OPINIÃO

Márcia Abrahão Moura é reitora da Universidade de Brasília e professora do Instituto de Geociências. Doutora em Geologia pela UnB.

Márcia Abrahão Moura

 

Pela primeira vez, a Universidade de Brasília (UnB) foi classificada pelo ranking Times Higher Education (THE) entre as melhores universidades em países emergentes. O THE avalia instituições de ensino superior em todo o mundo e, neste mês de maio, apontou que a UnB está na faixa compreendida entre 201-250 de 342 das melhores universidades.

 

A classificação se baseia em indicadores de ensino, pesquisa, grau de internacionalização e retorno para o setor produtivo no ano de 2017, tais como impacto das publicações em periódicos acadêmicos, formação dos docentes, proporção entre o número de professores e de estudantes, presença de alunos estrangeiros na graduação e na pós-graduação.

 

Outra boa notícia veio do levantamento interno feito com a ferramenta SciVal, que mostrou que a produção científica da UnB cresceu 42% de 2010 a 2016, chegando a 9.771 itens em 2016. A SciVal é utilizada por instituições como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Universidade de São Paulo (USP) para fazer a gestão da pesquisa.

 

O impacto das citações de pesquisadores vinculados à UnB também aumentou mais de 100% entre 2010 e 2016. Chegamos a 1,45 no índice definido pelo SciVal como Field-Weighted Citation Impact — sendo que a média global é 1,00. Isso significa que nossa comunidade está produzindo mais ciência de alta qualidade, com maior repercussão.

 

O desempenho é diretamente proporcional ao aumento do número de docentes na instituição. De 2008 para cá, 1.104 novos professores passaram a fazer parte do quadro permanente da UnB — muitos dos quais ingressaram nos anos de forte investimento do governo no Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) de 2008 a 2012.

 

Hoje, temos 2.631 docentes — e 90% deles possuem doutorado. Os resultados confirmam que a receita para a excelência acadêmica em qualquer país passa necessariamente pelo investimento na ciência e na educação superior, pelo planejamento de longo prazo e pela valorização do corpo técnico e docente, imprescindíveis para a boa formação de novos profissionais e para o desenvolvimento científico e tecnológico.

 

Além de confirmar os caminhos que levam à excelência, o THE — e outros rankings internacionais — revelam a importância de ampliar a colaboração com pesquisadores e instituições estrangeiras. Para termos uma ideia, pela SciVal, o impacto de uma citação feita em parceria com um pesquisador estrangeiro mais que dobra em relação ao trabalho assinado por um único pesquisador.

 

Nesse sentido, estamos investindo na internacionalização da UnB, de forma integrada e sistemática. Em abril, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), um dos colegiados superiores da UnB, aprovou o Plano de Internacionalização da Universidade – o primeiro em 56 anos –, com diretrizes, objetivos, ações e prazos de execução. Entre as iniciativas, estão o apoio à criação de redes interinstitucionais e regionais, a concessão de bolsas de estudos e a realização de feiras e fóruns com o envolvimento de embaixadas. A UnB está em um local geograficamente privilegiado, perto de dezenas de representações diplomáticas, e precisa aproveitar esse potencial.

 

O plano prevê ainda forte investimento em uma política linguística para a internacionalização, com o ensino de diversos idiomas e também de português para estrangeiros, além da oferta de disciplinas em língua estrangeira, na graduação e na pós-graduação. A ideia central dessa estratégia é ampliar o acolhimento a estudantes, professores e pesquisadores estrangeiros e tornar a UnB um local atrativo para essas pessoas. Por isso, a política linguística inclui ações voltadas para servidores técnicos-administrativos, muitos dos quais responsáveis pelo atendimento a estrangeiros e por ações relacionadas às atividades-fim da UnB.

 

Outro ponto de alto impacto no THE diz respeito à importância de a universidade se aproximar cada vez mais do setor produtivo. Trata-se de um tema pouco explorado em muitas áreas do conhecimento, nas quais ainda é pouco usual a integração com empresas e/ou indústrias. A qualidade da nossa pesquisa aplicada vem sendo internacionalmente reconhecida e representa um grande potencial para o desenvolvimento do País, e pode avançar ainda mais em inovação e transferência tecnológica para a sociedade.

 

Já demos alguns passos na concretização desse objetivo. Criamos, ainda em 2017, o Decanato de Pesquisa e Inovação (DPI), órgão da Reitoria que tem como algumas de suas finalidades fomentar projetos de pesquisa e parcerias em inovação. Realizamos periodicamente eventos que promovem o intercâmbio entre estudantes e empresas, com palestras, seminários e minicursos, e ampliamos a oferta da disciplina Introdução à Atividade Empresarial — de 170 vagas em 2016 para 600, em 2017. Alguns resultados já começam a aparecer: no ano passado, a UnB foi considerada, pela Confederação Brasileira de Empresas Juniores, a universidade mais empreendedora do Centro-Oeste e a 8ª mais empreendedora no Brasil — estava na 18ª posição em 2016.

 

O trabalho com foco no desenvolvimento econômico e social resultou recentemente na atribuição do estatuto de órgão complementar da Reitoria ao Parque Científico e Tecnológico da UnB, o que deve promover maior integração entre as hastes da tríplice hélice da inovação — academia, governo e empresas/indústria.

 

Com essa visão de futuro, a Universidade de Brasília trilha de maneira cada vez mais consistente os seus caminhos em direção à excelência, buscando cumprir a sua missão de contribuir para as transformações que a sociedade e o País tanto precisam.

 

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Publicado originalmente no portal Huffpost em 23/05/2018.

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