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OPINIÃO

Nagib Mohammed Abdalla Nassar é botânico, geneticista e professor emérito da Universidade de Brasília. Graduado pela Universidade do Cairo, mestre em Genética pela Universidade de Assiute e PhD em Genética (comajor em botânica) pela Universidade de Alexandria. Sua pesquisa concentra-se no melhoramento da mandioca.  É Fellow do Linnean Society-London (FLS). Recebeu em 2014 o prestigiado prêmio Kuwait International.

Nagib Nassar

 

Depois do milho transgênico com suas variedades tóxicas e até fatais, chegou a vez deste tipo de transgênico. Nele é introduzido um gene que acelera o crescimento além de outro que confere resistência a antibióticos.

 

O eucalipto é polinizado por abelhas fabricantes do mel, consumido por milhões de pessoas e fonte de renda de pequenos agricultores. Além de polinizar o eucalipto, elas polinizam outras culturas importantes na alimentação humana no Brasil, como frutas cítricas e outras. O eucalipto é a principal fonte de pólen usada pelas abelhas e o mel contém mais de 1% de seu conteúdo feito de pólen. O mel consumido por humanos leva a desenvolver resistência aos antibióticos.

 

Agrava o perigo o fato de que as abelhas não são seletivas ao visitar flores em busca de néctar, e sua infecção, ou reduzido número de sua população, leva a maior risco para todas as culturas polinizadas por elas e dependem de sua polinização para formar frutas e para propagar. A infecção de abelhas afeta a produção nacional de todas as culturas que delas dependem na fertilização e frutificação.

 

Em todas as ocasiões, inclusive na audiência pública organizada pela própria Coordenação-Geral da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), a empresa fabricante desse transgênico não conseguiu comprovar a sua segurança para abelhas. O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) não deixou de documentar essa falha em seu parecer.

 

O perigo não acaba, uma vez que a ameaça do eucalipto continua e se estende pela segurança hídrica do país, pois, pelo seu crescimento rápido, ele reduz a rotação da colheita de 4 a 5 anos e extrai água reservada em bacias hídricas, podendo agravar a crise hídrica enfrentada em diferentes regiões.

 

Até economicamente o país pode sofrer, pois a produção e a exportação do mel é oriunda principalmente do cultivo do eucalipto. Ele é produzido por milhares de pequenos produtores que têm nessa atividade sua principal fonte de renda. São hoje cerca de 350 mil produtores de mel, sendo 80% deles orgânicos. Com a eventual liberação, e a inevitável contaminação do mel, a exportação de mel orgânico será prejudicada pela rejeição no mercado internacional.

 

Uma vez autorizado o plantio em larga escala, esse tipo transgênico poderá contaminar outros cultivares de eucalipto não transgênicos devido o seu sistema de polinização alógama predominante e a transferência de seu pólen por abelhas a longa distância. Portanto, o perigo enfrentado pela contaminação do milho e algodão nativo por variedades transgênicas no Brasil e outros países volta mais uma vez a nos ameaçar.

 

Publicado originalmente em 19 de março no Jornal da Ciência da SBPC.

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