INGRESSO

UnB foi pioneira no Brasil na implantação de um sistema que avalia o estudante ao longo de vários anos

Era 1985. Em meio ao processo de redemocratização do Brasil, a Universidade de Brasília começava as discussões para implantar um novo formato de ingresso de alunos na instituição. Não era só desejo de mudança. Os esforços integravam a vontade de minimizar as distorções no ensino decorrentes do, até então, tradicional sistema de vestibular adotado pelas universidades.

 

A proposta era selecionar os futuros estudantes por meio de uma avaliação que considerasse seu desempenho ao longo de todo o Ensino Médio, à época, chamado de 2º Grau. Surgia, assim, a ideia de um vestibular em etapas múltiplas, modelo já adotado em outros países.

 

Ilustração: Apoena Pinheiro/UnB Agência

 

E quais as vantagens desse novo sistema? De acordo com documento* da Comissão Permanente de Vestibular (Copeve/UnB), elaborado em 1986, o sistema ofereceria melhores oportunidades de avaliação para o candidato e para a universidade, diluindo a alta atenção psicológica proveniente do vestibular tradicional. A avaliação seriada também permitiria que alunos, professores e familiares comparassem performances individuais e de colégios, ao longo dos anos, além de integrar o planejamento educacional do ensino básico, médio e universitário.

 

A integração entre a universidade e a educação básica, segundo o atual decano de Ensino de Graduação da UnB, Mauro Rabelo, é o grande princípio de uma seleção que avalia o aluno de forma processual. “Desde o início, a Universidade de Brasília decidiu inserir as escolas no debate do acesso ao ensino superior, priorizando que elas dessem suas contribuições sobre a melhor maneira de avaliar o estudante que ingressaria na universidade. Criamos fóruns permanentes de professores, estudantes e pais, nos quais temos a oportunidade de discutir várias questões”, destaca o professor.

 

“A aproximação do Ensino Superior ao Ensino Médio é o grande legado desse sistema. As escolas se voltam à formação contínua do aluno, facilitando o diálogo com os conhecimentos e com a própria universidade”, reforça a vice-reitora da UnB, Sônia Nair Báo.

 

O Programa de Avaliação Seriada (PAS), idealizado pelo professor Lauro Morhy, foi instituído na UnB em 1995. As primeiras provas foram aplicadas em 1996 e os 880 primeiros aprovados ingressaram na Universidade de Brasília no ano de 1999. Até hoje, mais de 21 mil alunos entraram na instituição por meio do PAS, sendo que mais de 7,8 mil se formaram e 7,1 mil estão cursando a graduação.

 

Ilustração: Apoena Pinheiro/UnB Agência

 

A estudante do 4º semestre do curso de Jornalismo Ana Carolina Fonseca foi aprovada no PAS 2010/2012. “Com as provas anuais durante todo o Ensino Médio, consegui planejar meus estudos e não passei pelo estresse e pela pressão da maioria dos vestibulandos. Fiz dois vestibulares tradicionais e não fui aprovada, pelo PAS eu consegui com tranquilidade”, pondera. Para quem quer entrar na universidade pelo Programa de Avaliação Seriada, a graduanda aconselha ter calma e estudar ao longo de todo o ano o conteúdo oferecido na escola.

Ana Carolina: com as provas anuais, consegui planejar meus estudos. Foto: Júlia Seabra/UnB Agência

 

O decano Mauro Rabelo reitera que o PAS permite uma autocrítica de desempenho dos alunos e da própria escola ao logo do processo para que possam, inclusive, diagnosticar fortalezas e corrigir deficiências nos anos seguintes. “Isso tem um reflexo na qualidade do estudante que entra na UnB. A média do Índice de Desenvolvimento Acadêmico (IRA) dos que ingressam via PAS é superior aos do vestibular tradicional. São menos reprovações e menos trancamentos de disciplinas”, explica.

 

DESAFIOS – “Sem dúvida, o PAS é um sistema consolidado”, garante o decano Mauro Rabelo. Para ele, o programa é um caso de sucesso, foi se aprimorando ao longo dos anos e ainda deve avançar a médio/longo prazo. “Estamos discutindo, por exemplo, a concepção da matriz do exame e a aplicação das provas via sistema informatizado”.

Ana Carolina: com as provas anuais, consegui planejar meus estudos. Foto: Júlia Seabra/UnB Agência

 

PROVAS – Nesse ano, os inscritos da 3ª etapa do PAS farão as provas no próximo domingo (23). Os exames das 2ª e 1ª etapas serão no dia 06 e 07 de dezembro, respectivamente. A grande novidade é a inserção do Sistema de Cotas para Negros, que reserva 5% das vagas para estudantes de cor preta ou parda que se declaram negros.

 

“A UnB tem um compromisso, assumido historicamente, de discutir a inclusão social na educação superior e de executar políticas afirmativas. Com as cotas específicas para negros, poderemos acompanhar e avaliar as ações para esse grupo social específico, ainda muito excluído do acesso à universidade”, aponta a diretora do Decanato de Ensino de Graduação, Maria de Fátima Ramos Brandão.

 

Os alunos fazem a opção por um dos sistemas de concorrência na terceira etapa do PAS. Para o ingresso em 2015, além dos 5% para negros, 37,5% das vagas são reservadas para estudantes que cursaram o Ensino Médio em escolas públicas – metade destas vagas é para aqueles com renda familiar bruta per capita igual ou inferior a um 1,5 salário mínimo –, respeitando o percentual de pretos, pardos e indígenas do IBGE.

 

*O documento da Comissão Permanente de Vestibular, que apresentava a proposta para ingresso em etapas múltiplas, foi assinado por Lauro Morhy, Alda Baltar, Daisy C. Leininger, Edmundo Montalvão e Pedro Américo C. Senna.

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