OPINIÃO

Pedro Demo é PhD em Sociologia, Alemanha, 1971; fez pós-doutorado na Universidade da Califórnia (UCLA - Los Angeles). É professor titular aposentado e emérito da UnB (Sociologia) e professor do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da UnB. Possui mais de cem livros publicados. 

Pedro Demo

 

Como quis Darcy Ribeiro, a UnB conseguiu consolidar-se com uma entre as mais importantes universidades públicas do país. Assim é vista pelos candidatos que lutam para nela entrar, em parte pelo corpo docente que tem e pelo que oferece, em parte pela história peculiar. Já foi violentada, sofreu intervenção, mas guarda isso como troféu do bom combate. Saiu da refrega como símbolo maior da relevância da educação pública gratuita de alta qualidade, para que não se retire da memória que a qualificação da democracia e da república passa, em especial, pela educação questionadora, exigente, inclusiva. Tornou-se também símbolo incisivo da defesa da autonomia da universidade, porque conhecimento científico, uma das autorias mais significativas dos humanos, exige liberdade de expressão.

 

Por localizar-se em Brasília, capital do país, a UnB é visada pelos governos, ora elogiada, ora questionada, por vezes maltratada. Quem a critica, porém, gostaria de nela estudar. Também teve seus tropeços, com ex-reitores envolvidos em processos criminais. Mas nada disso contaminou sua proposta de excelência em educação e conhecimento, mantendo-se entre as melhores do país.


Destacou-se recentemente pelo modo como enfrentou a pandemia, tanto no âmbito da saúde pública, como no plano didático, buscando caminhos alternativos para manter seu calendário. Sempre admitiu a modalidade que uma vez chamávamos “a distância”, e hoje entende que as novas tecnologias digitais vieram para ficar e são parte do ensino e da aprendizagem. Não pode haver curso exclusivamente a distância, porque formação é um fenômeno que pede contato pessoal físico. Mas nenhum curso futuro será apenas “presencial” ou “remoto” – será híbrido, dominando a presença virtual (virtual como um tipo de presença, que nunca substitui a física e vice-versa). O que importa no curso é a aprendizagem do estudante, e esta pode ocorrer com qualquer tipo de presença, sendo necessária a presença do professor, não mais como transmissor de conteúdo, mas como cuidador da autoria do estudante.


Entre suas criatividades, a UnB abriu um espaço para pós-graduações stricto sensu interdisciplinares, como do Ceam (onde tenho a honra de participar do Programa dos Direitos Humanos, como professor voluntário, já que estou aposentado). É o futuro da pós, também da graduação, porque, cada vez mais, a formação do estudante será pautada pela participação deste, montando sua trajetória interdisciplinarmente, também para encarar mais eficientemente as variações do mercado de trabalho.

 

Ao mesmo tempo, esta inovação aponta para a necessidade de renovar a graduação: os alunos precisam tornar-se autores, cientistas, pesquisadores, não meros usuários de conhecimento que não sabem produzir. Isto é particularmente importante na formação dos professores básicos, que não serão mais profissionais do ensino, mas da aprendizagem. Quando um aluno faz o PIBIC vive esta experiência, em geral considerada necessária, indicando que o melhor jeito de aproveitar a graduação é como pesquisador.


A UnB faz parte superlativa da qualidade de vida oferecida por Brasília. É um dos orgulhos da cidade. Ilumina e esclarece sua sociedade.

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