MEMÓRIA

Evento na Faculdade de Educação relembra os 50 anos da invasão da UnB por militares. Placa foi descerrada em homenagem aos defensores da democracia

 

Ao lado do vice-reitor Enrique Huelva e dos ex-reitores Antônio Ibañez e José Geraldo, Márcia Abrahão discursou próximo à quadra José Maurício Honório Filho, no campus Darcy Ribeiro, onde pessoas foram retidas em 1968. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

Em 29 de agosto de 1968, cerca de 500 estudantes e professores da Universidade de Brasília foram obrigados por forças militares que invadiram o campus Darcy Ribeiro a ficarem concentrados em uma quadra esportiva. O episódio de cerceamento marcou a época de repressão na UnB, ocorrida nos anos da ditadura.

 

Entre as invasões ocorridas no campus durante o período do governo militar, aquela foi a mais violenta. “De repente, começamos a ver os estudantes tentando se agregar nos laboratórios. Atrás deles vinha o exército, que começou a destruir aparelhos e equipamentos. Foi um horror total”, contou a médica e professora aposentada da UnB Ivonette Santiago de Almeida, que estava na Universidade naquele dia.

 

Nesta quarta-feira (29), exatos 50 anos após o ocorrido, Ivonette e outros personagens participaram do debate Território Livre: 50 anos de 1968 na UnB, ocorrido na Faculdade de Educação (FE). O diretor da Faculdade de Comunicação (FAC), Fernando Oliveira Paulino, comandou as discussões. Também participaram do debate o vice-reitor Enrique Huelva, os professores Alex Calheiros, Hélio Doyle e o ex-estudante Cláudio Almeida, um dos presos durante o episódio. O evento faz parte de uma série de atividades que relembram o fatídico ano e suas repercussões. 

Professor Hélio Doyle fala durante debate Território Livre: 50 anos de 1968 na UnB. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

O estopim da confusão naquele dia foi a prisão do estudante e militante Honestino Guimarães. A polícia chegou ao campus na manhã de 29 de agosto de 1968, enquanto os alunos protestavam contra a morte do secundarista Edson Luís de Lima Souto, assassinado por policiais militares no Rio de Janeiro. Cerca de 3 mil alunos reuniram-se na praça localizada entre a FE e a quadra José Maurício Honório Filho (ao lado da Praça Chico Mendes). Além de Honestino, outros seis estudantes foram presos.

 

Em sequência, a notícia das prisões se espalhou pelo campus. Revoltados com o ato, os estudantes responderam de forma violenta e foram duramente reprimidos pela polícia, que acuou os universitários com tiros e bombas, no Instituto Central de Ciências (ICC). “Parte dos policiais rumaram para o ICC Sul porque no laboratório de engenharia mecânica havia material que poderia ser usado pelos estudantes para se defender”, relatou Antônio Ibañez Ruiz, professor do Departamento de Engenharia Mecânica e ex-reitor da UnB (1989-1993).

 

“Já ouvíamos tiros a distância”, narrou, reforçando que, apesar da presença de docentes no episódio, o protagonismo nas ações de resistência coube aos estudantes. Do ICC, alunos e professores foram conduzidos à quadra. Ao final daquele dia, 60 pessoas acabaram presas e o estudante Waldemar Alves foi baleado na cabeça, ficando meses em estado grave no hospital.

 

Presente no evento que rememorou estes acontecimentos, o chefe de gabinete da Reitoria, Paulo Cesar Marques, elogiou o interesse e a presença de jovens no encontro. “Falamos aqui de um passado não tão distante. Ainda estamos muitos aqui, vivos”, reforçou Lenine Bueno Monteiro, à época vice-presidente da Federação dos Estudantes Universitários de Brasília (Feub), sob gestão de Honestino Guimarães. Lenine conseguiu evitar ser preso no dia da invasão ao fugir pela tubulação de águas pluviais da UnB, que desembocava no Lago Paranoá.

Ao lado da placa e à frente da quadra esportiva, Lenine Bueno Monteiro relembra os acontecimentos de 29 de agosto de 1968. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB 

 

PLACA – “A UnB foi criada para ser de vanguarda. Essa é uma data simbólica para a Universidade, que hoje reafirma seu comprometimento com a democracia. Estamos em um momento em que cada vez mais precisamos reforçar nossa autonomia”, discursou a reitora Márcia Abrahão, ao inaugurar uma placa em memória aos presos políticos na UnB, junto com o docente da FE Erlando Rêses, coordenador do Centro Memória Viva.

 

A cerimônia também contou com a presença do cineasta Wladimir Carvalho, diretor do documentário Barra 68, que retrata os anos de violência militar na UnB durante o regime de exceção. O filme foi exibido para o público, ao final do evento, no pavilhão OCA 2, histórico espaço onde está planejada a criação de um memorial da Universidade de Brasília.

 

Além da FAC e da FE, participaram da organização do evento o Decanato de Extensão (DEX), a Casa da Cultura da América Latina (CAL), o Centro Memória Viva e a Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade (CATMV). Mais informações sobre o que aconteceu na UnB, em 1968, podem ser encontradas no Relatório da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade. 

 

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