HOMENAGEM

Na cerimônia de outorga, docente comemorou o fato de ser a primeira mulher do Instituto de Física a receber o título

Maria de Fátima da Silva Verdeaux é a primeira mulher do Instituto de Física (IF) a receber o título. Antes dela, outros dois docentes do IF foram condecorados. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

 

Ao som de Ouverture en bleu e Songe de Cristal – ambas as canções compostas para ela por seu marido, o músico Cyrille Verdeaux –, a professora Maria de Fátima da Silva Verdeaux recebeu o título de Professora Emérita da Universidade de Brasília na última sexta-feira (6). Oriunda do Instituto de Física, onde ingressou em 1997, a docente é a primeira mulher da unidade a receber a honraria.

 

“Meus sinceros agradecimentos aos meus colegas do Instituto de Física e aos membros do Consuni que me indicaram e concederam um título tão importante – professora emérita. Ressalto que esta honraria tem significado suplementar para mim, pois sou a primeira mulher do Instituto de Física a recebê-la. Yes!”, celebrou a emérita.

 

“Isso se reveste de simbologia em uma área do conhecimento, a Física, e em uma carreira, essa a de pesquisadora, ainda tão masculinas, além de brancas, eurocêntricas e elitizadas” continuou. Fora dos microfones, Fátima lembrou que quando entrou na graduação em Física, em 1979, havia cem vagas, preenchidas por 95 homens e cinco mulheres. Com o decorrer do tempo, elas foram diminuindo.

 

“Quando me formei, eu era a única mulher da minha turma. Na época, os colegas sempre me viam de forma diferente, tipo ‘o que vc está fazendo aqui?’. O tempo todo falam que a gente acaba se tornando mais dura. E é, porque temos que provar que somos melhores o tempo todo. Que nós somos boas. Os homens não têm essa necessidade”, desabafou.

"É uma alegria muito grande de ver uma mesa composta de mulheres. Yes!", comemorou a homenageada. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

 

Em seu discurso, a docente destacou fatos e aspectos de sua vida que contribuíram para que chegasse até este momento. Sobre sua origem, ela ressaltou que nasceu em uma casa de taipas em São Joaquim do Monte (PE). Com poucos recursos para sustentar a família, seu pai partiu em um pau de arara em busca de emprego. Em Santo André (SP), ele encontrou estabilidade financeira e, após reencontrá-lo, foi ali que ela se criou.

 

Estudou sempre em escolas públicas e fez a graduação na Pontifícia Universidade de São Paulo, entre 1979 e 1985. Em 1987, iniciou o mestrado na Universidade de São Paulo e, dois anos depois, fez doutorado na mesma instituição. Em 1995, emendou o pós-doutorado pela Université Pierre et Marie Curie, na França. E, finalmente, em 1997 iniciou sua carreira na UnB, após passar em concurso para o Instituto de Física (IF).

 

Em 2012, criou, junto a outros professores do IF, o Colegiado de Pós-Graduação em Ensino de Física, com o Mestrado Nacional Profissionalizante em Ensino de Física (MNPEF), patrocinado pela Sociedade Brasileira de Física. Em alguns semestres, o polo UnB, coordenado por Fátima Verdeaux, tornou-se o melhor do país.

 

“O MNPEF da UnB tem o DNA acadêmico da professora Fátima Verdeaux, associando à melhor física, teorias e metodologias de ensino contemporâneas e uma aclaração social para a democratização e qualificação do ensino com pragmatismo e consistência teórica”, afirmou o colega de profissão Marcello Ferreira, que foi orientado por ela quando no mestrado. 

A mesa da cerimônia foi composta apenas por mulheres. Da esquerda para a direita: a homenageada, a reitora Márcia Abrahão e a vice-diretora do IF, Vanessa Carvalho de Andrade. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

 

A vice-diretora do IF, Vanessa Carvalho de Andrade, ressaltou a importância de Fátima Verdeaux para a formação de novos docentes de Física no Distrito Federal. “A professora Fátima dedicou sua vida acadêmica à produção e à disseminação de conhecimento, com atuação preponderante no ensino de Física. Ela vem da área de física experimental. Trouxe grandes contribuições para o Instituto na área de física dura, mas ela realmente teve esse papel na área do ensino de física fundamental, formando alunos: 80% dos professores do DF na área de física, não é um número pequeno”, avaliou.

 

E brincou, ao resgatar o motivo da concessão do título de Professor Emérito na Universidade: “trata-se de um título concedido de forma rigorosa aos professores aposentados, mas eu acho que a professora Maria de Fátima não sabe que está aposentada, porque ela sempre continua seu trabalho”.

 

Em sua vida acadêmica, publicou 44 trabalhos em periódicos de circulação internacional; dois livros; quatro artigos como capítulos de livros e jornais; 19 trabalhos completos de anais de congressos nacionais e internacionais; 18 notas de aula e artigos de popularização de ciências; 73 resumos em congressos nacionais e internacionais; fez 16 apresentações em congressos nacionais e internacionais; 111 participações em eventos, dos quais organizou quatro; orientou 29 estudantes de mestrado, um de doutorado e 16 de iniciação científica.

 

Tudo isso conjugado com o compromisso social de levar o conhecimento ao maior número de pessoas possível. “Na minha vida, não tive facilidade. Tudo sempre foi com muita batalha. Então vejo que é muito importante dar oportunidade para outras pessoas, fazer essa parte social para que aquela pessoa que está no ponto mais distante tenha o mesmo acesso que eu tive estando em São Paulo. Isso é fundamental: que todos tenham direitos e oportunidades iguais. Me pautei nisso a minha carreira toda”, expôs a nova emérita da UnB.

 

HOMENAGEM – O título de Professor Emérito é concedido pela Universidade de Brasília ao docente, aposentado na UnB, que tenha alcançado posição eminente em atividades universitárias. A homenagem a Maria de Fátima da Silva Verdeaux, do Instituto de Física, foi aprovada pelo Conselho Universitário em maio de 2019.

 

Confira trecho da música tocada por Cyrille Verdeaux para a esposa. "Uma declaração de amor, do coração", nas palavras do pianista e compositor.

Imagens: Alex Fábio/UnBTV

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.