OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman

 

A Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) é uma das três grandes entidades estudantis e congrega os estudantes de pós-graduação (mestrandos e doutorandos), tendo como parceiras a União Nacional de Estudantes (UNE), que congrega os estudantes universitários da graduação, e a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), que congrega os estudantes do ensino médio.

 

A ANPG lançou recentemente o Plano, que utilizei como título desse artigo, também conhecido como Plano Emergencial Anísio Teixeira para a ciência brasileira. A iniciativa é louvável e pertinente. Destaco dois aspectos.

 

O primeiro é que, na pandemia da covid-19, a ciência conquistou espaço na mídia, e mesmo os incrédulos da ciência torcem pelo desenvolvimento de vacinas para a prevenção da doença ou para a obtenção de um produto para a sua cura. Em outras palavras, acreditam na ciência.

 

O segundo é que presenciamos uma iniciativa de jovens que é ousada no fortalecimento da ciência e tecnologia do Brasil. Historicamente, os jovens tiveram um papel relevante nas grandes transformações sociais e políticas do planeta. Agora, a juventude brasileira exerce esse papel histórico. Que maravilha.

 

O projeto traz um conjunto de iniciativas que a entidade considera essenciais para a retomada do desenvolvimento econômico, tendo por base a valorização da ciência, tecnologia e inovação. Entre as medidas contidas no Plano está a concessão de 150 mil novas bolsas de mestrado e doutorado. Assim, seria possível expandir o número de pós-graduandos e prorrogar as atuais bolsas da Capes e do CNPq pelo prazo de um ano, necessário em virtude da pandemia, além de recuperar os benefícios que sofreram cortes.

 

Outra reivindicação é o reajuste nos valores das atuais bolsas, que se encontram há sete anos inalterados. Essas ações reverteriam a tendência de enxugamento da pós-graduação e abririam perspectivas para que novas gerações de mestres e doutores pudessem se formar.

 

A proposta prevê ainda que sejam concedidas 50 mil bolsas de pós-doutorado, visando reverter o fenômeno da “fuga de cérebros” – estudantes sem perspectiva profissional, forçados a buscar fora do Brasil as condições para fazer ciência. Em um primeiro nível, há migração de brasileiros que são recrutados pelos países desenvolvidos com ofertas e condições melhores para produção científica fora do Brasil.

 

Por causa da emigração de profissionais qualificados, apenas no intervalo de um ano, o Brasil caiu para 80ª posição em competitividade no mundo e de 45ª para 70ª no item de criação, retenção e atração de novos talentos. Ou seja, o Brasil investiu recursos na formação de quadros, e no final, eles acabam contribuindo não para o desenvolvimento brasileiro, mas para o desenvolvimento de outras nações.

 

A ANPG aposta na combinação de pressão da sociedade e articulação política no legislativo para obter conquistas. O Plano Anísio Teixeira será apresentado a partir de uma série de projetos de lei no Congresso Nacional, alguns já protocolados e outros em fase de elaboração, e impulsionado por um abaixo-assinado eletrônico para coletar milhares de assinaturas de apoio.

 

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Publicado originalmente no Monitor Mercantil em 28/8/2020.

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