OPINIÃO

Carlos Potiara Ramos de Castro é jornalista, professor visitante da Faculdade de Comunicação (FAC) e do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM) da Universidade de Brasília e do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Graduado em Comunicação Social, mestre em Ciência Política pela Universidade de Paris 8, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas e pós-doutor no Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas (Ceppac) da Universidade de Brasília. Foi pesquisador visitante do Brazil Center e da Lindon B Johnson School of Public Affairs da Universidade do Texas em Austin, pesquisador do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG) da Organização das Nações Unidas, atuou na Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente com cooperação internacional, sobretudo com as Convenções sobre Diversidade Biológica e do Clima. Suas atividades são nas áreas de ciência política, relações internacionais,comunicação social e meio Ambiente.

Carlos Potiara Ramos de Castro

 

A substituição dos combustíveis de origem fóssil pela energia elétrica é vista por muitos como um caminho a ser trilhado para que se concretize a utopia de uma sociedade de baixo carbono e sustentável. Aplicado ao setor de transporte, com a substituição de parte da frota de veículos com motores a combustão por outros elétricos, os impactos positivos seriam muito relevantes. A emissão de gases de efeito estufa seria consideravelmente reduzida. E ao mesmo tempo a industria viveria uma transformação tecnológica com novos campos para atuar. Da mesma forma, estima-se que as empresas, em um ambiente de competição, que estiverem menos atuantes nessa frente poderão ser colocadas para fora de seu mercado de atuação.

 

É a visão de um capitalismo redimido, portanto. Onde amplos setores corporativos e industriais poderiam se tornar os principais vetores na construção de uma nova sociedade sustentável. As antigas empresas poluidoras poderiam agora se tornar a vanguarda da sustentabilidade, caso passassem a trilhar por esse caminho. Não é à toa que muitas delas estão investindo pesadamente em ações que acelerem esse processo de adaptação e modificação.

 

A energia elétrica se consolidou como uma solução viável para tornar mais limpa  a matriz energética de um país e boa parte dos esforços realizados para a redução das emissões de gases de efeito estufa segue essa direção. O que não aparece nessa equação é a imensa transformação que está sendo realizada na forma com que a energia elétrica é utilizada. Desde o advento e universalização do uso dos produtos que embutem tecnologia da informação e comunicação (celulares, tabletes, computadores etc.) o uso de energia tem se modificado rapidamente, com a presença no cotidiano das pessoas de fontes de alimentação e toda sorte de baterias por exemplo.

 

Para viabilizar o uso desses equipamentos individuais, foram construídas ao longo da última década novas estruturas de grande porte, como as data centers, localizados ao redor dos principais centros urbanos das maiores economias do mundo. E alguns desses centros chegam a consumir a mesma quantidade de energia elétrica que uma cidade de 200 mil habitantes. Novas unidades, planejadas para serem erguidas nos próximos anos, aumentaram a participação dessas instalações no cômputo geral de consumo de um país. Calcula-se hoje que cerca de 2% de toda energia consumida nos Estados Unidos seja destinada aos data centers e servidores de grande porte. Isso corresponderia ao consumo de cerca de 6,4 milhões de residências norte-americanas.

 

Não se pode sobrepor visões aparentemente brilhantes de um mundo descarbonizado pelo fato básico de que a crise ambiental de nossa civilização é sobretudo de intensidade de uso de recursos. Se a luz solar e os ventos podem colocar em movimento turbinas geradoras, isso não significa que a transformação do mundo material pelo ser humano não continue se acelerando. Pouco problematizados, os segmentos produtivos baseados nas tecnologias da informação e comunicação não representam um novo paradigma, uma ruptura em si com a forma como a sociedade usa os recursos do planeta. Ao contrário, elas possuem a mesma alma recurso intensiva e por esse motivo precisam ter suas cadeias melhor estudadas e monitoradas e sobretudo, ter seu setor traduzido em indicadores para que tenhamos instrumentos de discussão e deliberação pela sociedade.

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