OPINIÃO

Christina Maria Pedrazza Sêga é professora aposentada da Universidade de Brasília e doutora em Ciências da Comunicação (Universidade Nova de Lisboa).

Christina Maria Pedrazza Sêga

 

Perde-se na história das civilizações o valor que a água mantém para o homem. Sempre foi comum o conflito existente entre os povos pela posse e vigilância da água dos rios, mares e fontes, ocupando lugar de destaque para a sobrevivência dos seres vivos e como meio de transporte marítimo e fluvial. Sua captação sempre exigiu esforços pela sua escassez e pela dificuldade em retirá-la dos rios, fontes e solos. Foram e ainda são utilizados alguns recursos primitivos e de engenharia como poços, aquedutos, cisternas e poços artesianos. O nordeste brasileiro tem sido vítima constante da escassez desse bem hídrico.

 

A água é tão importante que seu uso e significados inerentes perpassam por civilizações, costumes, crenças, religiões e rituais de distintas culturas. Na mitologia há a figura de Narciso ao mirar-se nas águas de um lago. A água se faz presente em cerimônias e rituais cristãos, ocidentais, orientais, ecumênicos e esotéricos. Ela transmite a energia da benção, da paz, da comunhão natural entre os povos, da gratidão pela chuva, da limpeza do corpo, dos objetos e dos ambientes. Rios como o Gânges na Índia e o Nilo no Egito prestaram-se a esses serviços e ainda os fazem. A história do batismo cristão começa nas águas do rio Jordão, passa por outros rios até chegar às igrejas cristãs e às pias batismais do catolicismo. Algumas expressões populares surgiram da devoção às águas como “lavar a alma”, lavar as mãos”, “lavar a mente e o coração”. A água lava e abençoa o corpo na vida e na morte. Sua preciosidade vai além. A água é capaz de gerar energia. Sem ela não haveria os moinhos e as hidroelétricas. Muitas vezes, em viagens, é comum alguém reclamar pelo preço abusivo de uma garrafa de água, mas esse se importa menos em reclamar de um refrigerante, de outro tipo de bebida ou de um petisco.

 

Da mesma forma que a água tem sido motivo de conflitos e rusgas, ela também proporciona momentos de interação e diversão entre pessoas nos passeios turísticos ou de lazer, ao oferecer os banhos de mar, rios, cachoeiras e fontes medicinais desde tempos remotos, como menciona Daniel Roche em seu livro História das Coisas Banais, no capítulo sobre ‘a água e sua utilização’. “Nesses diferentes acessos à água estão demonstrados tanto maneiras de viver quanto tipos de sociabilidade: poços coletivos das ruas e das praças, poços privados dos pátios urbanos reuniam diariamente, como na aldeia, vizinhos e vizinhas, criados, usuários de toda espécie, que ali transmitiam verdadeiras e falsas notícias, marcavam encontros galantes. Ali brigavam e se reconciliavam”.

 

No terceiro milênio, o planeta vive o racionamento e a falta da água, esse bem tão precioso e, como se isso não bastasse, sofre a poluição de rios e oceanos, consequência da falta de consciência e do mau uso do recurso hídrico. A escassez de água já ocorria nos séculos anteriores e pagar por sua aquisição não era tão incomum.

 

O 8o Fórum Mundial da Água, sediado na capital do Brasil, entre os dias 18 e 23 de março, visa dar continuidade às ações já desenvolvidas mundialmente, além de propor novas práticas para incentivar o consumo sustentável da água no nosso planeta. Paralelamente à realização do Fórum, o Dia Mundial da água (DMA) é celebrado todos os anos no dia 22 de março, data instituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas por meio da resolução A/RES/47/193 de 21 de fevereiro de 1993.

 

Vários países vêm investindo em campanhas de utilidade pública com o objetivo de esclarecer às populações o consumo consciente, a despoluição e a preservação ambiental da água no nosso planeta. Cabe a cada um nós fazer a sua parte.

 

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