OPINIÃO

 

Alexandre Pilati  é professor associado de Literatura Brasileira na Universidade de Brasília, doutor em Literatura pela UnB (2007). É pesquisador e professor na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira, poesia. Diretor Técnico de Extensão do Decanato de Extensão da Universidade de Brasília (DEX-UnB) e vice-coordenador do GT Literatura e Sociedade da ANPOLL. Integra o corpo editorial da revista Crítica Marxista.

 

 

 

Germana Henriques Pereira é diretora da Editora UnB e professora do Instituto de Letras (IL/UnB) do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução (LET). Doutora (2004) e Mestre (1998) em Literatura pela Universidade de Brasília. 

 

 

Rafael Litvin Villas Bôas graduado em Jornalismo, mestre em Comunicação Social e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília. Possui pós-doutorado pelo PPG em Artes Cênicas da USP. É professor da Licenciatura em Educação do Campo da Faculdade UnB Planaltina, do Mestrado Profissional em Artes (Profartes pólo UnB) e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPG-CÊN). 

Alexandre Pilati, Germana Henriques Pereira de Sousa e Rafael Villas-Boas

 

*No dia 01 de outubro de 2015, durante o Seminário em Homenagem aos 40 anos do Programa de Pós-Graduação em Literatura o professor Hermenegildo Bastos foi homenageado. Na ocasião, um grupo de ex-orientandos, integrantes do grupo Literatura e Modernidade Periférica e seus filhos Manoel e Heitor Bastos, também professores, organizaram o texto da homenagem. Como forma de agradecimento pelo legado do mestre, e homenagem no momento de despedida, compartilhamos uma versão do texto lido naquela ocasião.

 

O professor Hermenegildo José de Menezes Bastos reúne em sua trajetória como professor e pesquisador características de uma atuação intelectual emblemática, que gostaríamos nessa ocasião solene de ressaltar – aqui falo na condição de um dos muitos professores formados por Hermenegildo, e como integrante do grupo de pesquisa Literatura e Modernidade Periférica, coordenado por ele.

 

A vida cultural e artística de Salvador, nos anos 1960, foi certamente uma escola primeira do ponto de vista estético e político. Dali surgiram na vida nacional incontáveis poetas, músicos, artistas, cineastas, intelectuais: os tropicalistas, Glauber Rocha, Carlos Nelson Coutinho, dentre tantos outros.

 

Hermenegildo chega em Brasília para estudar, acompanhando os irmãos, que se tornaram também professores renomados em suas áreas. Eram tempos de ditadura, momento de descaracterização do projeto original da Universidade de Brasília, de perseguição do pensamento crítico, demissão em massa de professores pioneiros, prisão de estudantes. Restrição ao pensamento crítico, criminalização do marxismo.

 

Naquele contexto, portanto, a definição do objeto de pesquisa era um ato delicado, implica nas condições de sobrevivência do estudante, e a opção pelo marxismo era um ato de coragem e rebeldia. Por essa trilha optou por seguir Hermenegildo: foi o primeiro estudante do programa a defender uma dissertação de mestrado, no ano de 1977, cujo título é “Materialismo e idealismo na Teoria da Literatura”.

 

No final dos anos 1970 o professor Hermenegildo segue para a Alemanha, com o intuito de prosseguir com seus estudos. No Brasil, a ameaça de censura não se restringia ao trabalho intelectual, como bem sabemos.

 

Conclui seu doutoramento na Universidade de São Paulo, em 1996, orientado pelo professor Joao Luis Lafettá que, infelizmente, falece no meio do processo, tendo a professora Iná Camargo Costa o acompanhado na fase final, até a defesa.

 

Na década de 1980, até meados da década de 1990, Hermenegildo atua na rede pública do GDF como professor de Literatura. Também lecionou em muitas faculdades particulares do Distrito Federal. Assume diversas funções no aparato estatal, sempre ligadas à educação, cultura e arte. Eram tempos de reconverter o Estado brasileiro à democracia, reconstruir um projeto de país, de conferir sentido coletivo e de qualidade à educação pública.

 

Em paralelo, desenvolve intensa atividade poética, arte que o torna conhecido como um dos principais poetas de Brasília daquelas décadas. Seu trabalho é incluído em antologia poética “Deste Planalto Central – poetas de Brasília”. Um ano após ingressar como professor da UnB, em 1996, publica seu último livro de poemas: Autópsia de sombra (1997). Antes dele publicou quatro livros, A dança (1968); A coisa comum (1976), Palames (1985) e Crítica do desjuízo (1990). A experiência do poeta aguça o olhar do crítico. Momentos de impressionante argúcia e rigor teórico e estético são as aulas em que Hermenegildo se debruçava sobre um poema, desnudando equações simbólicas e mediações dialéticas invisíveis aos olhares menos experientes.

 

Em 1996 ingressa na Universidade de Brasília como professor de Literatura. Ingresso tardio. A redemocratização não se anunciou como ruptura com a ditadura mas, em grande parte, como sua perpetuação: portas fechadas para aqueles que lutaram por outro projeto. Entrada tardia, muito a fazer em pouco tempo. Repor um legado alijado da universidade: o da tradição marxista de reflexão sobre a experiência brasileira, um pensamento ameaçador, porque reconhece na história seu caráter inteligível, e nisso a possibilidade de transformação, de revolução das estruturas.

 

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