OPINIÃO

Pio Penna Filho é professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. Graduado em História, pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), mestre em História e doutor em História das Relações Internacionais, ambos pela UnB. Atua nas áreas de História, Relações Internacionais e Segurança Internacional, nos temas: em América Latina e África. 

Pio Penna Filho

 

A situação na Venezuela continua crítica, e não apenas na perspectiva política. A sociedade do país está dividida e o governo se mostra incapaz de fazer frente aos diversos desafios da crise econômica que se prolonga há anos. É como se não houvesse luz no fim do túnel. Por mais que o governo do presidente Maduro queira atribuir parcela determinante da crise econômica aos inimigos do regime, sobretudo os empresários, supostamente sabotadores, e os poderosos inimigos externos, no caso, principalmente os Estados Unidos, está cada vez mais claro que o problema se deve a decisões políticas equivocadas.

 

A Venezuela é caso clássico de um Estado petrolífero que não soube, ou não conseguiu, aproveitar os recursos adquiridos com a exploração do petróleo para diversificar sua economia. Muito do que é importado pelo país poderia e deveria ser produzido localmente.

 

O pior é que isso só fica mais evidente em períodos críticos, quando as coisas vão muito mal em termos econômicos. E é justamente o que está acontecendo na Venezuela nos dias de hoje.

 

Há uma crise de abastecimento que está mexendo com os nervos das pessoas. São filas e mais filas para adquirir produtos de primeira necessidade, muitos dos quais racionados por determinação governamental. As notícias da Venezuela indicam que os consumidores podem gastar até seis horas para efetuar compras básicas em supermercados desabastecidos.

 

O estresse é vivenciado cotidianamente e muitos venezuelanos já abandonaram o país, escolhendo viver fora. Na verdade, as pessoas resolveram ir embora em decorrência da falta de perspectiva econômica no curto prazo e pelo aumento da violência, seja pela ação criminosa comum, seja pela repressão governamental aos protestos, que por sua vez também costumam ser bem violentos.

 

A reação do governo tem sido mais e mais intervenção na economia. Os resultados têm sido pífios ou têm produzido mais crise. Assim, há desconfiança por parte dos agentes econômicos, que não querem produzir ou vender produtos tabelados, uma vez que a expectativa de ganho fica reduzida. Como o governo não conta com estoques suficientes de mercadorias e gêneros alimentícios para distribuição, o resultado imediato é a escassez e o consequente racionamento, o que acaba favorecendo o mercado negro, outro grande problema de difícil administração.

 

Em parte, essa situação é decorrente da queda no preço do petróleo, que atingiu em cheio a economia venezuelana justamente num momento em que o governo desenvolvia uma política de distribuição de renda com os recursos obtidos por meio da exportação de petróleo. Ou seja, a redefinição internacional no mercado petrolífero ajudou no aprofundamento da crise do país.

 

E como não existe mágica em economia, o resultado aí está: as contas não batem e a política econômica intervencionista do Estado bolivariano só tem feito agravar ainda mais a crise. O problema é que essa crise não é só econômica, ela é também e sobretudo política, com consequências cada vez mais imprevisíveis.

Publicado originalmente na Gazeta Digital - MT, em 3/7/2015

Palavras-chave