INTERNACIONAL

Ministro belga palestra diante de auditório lotado e apresenta uma aula magna sobre gestão cultural

Foto: Gabriela Studart/UnB Agência

 

O ministro-presidente da Federação Valônia-Bruxelas, Rudy Demotte, debateu a gestão de diversidade cultural no mundo contemporâneo na manhã da última sexta-feira (29), na Universidade de Brasília.

 

A conferência lotou o auditório da Reitoria. Além de alunos, professores, políticos, e interessados no tema, a atividade reuniu diplomatas, como os embaixadores de Bélgica, Tunísia, Suécia, Costa do Marfim e Nicarágua. A vice-reitora da UnB Sônia Báo também acompanhou o encontro.

 

Na abertura, o decano de Pesquisa e Pós-Graduação, Jaime Santana, salientou a importância do trabalho realizado pelo embaixador da Bélgica no Brasil, Jozef Smets, juntamente com sua equipe, em prol da aproximação entre os dois países.

 

O diretor do Museu Nacional Honestino Guimarães, Wagner Barja, falou sobre o desenvolvimento da cultura brasileira e como a mestiçagem foi seu “ponto de mutação”. Barja mencionou ainda o exemplo de Aleijadinho, que teve enorme contribuição para “salvar a arte de seu tempo de um declínio que já ocorria na Europa”.

 

Demotte foi introduzido ao público pelo embaixador belga, que ressaltou a longa carreira política do ministro à frente de pastas federais e regionais.

 

O ministro iniciou sua fala retomando o aspecto destacado por Barja – a mestiçagem. “Esta universidade entende que a mestiçagem é o antídoto para a incompreensão, para a intolerância”, disse.

 

Para explorar a relação entre diferentes culturas e o contato de diferentes culturas, Demotte exemplificou com o caso de recentes atentados terroristas (ataque ao Museu do Bardo, em Túnis, Tunísia; e ataque à ONU, em Timbuktu, no Mali).

 

Segundo Demotte, atentados desta natureza são exemplos de “atos que buscam não somente derramamento de sangue, mas também a destruição do outro, motivados [os terroristas] pela incapacidade de reconhecer a diversidade como riqueza”. “Para grupos extremistas, o pior de seus pesadelos é mestiçar-se, como se houvesse uma pureza original”, concluiu.

Foto: Gabriela Studart/UnB Agência

 

O âmago do debate, para Rudy Demotte, está na relação entre a universalidade e o individual. Segundo o ministro, a globalização provocou uma crise de identidade generalizada e que tornou homogêneas as diferenças. Segundo o ministro belga, essa homogeneização opera em favor dos grandes mercados, pois torna tudo – inclusive a cultura – em produto.

 

Demotte acrescentou que a crise de identidade estaria presente também nas relações. Para o ministro belga, até mesmo os relacionamentos interpessoais foram “aplainados” na contemporaneidade. “As identidades individuais, além das coletivas, estão colocadas em perigo”, pontuou.

 

Demotte questionou o papel da política ao intervir na cultura e não titubeou ao concluir: “certamente não é o de ordenar”. Observando criticamente, o ministro belga afirmou que a política tornou-se órfã de seu próprio poder e que “o homem ‘animal-político’ perde hoje suas referências quanto a sua própria organização”.

 

Frente às perguntas finais, Demotte encerrou voltando ao ponto central do debate, o ‘espelho da humanidade’. “Conhecer o outro é necessário, mas nunca é suficiente. É necessário ir além. É preciso reconhecer”, disse.

ATENÇÃO O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor e expressa sua visão sobre assuntos atuais. Os textos podem ser reproduzidos em qualquer tipo de mídia desde que sejam citados os créditos do autor. Edições ou alterações só podem ser feitas com autorização do autor.