OPINIÃO

Ileno Izídio da Costa

 

A vida na Universidade, seja como estudante, professor ou funcionário, compõe o ciclo vital de muitos brasileiros e é marcada por vivências e experiências que demandam responsabilizações, obrigações, deveres e sociabilidade, compondo o que denominamos de “comunidade universitária”, onde os três segmentos principais (sem contar com os colaboradores ou fornecedores de serviços) despendem anos de suas vidas em conjunto. Estudantes, mais pontualmente, podem ter esta vivência por um período menor de tempo (o de alcançar sua formação); professores e funcionários passam maior parte do tempo de suas vidas neste ambiente que escolheram para vivenciar sua atividade laboral como parte da suas existências.

 

De pronto, o desafio de estabelecer relações saudáveis, cada qual com suas tarefas, papéis, desafios e responsabilidades remete a duas dimensões fundamentais de todo e qualquer ser humano: a saúde mental e a qualidade de vida.

 

Nesta breve aproximação ao tema, focarei no tema saúde mental como pressuposto para abordarmos a qualidade de vida, em especial frente às constantes demandas de cuidado na área além dos agravos relacionais inerentes que lidamos diariamente – de conflitos interpessoais à crises psíquicas intensas –, sem perder de vista eventuais violências nestas relações. Típicas da sociedade moderna, e não somente das universidades.

 

Por certo que não pretendo esgotar o tema em tão pouco espaço (e tempo) mas gostaria de contribuir com esta discussão, objetivando em especial construírmos um debate amplo, porém consequente, sobre uma “política de saúde mental e qualidade de vida na Universidade de Brasília”.

 

E não é à toa, por certo, na minha opinião, que este tema tem que – e deve – ser discutido, aprofundado e desejarmos caminhar para uma agenda positiva e propositiva. Nos últimos dias (e anos) somos sabedores de agravos de violências interpessoais, tentativas de suicídio, violências auto ou heterodirecionadas, desenvolvimento de transtornos mentais, uso de medicações, pedidos de licenças, afastamentos ou mesmo abandono de nossas tarefas acadêmicas, sejam como estudantes, professores ou funcionários.

 

Comecemos, minimamente, com uma breve delimitação do que seja Saúde Mental. Delimitação pois, segundo a Organização Mundial de Saúde não existe uma definição "oficial" de saúde mental. Diferenças culturais, julgamentos subjetivos e teorias relacionadas concorrentes afetam o modo como a "saúde mental" é definida. Saúde mental é um termo usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional e pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica.

   

A saúde mental então, poder ser circunscrita como sendo o estado de equilíbrio entre uma pessoa e o seu meio sociocultural. Este estado garante ao indivíduo a sua participação laboral, intelectual e social para alcançar um bem-estar e alguma qualidade de vida. Ainda que o conceito de saúde mental surja por analogia à saúde física, trata de fenômenos inerentemente mais complexos.

 

Assim, por agora, pode-se dizer que a saúde mental é um estado de bem-estar emocional e psicológico, mediante o qual o indivíduo é capaz de fazer uso das suas habilidades emocionais e cognitivas, funções sociais e de responder às solicitações ordinárias da vida quotidiana.

 

Nos foquemos agora, também de forma breve, sobre a realidade da nossa UnB.

 

Muitos de nós (estudantes, professores e funcionários) somos sabedores, vivenciamos ou conhecemos alguém de nossas relações (pessoais, laborais, íntimas ou institucionais) que está demandando ou demonstrando necessidade de cuidados ou atenção em saúde mental. E aqui uso o termo cuidado como o conceito fenomenológico de que o cuidado é a essência do humano: só existimos no cuidado!

 

E ultimamente, nos tempos pós-modernos e na nossa realidade brasileira específica, estamos vivenciando mudanças bruscas, repentinas, rápidas, se não violentas, em nosso cotidiano. O advento da virtualidade, por seu lado, a despeito de nos dar a impressão de que estamos globalizados (em “redes”), tem nos lançado, em muitos casos, na solidão do vazio, da tristeza, da falta de relações significativas, na distância da presença que acalanta ou mesmo em “vazios existenciais”...

 

Fala-se muito na “depressão da vida moderna” como uma característica de nossos tempos, que em muitos de nós presentifica-se como um desamparo, uma tristeza, uma falta de sentido ou mesmo uma depressão pontual ou persistente individualmente.

 

Por outro lado, também temos  vivido, presenciado ou sentido, fortes dores e comoções com atos e ações extremas de componentes de nossa comunidade que nos impelem - se não “gritam” – para que conversemos (entre nós e conosco), cuidemos e, principalmente, que criemos meios para que convivamos melhor. Foi assim no caso de Louise (Biologia), no de Letícia (Sociologia) e agora, novamente de forma dolorosa intensa, com Jiwago (Filosofia), além de tanto(a)s outro(a)s....

 

Precisamos parar, refletir, nos unirmos, propormos, criarmos e… nos cuidarmos!

 

E esta função não é apenas de uma administração ou gestão, mas de todos, de cada um, dentro de suas potencialidades ou limitações… Sem, por certo, esquecer que a função geral do cuidado à saúde é do Estado...

 

Para finalizar esta breve reflexão (que espero receber contribuições, para o que deixo o email e contatos), gostaria de socializar alguns fatos, algumas orientações e mesmo alguns cuidados para que possamos construir uma “agenda positiva e propositiva” para cuidar e incrementar a saúde mental e a qualidade de vida em nossa comunidade.

 

  1. Diante dos persistentes acontecimentos, a administração central, por meio de Ato da nossa magnífica Reitora, criou uma comissão em 2017 (Ato 1753) para debater, organizar informações e fazer proposições sobre saúde mental e qualidade de vida nos Campi da UnB, coordenada pelo seu chefe de Gabinete, Prof. Paulo Cesar Marques e composta por unidades e representações da área, das quais estou incluído;
  2. Na mesma preocupação e sentido, o Instituto de Psicologia, a partir de seu colegiado e Direção, na pessoa da Profa. Wania Cristina de Sousa, criou o Núcleo de Estudos, Pesquisas e Atendimentos em Saúde Mental e Drogas (NEPASD), por proposta do Departamento de Psicologia Clínica, com o objetivo de focar sobre a temática somente para nossa comunidade (estudantes, professores e servidores), do qual sou o Coordenador Geral, juntamente com a Profa. Inês Gandolfo (Vice Coordenadora);
  3. O NEPASD tem o objetivo fornecer apoio, condições e atividades acadêmico-cientificas para a realização de estudos, pesquisas e atendimentos em saúde mental, álcool e outras drogas para a comunidade interna da UnB, como mais uma instância sobre saude mental que deverá trabalhar em rede com as já existentes, ou as criar e a implementar;
  4. Em meio aos nossos trabalhos, sobreveio a “nossa dor recente” com o suicídio de nossa aluna Leticia da Sociologia, que, na minha opinião, “deu o rumo” - espero que definitivo - para nossos trabalhos e conversas: o tema que era premente e recorrente, tornou-se emergencial, inadiável!;
  5. Assim, formou-se um “Grupo emergencial de acolhimentos de crises (GEAC)” para as situações urgentes e emergenciais, cujos diretores estão cientes e informados;
  6. Eu, na condição de Coordenador do Nepasd, disparei uma consulta, via email - também emergencial -, para os Coordenadores de Graduação para que nos informem sobre outros colegas, estudantes ou funcionários (de seu conhecimento) que estão demandando cuidados imediatos, emergenciais;
  7. E, para nossa tristeza geral, mais uma tragedia se abate sobre todos nós (comunidade UnB): o assassinato cruel e assustador do nosso aluno Jiwago Miranda (Filosofia), o que coloca ainda mais o desafio não só de cuidar mas de proteger a nossa comunidade, em particular daqueles “mais vulneraveis em sua condição mental”;
  8. Assim, a Comissão supracitada está ultimando o documento para encaminhamentos, que deverá o primeiro de muitos - quero crer - no caminho de disparamos outras discussões e ações que culminem numa “política de saúde mental e qualidade de vida da Universidade de Brasília”.

 

Cabe registrar, por fim, que, desde o evento da Leticia, toda a universidade se encontra – felizmente - mobilizada em conversas, rodas de conversa, busca de orientações e encaminhamentos de sugestões de como lidar, agir e, definitivamente, cuidar melhor das relações em nossa comunidade, e de nossa saúde mental, aprimorando a qualidade de vida tão almejada por nós (e, por certo, por todas as universidades de nosso país, a despeito dos tempos difíceis que vivemos no país e no mundo).

 

Perdoem se não pude, neste momento, fazer maiores aprofundamentos do tema, mas o objetivo primordial foi o de dar o mote inicial para “conversarmos sobre saúde mental, nossas relações e a qualidade de vida em nossa universidade”. Não podemos mais ignorar a nossa saúde mental enquanto um dos aspectos fundamentais para continuarmos a cumprir a nossa função primordial de educar.

 

Socializo também no formato de link, a quem desejar ou necessitar, algumas orientações, possibilidades de encaminhamentos e procedimentos emergenciais para que cuidemos - nas urgências e emergências - de nós mesmos e de nossos pares (colegas professores, colegas funcionários, estudantes e, eventualmente, dos que estão ao nosso lado).

 

O NEPASD, também montou um “plantão emergencial” para “ouvir as demandas urgentes” na área com o objetivo de orientação. Porém, ainda em estruturação, informamos que estamos funcionando somente em alguns horários, com meus estagiários de graduação e pós (3107.1679 - email: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.), somente até o fim do presente semestre. Para o proximo, reavaliaremos.

 

Como buscar ajuda:

 

- CVV (Centro de Valorização da Vida): realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, voluntária e gratuitamente, a quem desejar, sigilosamente, por telefone, email, chat ou voip, 24 horas, todos os dias - Contato: 188

- Urgências, emergências e injurias graves (risco de vida): SAMU Saúde Mental (192), Corpo de Bombeiros (193)

- NAPEM (Núcleo de apoio Psicopedagógico e Bem Estar do Estudante de Medicina) - E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. - Contato: 3107 - 1883

- APTA (Núcleo de Mútua Ajuda às Pessoas com Transtorno Afetivo) - Laboratório de Psiquiatria da Faculdade de Medicina - Email: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. - Contato: 3107.1978

- Estudantes (UnB) em vulnerabilidade social:  DDS-Coordenação Técnica de Programas de Assistência Estudantil (CTPAE): 3107-2303 - Local: Bloco Eudoro de Souza (BAES), Asa Norte, Campus  Darcy

- Estudantes em condição ou com rendimento comprometido: SOU - Serviço de Orientação ao Universitário - 3107-6375 (Darcy Ribeiro) Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.; 31078941/ 31078407 (FCE) Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.; 3107-8909 (FGA) Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.; 3107-8007 (FUP) Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

- Questões de Gênero (UnB): DIV-Diretoria da Diversidade - Telefone: (61)3107-2645 - E-mails: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. - Local: Sala AT 199/7, ICC Sul, UnB-Campus Darcy

     - Outros (Em Geral, UnB): com diagnóstico (porém necessitando de orientação) e outros com demandas (gerais, graves) de saúde mental, com Tentativa de Suicídio prévia (mas não imediata) e abuso de drogas: NEPASD (Geral): 3107.1678 - Email: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. - Local: Prédio do CAEP (ver a seguir) - Somente escuta e acolhimento.

      - CAEP (Geral): 3107.1680 (agendamentos em períodos previamente determinados, com vagas limitadas) - Local: Prédio do CAEP (Rua da Fiocruz/Finatec, ao lado da Autotrac, em frente ao CET)

 

Links Úteis

Para conhecer mais sobre voluntariado, apoio emocional, prevenção do suicídio, saúde mental e outros temas afins, acesse também:

 

Cartilha de Orientação em Saúde Mental

 

Centros de Atenção Psicosocial (CAPS)

http://www.saude.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2018/03/Lista_Servicos_Saude_Mental.pdf

 

Movimento Setembro Amarelo, Dia mundial de Prevenção ao Suicídio

 

Educação Emocional

 

Associação Brasileira de Psiquiatria

 

Movimento Conte Comigo, Prevenção a Depressão

 

Rede Brasiliera de Prevenção ao Suicídio

 

Informações sobre prevenção do suicídio

 

Transtornos mentais e dependência química

 

Associação Brasileira de Estudos e Prevenção de Suicídios

 

Sociedade Portuguesa de Suicidologia

 

Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio

 

Associação Americana de Suicidologia

 

Associação Canadense para a Prevenção do Suicídio

 

Voz de apoio – Portugal

 

Fundação Americana de Prevenção de Suicídio

 

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