OPINIÃO

Bergmann Morais Ribeiro é professor do Departamento de Biologia Celular, do Instituto de Ciências Biológicas, da UnB. Graduado em Ciências Biollógicas pela Universidade de Brasília, mestre em Biotecnologia, doutor em Microbiologia, ambos pela Imperial College da Universidade de Londres e  pós-doutor pela Universidade da Georgia (USA). É presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV) - 2015-2016. Tem experiência na área de Microbiologia, com ênfase em biologia molecular de Baculovírus. Atua nos temas: controle biológico de pragas e vetores, biologia molecular de vírus de inseto,  biologia molecular de Bacillus thuringensisis, Arbovirus (dengue e febre amarela).

Bergmann Morais Ribeiro

 

A virologia tem se destacado entre as áreas de conhecimento que mais crescem no Brasil nas últimas décadas, acompanhando o aumento e adensamento da população e a demanda por saúde e alimento de qualidade. Em virologia humana, o Brasil se destaca na pesquisa de doenças virais importantes, com grupos de excelência na pesquisa de HIV, dengue, febres hemorrágicas, hepatites virais e outras doenças emergentes. A consolidação do Brasil como líder na produção e exportação de carne bovina, suína e de aves resultou em aumento das exigências sanitárias restritivas ao comércio internacional de animais e produtos que, consequentemente, desencadeou expressivo avanço no estudo da virologia animal. Na área vegetal, a ciência contribui sobremaneira para a redução dos sérios prejuízos causados pela incidência de viroses nas culturas, melhorando a sanidade e a qualidade dos alimentos.

 

Parte do notável avanço na área de virologia no Brasil nas últimas décadas se deve a iniciativas individuais ou de grupos de pesquisadores, geralmente ligados a universidades ou institutos de pesquisa. Diversos grupos nacionais apresentam excelência e são reconhecidos nacional e internacionalmente pela qualidade e pelo impacto de suas investigações científicas. Entretanto, todo o avanço não foi suficiente para evitar, por exemplo, a atual epidemia de dengue. Entre as diferentes causas para o cenário preocupante, vale destacar a falta de ação das autoridades competentes e o despreparo dos profissionais de saúde. No país, salvo poucas exceções, o tema não tem recebido a devida atenção das instituições de ensino. Apesar de a pesquisa brasileira em virologia avançar de maneira expressiva nas últimas décadas, o mesmo não se pode dizer em relação ao ensino e ao financiamento para estudos na área.

 

Vivemos as consequências desse fato no dia a dia, quando, por exemplo, recebemos diagnóstico de uma doença qualquer como sendo uma virose. São conhecidas mais de 2.600 espécies de vírus, e a simplificação de um quadro clínico caracteriza omissão inaceitável. Com a proximidade do inverno, não apenas a dengue ameaça a população, mas também doenças respiratórias como a gripe (já que tudo é genericamente diagnosticado como gripe). Além disso, diversos outros vírus infectam os humanos e não são sequer diagnosticados. A falta de conhecimento para diagnose e controle de importantes doenças virais humanas pode ser igualmente verificada na área de sanidade animal e vegetal. Muito provavelmente, se as enfermidades forem negligenciadas, a posição de liderança na exportação de carne e grãos pode ser ameaçada.

 

A Sociedade Brasileira de Virologia (SBV) preocupa-se com a situação. Em nome da diretoria, insisto que o caminho para promover melhoria na saúde humana, animal, vegetal e proteção ambiental é investir na formação de pessoal especializado e ouvir os profissionais da área para que se manifestem sobre os problemas relacionados à virologia. Tornar o ensino de virologia obrigatório nas universidades e elevar recursos destinados a pesquisas na área é essencial para incentivar o avanço no conhecimento e a produção de tecnologias e práticas de controle das viroses.

Publicado originalmente no jornal Correio Braziliense em 7/7/2015

Palavras-chave