OPINIÃO

Manoel Pereira de Andrade é professor associado da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (UnB), Autor do livro Amazônia: história, economia e território. Recebeu o Prêmio Chico Mendes de Florestania 2014. Coordenador do Núcleo de Estudos Amazônicos (NEAz/CEAM/UnB).

 

 

 

Manoel Pereira de Andrade

 

A morte anunciada de Chico Mendes chocou o mundo no dia 22 de dezembro de 1988, um ano após ganhar o Prêmio Global 500 que a ONU proporciona aos defensores do meio ambiente.


Chico Mendes nasceu no Seringal Porto Rico, município de Xapuri, no Acre no dia 15 de dezembro de 1944. Aprendeu com o pai, aos 9 anos, a profissão de seringueiro e aos 15 já havia se estabelecido por conta própria numa colocação de seringa, lugar de moradia e trabalho das famílias produtoras de borracha da Amazônia.


Alfabetizado aos 19 anos pelo vizinho Euclides Távora, que havia participado da Coluna Prestes, Chico Mendes conseguiu compreender com mais propriedade a situação em que viviam as famílias dos seringueiros. Indignado com as condições de vida dos moradores e moradoras da região amazônica, Chico Mendes empenhou-se na organização, resistência e defesa do território e dos povos da floresta.


Em 1975 o movimento sindical no Acre ganha força com a criação do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Brasiléia, onde Chico Mendes foi seu primeiro Secretário-Geral e Wilson Pinheiro seu presidente, assassinado em 1980. Em 1977 participa da criação do STTR de Xapuri e 1983 é eleito seu presidente. Neste processo, ajudou a construir um dos principais instrumentos de resistência e ação de combate ao desmatamento e defesa da floresta e suas gentes, um movimento conhecido como empate. Foi decisivo na implantação do Projeto Seringueiro, uma proposta de educação popular, enraizada nos seringais e embasada na pedagogia de Paulo Freire.


Como presidente do STTR de Xapuri, Chico Mendes convocou, em 1985, o I Encontro Nacional dos Seringueiros da Amazônia, resultado das lutas contra a violência e expulsão das famílias de seringueiros de suas terras e pela defesa da floresta amazônica em pé. O I Encontro foi realizado na UnB e contou com 130 seringueiros da Amazônia. Nele foram definidas propostas de fortalecimento da categoria dos seringueiros, de melhoria de suas condições de trabalho e renda e de acesso à educação e saúde. Outros resultados do I Encontro foram a criação do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e a proposta de articulação junto a lideranças de povos indígenas em torno de interesses comuns de defesa dos povos da floresta e do ambiente.


A formulação do conceito e institucionalização da Reserva Extrativista (Resex), garantindo o direito de posse e a conservação da floresta se constituiu no ponto relevante do I Encontro dos Seringueiros da Amazônia. Criadas a partir de 1990, após o assassinato de Chico Mendes, as 95 Resex existentes nos diversos biomas brasileiros, totalizam 156 mil km2, cerca de 27 vezes o território do Distrito Federal.


Nesse ano de 2020, trinta e dois anos após seu assassinato, lembramos Chico Mendes pela sua dedicação às causas amazônicas e de seus povos. Que a sua militância e legado sirvam de exemplos à nossa geração e às gerações futuras.

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