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OPINIÃO

Enrique Huelva Unternbäumen é vice-reitor da Universidade de Brasília. Mestre em Filologia Germânica, Filologia Hispânica e História e doutor em Linguística pela Universidade de Bielefeld (Alemanha). É professor do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução da UnB na graduação em Letras e no Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada. Na UnB, foi coordenador dos cursos de graduação, chefe do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução, vice-diretor do Instituto de Letras, coordenador do Núcleo de Recursos e Estudos Hispânicos, coordenador do Núcleo Instituto Confúcio e diretor do Instituto de Letras.

Enrique Huelva

 

Não é preciso muito esforço para reconhecer a importância estratégica da China, em termos políticos, econômicos, culturais e científicos. O país asiático tem a segunda maior economia do mundo e deve chegar à primeira posição até 2030. É o principal parceiro comercial do Brasil: no ano passado, as trocas entre as duas nações somaram US$ 98,8 bilhões, um recorde. De janeiro a agosto deste ano, a China foi o destino de quase 28% das exportações brasileiras. Nas importações, empresas chinesas respondem por 20,3% de tudo que chegou ao nosso país no mesmo período.

Embora os números saltem aos olhos, é preciso fazer uma análise sobre aspectos que podem ser potencialmente melhorados na qualidade dessa relação. Uma das questões centrais diz respeito ao tipo de produto que importamos e àquele que exportamos. Enquanto a China se destaca mundialmente como produtora de manufaturados - tais como circuitos integrados, equipamentos de transmissão e smartphones -, o Brasil permanece como um grande exportador de commodities (e isso não apenas para a China).

A qualificação da relação passa, necessariamente, pelo mapeamento de áreas de interesse comum e pela discussão de acordos que contemplem não apenas a compra e a venda de produtos, mas também o desenvolvimento científico e tecnológico. Nesse sentido, é crucial o envolvimento de universidades e institutos de pesquisa brasileiros, muitos dos quais já com frutíferas relações de intercâmbio com a China e demais países do Brics.

Na Universidade de Brasília, por exemplo, há sete acordos de cooperação vigentes com universidades chinesas. Os artigos científicos publicados em coautoria entre pesquisadores da Universidade e da China têm impacto acima da média global, conforme análise feita pela plataforma SciVal, ferramenta que fornece métricas da produção científica de mais de 8,5 mil instituições de todo o mundo.

O SciVal indica, ainda, o quão são profícuas as trocas entre o Brasil e a China na área de pesquisa. Entre os anos de 2013 e 2019 (dados até abril), foram publicados 7.013 artigos em periódicos de estratos superiores em coautoria entre brasileiros e chineses. A principal área de cooperação, com quase 30% das publicações mapeadas pelo SciVal, é nos campos de Física e Astronomia - reflexo também do Programa CBERS (sigla em inglês para Satélite de Recursos Terrestres Brasil-China), criado no final dos anos 1980. Em seguida, aparecem as áreas de Medicina (12,6%) e Engenharia (9,2%).

Embora crescente, a cooperação Brasil-China pode ser ampliada e trazer retornos ainda mais robustos para os dois países. Para isso, contudo, é necessário um mapeamento consistente de áreas potenciais para o intercâmbio científico e tecnológico. Outro passo importante é o investimento no ensino do português como língua estrangeira. Há uma enorme demanda nesse aspecto, mas atualmente muitos chineses acabam buscando o aprendizado em outros países lusófonos - principalmente Portugal.

A China tem avançado muito na difusão de sua política linguística, com a instalação de unidades do Instituto Confúcio em universidades brasileiras - a UnB tem a honra de ser uma delas. Com o instituto, promove-se não apenas o idioma, mas também a cultura chinesa, algo que ajuda a aproximar brasileiros de seus parceiros no país asiático. Um caminho é tomar como inspiração esse tipo de iniciativa e fortalecer, também, a formação de professores para o ensino do português para além de nossas fronteiras. Ganharemos todos, deste e do outro lado do globo.

 

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Publicado originalmente no O Globo em 12/11/2019

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