OPINIÃO

Jeremias Pereira da Silva Arraes é contador, pesquisador e professor. Doutorando em ciências contábeis e mestre em Gestão Pública pela Universidade de Brasília.

Jeremias Arraes

 

Fundada em 1962, a Universidade de Brasília completará 58 anos de existência em abril de 2020. O projeto de Darcy, sem dúvida, está concretizado. Contudo, o sonho de Anísio Teixeira em ver essa instituição a mais importante da América Latina, ainda não.

 

Vera Brant (2002) conta, em sua obra Darcy, que no início eram pequenos prédios, mas que tudo era construído com muita rapidez. Construía-se prédios e em seguida eles já estavam ocupados. Durante todos esses anos de existência foi assim, um crescimento de estrutura física acelerada. Talvez, hoje, não tenha a celeridade das construções de antigamente, mas a cada dia surge um prédio novo.

 

Crescemos? Sim, sem dúvida alguma estamos entre as maiores instituições de ensino superior do país! Com quatro campi espalhados pelo Distrito Federal a UnB conta com uma força de trabalho de 2.787 docentes e 3.198 técnicos para atender uma população de aproximadamente 48 mil discentes. Mas, essa instituição não foi projetada para ser grande em estrutura física, foi projetada para ser grande no ensino, nas pesquisas, na preparação dos jovens brasileiros, para que estes garantam o futuro de nossa sociedade. Este era o sonho de grandeza dos idealizadores desse projeto. Porém, percebemos que estamos ficando cada vez menores quando comparamos nossas direções estratégicas na época de fundação (ser a instituição mais importante da América Latina) com a nossa visão de hoje (ser referência nacional no ensino, pesquisa e extensão).

 

Sim, saímos do nosso plano de ser uma referência da América Latina para um projeto de ser uma referência nacional. Nada mal estabelecer uma meta de ser a melhor do país, o problema é que já chegamos a ser a melhor instituição de ensino superior do país e hoje estamos em 12° entre as 20 melhores do Brasil, segundo a lista divulgada pelo Center for World University Rankings (CWUR) com as mil melhores instituições de ensino superior do mundo. E tudo isso tem uma explicação: a UnB não sabe planejar.

 

Nas duas últimas décadas, a sensação que temos na UnB é que entra gestão sai gestão tudo parece começar do zero. Os planos anteriores são engavetados e outros planos para o desenvolvimento da instituição são estabelecidos, nada parece ter continuidade. De forma análoga, percebemos o mesmo na política brasileira, os governantes mudam, os planos também, mas a finalidade permanece a mesma: o bem público. Então, se todos querem o mesmo fim, por que temos sempre que elaborar um novo projeto? Essa mudança, gera algum custo para Universidade?

 

Fico imaginando o quanto de dinheiro eu desperdiçaria, quando na metade da construção da minha casa, eu decidisse pôr em prática um projeto diferente do inicial. E antes de finalizar esse novo, decidisse por outro e no ano seguinte mais outro, sem nunca conseguir atingir minha finalidade (construir a casa). Eu terei recursos suficientes para terminar minha casa agindo dessa forma? Quanto me custou mudar de projeto no meio do caminho? E a UnB, possui recursos para tantos planos? Quanto custou a elaboração desses planos? Enfim, com tantos desenhos elaborados para atingir seus objetivos, a UnB sabe aonde quer chegar? Melhor, a UnB sabe o que ela quer ser quando crescer?

 

Referências:

BRANT, Vera; RIBEIRO, Darcy. Darcy. Paz e Terra, 2002.

Universidade de Brasília – UnB. (2018). Novo Anuário Estatístico da UnB 2018. Recuperado em 10 setembro, 2019 de: https://noticias.unb.br/76-institucional/2702-anuario-estatistico-2018-um-raio-x-da-unb

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