OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman¹

 

A maior rede de televisão brasileira está estimulando a população brasileira a se expressar sobre o Brasil que cada um deseja – O Brasil que eu quero. Os depoimentos estão sendo exibidos nos telejornais. Aparentemente a população está reagindo e enviando vídeos com curtas mensagens. São desabafos de uma conjuntura que podem nos levar a retrocessos, perdas de conquistas, perda da soberania e a conflitos sociais. A lista de desejos é longa: educação de qualidade, água encanada, saneamento, redução da violência, emprego para todos, um país sem desigualdade social, respeito aos idosos, corrupção zero, consolidação de valores éticos e morais, preservação da natureza, etc. Essa lista de desejos e sonhos vem crescendo. Como expressado por Sêneca: “os desejos da vida formam uma corrente cujos elos são as esperanças”. Sobre os sonhos Carl Jung assim se expressou: “sonhos são realizações de desejos ocultos e são ferramentas que buscam o equilíbrio pela compensação. É o meio de comunicação do inconsciente com o consciente”.

 

A preocupação com o futuro e com o legado que deixaremos para as próximas gerações deveriam pautar as nossas ações no presente. Esquecemos que somos mortais e que nosso compromisso maior é com os nossos descendentes. No Brasil, não temos tradição de planejar a longo prazo. Nossos projetos limitam-se a quatro ou oito anos de um governo e a maioria deles não são realizados.

 

No segundo semestre de 2015, foi instituído o Movimento 2022 O Brasil que queremos, uma parceria entre a Universidade de Brasília – através de seu Núcleo de Estudos do Futuro – e a ONG União Planetária. Os princípios e valores do Movimento são: 1. Absoluta liberdade de pensamentos; 2. Atuação supra partidária, supra religiosa e supra ideológica; 3. Em todos os estudos, deve perpassar uma postura ética e humanista; 4. Priorização do diálogo, em uma atuação com maturidade, buscando o outro e encontrar o denominador comum.

 

O Movimento pretende envolver os jovens na construção de um Brasil melhor. Inicialmente foram feitas parcerias com Instituições de Ensino Superior do Distrito Federal (IFE, UCB, IESB, UniCEUB, UDF e UNIPAZ) e com Instituições envolvidas em boas causas e ações: Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/Brasília), Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/DF), Todos pela Educação (TPE/SP). Recentemente o Movimento selou parceria com a ANDIFES (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), que congrega 67 Universidades Públicas e com a ABRUEM (Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais) onde 45 Universidades estão associadas. O Movimento tomou então uma dimensão nacional e iniciou uma parceria com a Comissão Senado do Futuro na realização de 12 audiências públicas em 2018.

 

Doze grupos de estudos foram criados no Movimento que promovem eventos e produtos com o principal objetivo de definir caminhos baseados no conhecimento científico e visão humanista para a construção de uma pátria digna para o povo brasileiro. Os grupos em atividades são: 1. Ciência e Tecnologia; 2. Construção Geográfica dos Espaços; 3. Ecologia e Sustentabilidade; 4. Educação; 5. Ética; 6. Meios de Comunicação; 7. Paz e Direitos Humanos; 8. Primeira Infância; 9. Política; 10. Relações Internacionais; 11. Saúde e 12. Social Econômico.

 

Em uma verdadeira democracia o estado deve priorizar os desejos e sonhos do povo. Um modelo de desenvolvimento baseado apenas no desenvolvimento econômico é incompleto. Crescimento econômico sem desenvolvimento social resulta em falta de inclusão, indignação e descontentamento e agitação social. É urgente conquistarmos uma educação que consolide valores e virtudes e que inclua uma educação ambiental e libertária sem espaço ao individualismo, a competição, o consumismo e ao mercado sem regras sociais. É preciso que haja diálogo entre a política e economia para se coloquem ao serviço da vida, especialmente da vida humana. Para conquistarmos o Brasil que queremos é preciso mudar o pensamento e as atitudes das pessoas. É pertinente lembrar o pensamento de George Bernardo Shaw: “Progresso é impossível sem mudança, e esses que não podem mudar suas mentes não podem mudar coisa nenhuma”.

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¹Professor emérito e Coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília, Membro da Academia Brasileira de Ciências e Membro do Movimento 2022 O Brasil que queremos.

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