OPINIÃO

Bruno Lara é jornalista e pesquisador. É doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio Janeiro e tem pós-doutorado na mesma área pela UnB.

Bruno Lara

 

Talvez seja o momento de os/as cientistas pensarem em largar os jalecos e experimentarem mais ternos e gravatas. Não para abandonar a profissão, mas sim para usar outras estratégias de defesa da C,T,I&E, sigla para o que eu chamo de Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação. Ao que parece, não basta estar na esfera pública, às vezes é preciso ser um agente público na política institucional e eleitoral. Por que não cientistas e outros profissionais da academia se lançarem a cargos de vereador, prefeito, deputado estadual e federal, senador, governador e até presidente?

 

Está mais do que provado que ciência não se faz só com instrumentos técnicos de pesquisa, mas também com gente, diálogo, comunicação, relacionamento e dinheiro (sempre insiro de propósito o termo “gente” na frente). Sem articulação política, a ciência patina. Do jeito que está, a representação da ciência na política por agentes não acadêmicos não tem surtido os efeitos esperados. Os cortes na ciência são volumosos e preocupantes há anos, e não há perspectiva de recomposição. Muitas vezes, cientistas sequer ocupam a titularidade do Ministério da Ciência e Tecnologia e nem das secretarias municipais e estaduais de C&T (o que não quer dizer que, necessariamente, as pastas sejam mal geridas).

 

A pandemia trouxe uma projeção ampla para as atividades científicas. Pesquisadores habilidosos, também, do ponto de vista do diálogo e das linguagens midiáticas têm ocupado diariamente com maestria espaços da chamada mídia de massa, além das redes sociais. É uma tarefa fundamental e que deve receber ainda mais investimento, inclusive depois da pandemia. Porém, não é o suficiente. Cientistas e outros profissionais da academia devem estar nos laboratórios, no Instagram, na grande imprensa e, também, na Câmara e no Senado, entre outros espaços de atuação e representação políticas. Devem tanto participar das discussões quanto das tomadas de decisão, devem buscar ter a bendita caneta entre os dedos.

 

O nome “cientista” poderia ser melhor trabalhado. Não é um termo que tem prestígio? Pois bem, que a divulgação científica e o marketing científico trabalhem esse valor. Muitos candidatos utilizam os seus cargos e funções para se eleger, como “vote no cabo fulano”, “vote no coronel cicrano”, “vote no professor beltrano”. Por que não, por exemplo, “vote no cientista X”?

 

Reitores de universidades públicas e representantes de outras instituições acadêmicas ou dedicadas a assuntos acadêmicos costumam ter alguma projeção social, ainda que regional, bons contatos políticos e alguma facilidade de acesso à imprensa. São personalidades com capital político e potencial de força eleitoral. Não seria exógeno refletirem individual e coletivamente sobre essa possibilidade. 

 

Clique aqui para ler o texto na íntegra.

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.