OPINIÃO

 

Maria de Fátima Rodrigues Makiuchi é bacharel em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986). Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (1993) e Doutora em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (2005). Coordenadora do Observatório das Políticas Culturais (PPGDSCI/Ceam). Professora e pesquisadora da Universidade de Brasília. Integra o Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional (PPGDSCI).

 

 

 

Marcos Duarte Maia é graduado em Engenharia Civil na Universidade Federal de Goiás (1964), em Fisica na Universidade de Brasília em (1965). Curso mestrado Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas até 1967. Fez doutorado no Department of Mathematics do King's College da University of London em 1971. Ingressou na UnB como professor colaborador no Departamento de Matemática da UnB em 1971, tornando-se professor Titular em 1987. Transferiu-se para Instituto de Fisica da UnB em 1998. Aposentou-se na UnB onde permanece como Pesquisador Associado Pleno até o presente.

Maria de Fátima Makiuchi e Marcos Maia

 

Em 17 de junho passado, faleceu na França, Roberto Aureliano Salmerón, um dia após ter completado 98 anos. Físico e engenheiro elétrico de formação, Salmerón viveu uma vida plena, a qual, parte dela, mistura-se de forma indissociável à história da UnB e da Ciência no Brasil.

 

Salmerón foi membro fundador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) em 1949 e um dos primeiros físicos brasileiros a estudar os raios cósmicos no Brasil. Foi um dos principais pesquisadores na área de física experimental de altas energias no Brasil. Trabalhou no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN) nos períodos de 1955 até 1963 e de 1966 a 1967, sendo um dos poucos cientistas não europeus do CERN que participaram das experiências de detecção do neutrino.

 

Quando Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro fundam a Universidade de Brasília com o propósito de ser uma universidade moderna e de vanguarda, capaz de impulsionar a modernização do ensino superior brasileiro, convidam Salmerón para ser o primeiro diretor do Instituto Central de Ciências (ICC). O ICC tinha como propósito estimular a interação entre os professores de diferentes áreas de conhecimento e para isso seriam necessários cientistas experientes e com uma formação que fosse além da chamada área de concentração. Salmerón preenchia essas qualificações e foi com essa visão que deixou seu emprego no CERN para implantar uma nova universidade no cerrado Brasileiro, em 1963.

 

Aceito o convite, Salmerón abraça o desafio de realizar o plano acadêmico original da UnB, de tal forma a permitir que esta nova universidade, localizada no coração do Brasil, oferecesse à sociedade um novo modelo de educação superior, moderno e impulsionador do desenvolvimento do país. Lamentavelmente, em 1964, as forças da violência e da exceção se abatem sobre o país, o Brasil entra no período de regime militar ditatorial, e o projeto original da UnB se torna indesejável ao status quo. A Universidade de Brasília, criada ao lado do centro do poder político, sofria. As pressões eram imensas e, no ano de 1965, Salmerón, juntamente com 222 colegas, demite-se e retorna ao CERN.

 

A partir de 1967 passou a trabalhar na Escola Politécnica em Paris, França, no Laboratório de Física Nuclear de Altas Energias, local no qual consolidou sua renomada carreira como pesquisador.

 

Apesar do plano original da Universidade de Brasília ter sido deixado de lado, Salmerón acalentava aqueles valores humanos e científicos que animaram os fundadores da UnB. Em conversa particular com professor Marcos D. Maia, professor titular do Instituto de Física, ao ser indagado sobre o resgate do plano original da UnB, teria dito: “A história do desenvolvimento da civilização faz parte da natureza e não podemos inverter o tempo. Mas, como você sabe, as condições de contorno no espaço e no tempo é que determinam a existência e unicidade da solução dos problemas reais. É preciso examinar antes quais são as atuais condições de contorno.”

 

Salmerón, ao longo dos anos, manteve um olhar especial dedicado à UnB e ao Instituto de Física, do qual foi um de seus fundadores. Em 1999 publica, pela Editora da UnB, o livro “A Universidade Interrompida – Brasília: 1964-1965” no qual traça um relato histórico e político minucioso desse período e em 2005 recebe o título Doutor Honoris Causa pela universidade que ajudou a fundar.

 

Por sua trajetória profissional e humana, por seu empenho e engajamento em prol da ciência e da educação superior, o Instituto de Física da Universidade de Brasília presta homenagem a este que deixará, não apenas saudade, mas um legado inquestionável.

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