BALANÇO

Em entrevista que marca a primeira metade da gestão, reitor Ivan Camargo destaca o diálogo com a comunidade acadêmica para o enfrentamento dos principais desafios da UnB

Foto: Isa Lima/UnB Agência

 

O mandato do primeiro ex-aluno reitor da Universidade de Brasília completa dois anos nesta quinta-feira (20). No trajeto da gestão de Ivan Camargo, uma infinidade de desafios acadêmicos e administrativos. A missão de melhorar o desempenho das atividades de ensino, pesquisa e extensão vem acompanhada da necessidade de planejar o uso de um orçamento apertado e de garantir investimentos em infraestrutura.

 

Para alcançar metas e buscar soluções, a administração superior adota um procedimento claro: incluir a comunidade acadêmica nas discussões que determinam os rumos da universidade. Em entrevista à Secretaria de Comunicação, o reitor ressalta o papel dos conselhos da instituição e enumera avanços conquistados a partir do planejamento. "A comunidade é que vai dizer se o caminho seguido é bom", aponta.

 

O balanço inclui o desempenho da UnB em avaliações externas, a consolidação dos campi e a ampliação do quadro de professores e de técnico-administrativos. O reitor menciona ainda medidas adotadas para melhorar a gestão de obras e a manutenção de espaços e equipamentos da universidade.

 

O senhor chega à metade do mandato com que sensação?

 

Para ocupar um cargo público, é preciso abrir mão da ansiedade. Caso contrário, não se consegue as coisas. Conseguimos muitos avanços, temos um rumo claro. Uma gestão técnica como queria a universidade. Em relação a questões de infraestrutura e burocracia, fica a sensação de que ainda não evoluímos como queríamos nesses dois anos.

 

Que realizações o senhor destaca?

 

Tenho a satisfação de perceber avanços. O que ainda não está solucionado está em processo de ter solução. A avaliação mais precisa virá com o tempo. A comunidade é que vai dizer se o caminho seguido é bom. Uma resposta virá, por exemplo, da segurança. Fizemos audiência pública, ouvimos nossos especialistas e tivemos várias informações de que nosso cuidado interno com a segurança não estava razoável. Formulamos uma nova estratégia, baseada em rondas por toda a universidade. Não dá para dizer que a situação está resolvida, mas quero ver com o tempo se melhorou.

 

O que me deixa satisfeito é não ficar inerte. Não ficamos inertes na segurança, na gestão do Restaurante Universitário e em outros pontos que me são caros, como a questão da avaliação externa. Havia uma queixa dos avaliadores externos de descuido nos dados apresentados. Os decanatos passaram a ter mais cuidado com os dados. Isso está muito melhor. Recebemos elogios indicativos de que estamos na direção correta.

 

Nos últimos dois anos a UnB saltou oito posições no índice da consultoria britânica QS e ocupa o 17º posto entre as universidades da América Latina. É uma tendência a se consolidar?

 

Essas avaliações têm alguma instabilidade. Não consigo garantir que seja uma tendência. No entanto, posso garantir que há um esforço muito grande para que as avaliações externas tenham acesso a dados corretos. É preciso lembrar que algumas dessas avaliações têm critérios diferentes dos nossos. Temos nos empenhado e passado corretamente as informações. O resultado é consequência desse trabalho.

 

Avaliações recentes do MEC têm concedido notas máximas a cursos de graduação.

 

As avaliações que estamos recebendo estão sendo superpositivas. Esses processos de avaliação global demoram. Mas temos recebido muitas notas 5 [a maior da avaliação]. Um ponto que estamos tratando com muito cuidado é dos novos campi. As avaliações de Ceilândia, por exemplo, foram um sucesso. A maioria dos cursos obteve nota máxima. Isso expressa o empenho de toda a comunidade.

 

O Ranking Universitário Folha, outra avaliação externa à academia, classifica a UnB como a oitava melhor do Brasil. Destaca a qualidade de ensino, mas não avalia tão bem as áreas de pesquisa e internacionalização. O senhor concorda?

 

Não vou dizer que essas áreas vão mal, mas poderiam ir melhor. Nosso maior gargalo em relação a outras universidades do mesmo porte está nos programas de pós-graduação. Houve uma expansão muito grande na oferta de novos cursos. O que a gente precisa, como já indicou a última reunião do Consuni, é ter um critério maior e ofertar apenas cursos com o padrão UnB de qualidade.

 

A vice-reitora Sônia Báo e outros membros da administração têm experiência na área de avaliação externa. Isso favorece?

 

Sem dúvida. Recebemos todas as turmas de avaliação que programaram visita ao reitor e à vice-reitora. Até para ouvir as críticas é bom recebê-los. Há um cuidado muito grande. Agora estamos focados no Enade. Precisamos dizer à comunidade o quanto é importante participar. Evidentemente, todo processo de avaliação pode ter críticas, mas devemos mostrar para a sociedade qual é a referência de qualidade da UnB. Acho inaceitável a Universidade de Brasília não ter o conceito máximo na avaliação do MEC. Temos todas as condições materiais e humanas para ser uma das cinco melhores universidades do Brasil.

 

A administração deu início a um novo sistema de gestão de obras, que incluiu a criação da Diretoria de Obras (DOB) e da Diretoria da Gestão de Infraestrutura (DGI). Já houve resultado?

 

Isso é quase uma revolução. Antes, era mais ou menos cada um por si. O grande passo é tentar organizar as obras para definir os passos seguintes em nosso Conselho de Administração.

 

A UnB precisa discutir com maturidade para conseguirmos minimamente algum planejamento. Digo minimamente porque, mesmo reorganizando, rediscutindo esse processo com cada um dos diretores, não se consegue um planejamento preciso. Os processos licitatórios são lentos e muitas vezes imprevisíveis.

 

Apesar desses entraves, a gestão inaugurou e iniciou obras importantes.

 

A gente não para. Não parou em nenhum momento. E tem muito metro quadrado pra ser entregue. Nós temos um grande problema de gestão de espaço. Existem locais muito mal aproveitados na universidade. O crescimento do número de alunos requer mais infraestrutura. Estamos trabalhando nessas duas áreas: gestão e aumento do espaço.

 

Preciso tocar numa questão difícil. Até porque uma gestão dá continuidade ao trabalho da outra. Mas um ponto que parece não ter caminhado na direção certa é a divisão de espaços em novas unidades. A filosofia é salas de aula em um canto e de professores no outro. Minha experiência na Faculdade de Tecnologia, onde as salas ficam próximas, é de que os estudantes têm acesso permanente aos professores. Isso é muito positivo. Essa separação também esvazia setores e causa problemas de segurança.

Foto: Isa Lima/UnB Agência

 

A gestão enfrentou dificuldades com a questão orçamentária no primeiro ano. O segundo período iniciou com projeção de despesas maior que o de receitas. O que fazer para equilibrar as contas?

 

O segundo ano, em termos de dados e de conhecimento de funcionamento da universidade, foi muito melhor do que o primeiro. No entanto, as dificuldades orçamentárias foram semelhantes. Dialogamos muito com o Ministério da Educação. Racionalizamos os gastos. As despesas com custeio da Universidade de Brasília estavam muito acima da média das federais.

 

Também havia contratos terceirizados feitos de maneira não ideal, contratando postos de trabalho em vez do serviço. Quando adequamos essa situação, os contratos ficaram um pouco mais caros, mas a questão da regularidade melhorou. Um bom exemplo disso é o Restaurante Universitário. Nós deixamos de contratar as pessoas para fazer a comida e estamos contratando o prato, a refeição servida.

 

A expansão no quadro de professores e servidores técnico-administrativos pode acelerar avanços e oxigenar a instituição?

 

Há pelo menos dois aspectos importantes. A universidade precisava de novos professores, e eles chegaram. Isso é positivo. O lado difícil é que a renovação é realizada de modo abrupto. Se a expansão fosse um pouco mais gradual, acho que a absorção dos professores e a adaptação dos espaços físicos seriam mais tranquilas.

 

Mas é assim que temos de trabalhar. A universidade pública precisava de expansão. Cabe a nós, agora, essa consolidação. Tenho um pouco de aflição de quem espera as condições ideias para fazer as coisas. Sou a favor de fazer. Precisamos de muita calma, trabalho e dedicação para que esse processo seja consolidado nos próximos meses.

 

E em relação aos servidores técnico-administrativos?

 

Houve uma mudança de postura que veio de fora pra dentro. A UnB estava historicamente acostumada com o trabalho de prestadores de serviços temporários. Várias áreas funcionavam assim e esse processo foi se perpetuando. O Ministério Público radicalizou na necessidade de acabar com isso, depois do descumprimento de termos de ajustamento de conduta.

 

Esse processo envolve dificuldades do ponto de vista humano. Pessoas queridas e dedicadas à universidade estão tendo de se adaptar a essa nova realidade. Considero, no entanto, que em médio prazo isso vai ser positivo. A universidade voltará à conformidade legal e acabará com essa instabilidade. Para funcionar direito, a universidade precisa estar regular e em paz.

 

A entrada de servidores do quadro é importante e também diminui os gastos de custeio, o que auxilia no equilíbrio orçamentário.

 

A complexidade de ações de uma organização do tamanho da UnB demanda medidas que nem sempre agradam. Como o senhor lida com isso?

 

Não quero perder a base do trabalho, as bandeiras que levantamos. Falo no plural porque foi um grande grupo que levantou essas bandeiras e julgava que a administração precisava tomar medidas, muitas vezes duras, para que conseguíssemos desenvolvimento acadêmico. O objetivo é acadêmico. A conformidade legal era uma das questões. Outra é a racionalidade orçamentária. E o terceiro ponto, que talvez seja o mais difícil, é dar o clima mais agradável à universidade. Essa é a bandeira da união. Quero deixar claro que a defesa é a da união na diversidade, com liberdade. Senti isso na última reunião do Consuni. Tivemos discussões com pontos de vistas claramente diferentes, mas todos tratados de maneira muito serena e respeitosa.

 

Só é possível ser inovador, criativo e bom pesquisador, se o ambiente da universidade for de paz. Temos que construir essa cultura da paz, da liberdade, da diversidade. Se conseguirmos isso, vamos construir uma universidade melhor.

 

Que prioridades sua gestão terá em 2015?

 

Precisamos revitalizar o ICC. Falei isso ano passado, avançamos, mas ainda não da maneira necessária. A revitalização do ICC não é uma meta de infraestrutura, é uma meta acadêmica. Aquela foto do ICC retrata a nossa cara. Várias áreas foram reformadas, mas queremos mais. O ICC deve voltar a ser um espaço no qual as pessoas possam trabalhar, ter aulas, orientar, ler. Deixar o Instituto lindo, como era em 1978, quando entrei nele pela primeira vez.

ATENÇÃO O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor e expressa sua visão sobre assuntos atuais. Os textos podem ser reproduzidos em qualquer tipo de mídia desde que sejam citados os créditos do autor. Edições ou alterações só podem ser feitas com autorização do autor.