela Universidade de São Paulo e doutorado pela Universidade de Sussex. Atualmente é professor do Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília.

 


Muna Muhammad Odeh é graduada em Biologia pela Universidade Americana-Washington DC, mestre em Estudos Econômicos e Sociais com foco em Sociologia da Saúde, Universidade de  Manchester-Reino Unido, doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos-SP, pós-doutorado, USP-EESC. É professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília.

Hilan Bensusan e Muna Muhammad Odeh

 

Os fantasmas do século XX assolaram muitos acontecimentos nos últimos anos. Os fantasmas, que dizem que assombram como farsa, aparecem torcidos, recombinados e as vezes disfarçados.

 

No Brasil um governo de direita combina a clareza de seus propósitos declarados publicamente com a disfarçatez de não assumir diante de um público amplo suas ações para alcançá-los. Como diversos governos dos anos 1930 na Europa e na América do Sul, o governo cria uma cortina de fumaça que permite levar a cabo seus objetivos explícitos mas inconfessáveis. Os Estados não praticam violências apenas por ação e co-ação, mas também por complacência seletiva. Aquilo que era marcante nos governos de muitas partes do mundo 80 ou 90 anos atrás, pode ser entendido como um experimento de gerência sorrateira que passou a figurar em todos os manuais acerca de como governar diante da opinião pública. Assim no Brasil, e assim na Palestina. E a presença de bandeiras israelenses nas marchas de apoio ao atual governo revelam a torção, a recombinação e o disfarce do ressurgimento de práticas do século passado.

 

Na quinta-feira 22 de abril, em Jerusalém, uma marcha de supremacistas judeus com a presença de membros conhecidos do Otzma Yehudit (Poder Judeu) foi considerada por grupos de observadores assustados como um pógrom. Na oportunidade, não apenas os supremacistas agrediram vários palestinos, mas a polícia israelense mostrou sua seletividade e terminou por ferir gravemente palestinos em torno da porta de Damasco. Dar o nome de pógrom revela aquilo que muitos já perceberam: os palestinos na Palestina são os novos judeus da Europa do início do século XX. Nessa semana, antes da marcha, um enorme número de parlamentares assinaram uma carta de protesto às pressões americanas pelos direitos humanos dos palestinos. O governo instituído não quer considerar as palestinas e os palestinos como cidadãos, trabalha implícita e explicitamente para conferir a essas pessoas um estatuto de subalternos.

 

A Lei aprovada em 2018 no parlamento israelense com o nome Estado-Nação do povo judeu, reserva o direito à autodeterminação a este coletivo e estabelece o hebraico como única língua oficial. Embora na prática os preceitos desta lei já vinham vigorando desde a autoproclamação/criação do estado de Israel em 1948 com base na destruição e a limpeza étnica (Ilan Pappe) de mais de 400 vilarejos palestinos e sua população de 700 mil expulsos por força militar e através de crimes de guerra como o massacre de Deir Yassin. O que se institui a partir da criação de Israel é uma etnocracia, um estado de supremacia judia do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo como apontam os relatórios de 2021 da ONG israelense B´Tselem e do Human Rights Watch. Muito antes, remetendo ao ano 1965, o escritor palestino Fayez Sayegh descreveu Israel como estado de Apartheid.

 

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