PRÉ-LANÇAMENTO

Exibição prévia de documentário sobre o livreiro mais famoso da UnB atraiu diversos admiradores. Lançamento está previsto para 7 de junho, no Cine Brasília

Capacidade máxima do anfiteatro 10 foi superada durante a exibição do filme-homenagem a Chico. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Desde as 17 horas desta quarta-feira (29), Chiquinho não parou. Cada pessoa que chegava fazia questão de ir cumprimentá-lo. E foi assim até que o anfiteatro 10 do Instituto Central de Ciências (ICC) ficou pequeno para acomodar tanta gente. Familiares, amigos, professores, servidores técnicos, estudantes e ex-alunos da UnB estavam lá com um mesmo objetivo: prestigiar Francisco Joaquim de Carvalho, o famoso Chico da livraria.

A história do piauiense que se tornou conhecido em todo o Distrito Federal por sua dedicação aos livros ganhou as telonas, com a produção do documentário Chiquinho, o livreiro da UnB. A exibição de pré-lançamento não poderia ser em outro lugar senão a Universidade de Brasília, onde ele se consagrou como "vendedor de ideias" e conquistou não apenas clientela, mas admiradores.

"É o coroamento desses 44 anos de Universidade, especialmente por ter esse reconhecimento público ainda em vida. Estou muito feliz." Com essas palavras, Chiquinho expressou sua gratidão às mais de 200 pessoas que compareceram ao evento.

Para o diretor do filme, jornalista e professor aposentado da Faculdade de Comunicação Hélio Doyle, a temática do documentário transcende a história de Chiquinho. "É uma homenagem ao livro e à figura do livreiro, que está desaparecendo. A obra trata do gosto pela leitura", resumiu.

Livreiro Chiquinho e professor Hélio Doyle, diretor do documentário. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Além de divulgar o vídeo em festivais de cinema, a expectativa também é fazer exibições em escolas e universidades para despertar o debate sobre o tema. O lançamento oficial será no Cine Brasília, no dia 7 de junho, às 20 horas.

Doyle apresentou ao público a equipe que atuou no documentário, formada por dez profissionais, como assistente de direção, produtor executivo, diretor de fotografia, responsável técnico pelo som, agente de operações e equipe de produção: "Cinema é equipe. Ninguém faz um filme sozinho".

Para ele, o momento é simbólico, pois considera uma infeliz coincidência o fato de o filme ser lançado justamente quando se assiste a episódios de condenação de arte, cultura e ciência. "Começamos a produzir no ano passado, antes das eleições, e agora nos deparamos com essa triste realidade. O documentário é também uma forma de valorizar a UnB", disse o jornalista.

Essa também foi a mensagem deixada pela reitora Márcia Abrahão. "Estamos buscando apoio de todo o DF e vemos que a Universidade continua sendo fundamental para a sociedade", comentou. Ela lembrou que a campanha institucional desse ano – UnB, sua linda! – pretende justamente fortalecer o orgulho e o sentimento de pertencimento à instituição.

RELAÇÃO COM A COMUNIDADE Diversos presentes participaram do documentário dando depoimentos sobre Chiquinho. Um deles é o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Jaime de Almeida. "Eu conheço o Chico há muito tempo e acompanho a história dele aqui, que tem dado uma contribuição muito grande à Universidade. É um trabalho que ele presta generosamente de divulgar bons livros, conversar com as pessoas", elogiou.

Reitora Márcia Abrahão reverenciou a trajetória do livreiro. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

A professora de Literatura Portuguesa Luciana Barreto também foi uma das entrevistadas no documentário e destacou que o personagem é patrimônio efetivo da instituição. "O Chiquinho se confunde com a identidade da UnB. Ele restaura a cultura, a energia, que está tão em falta hoje em dia; estamos muito carentes de leitura", alegou.

Estudante do sexto semestre de Filosofia, Walace da Silva conheceu Chico quando ainda era calouro e desde então frequenta sua livraria. "Desenvolvemos uma amizade de alguns anos. Ele tem uma memória viva de acontecimentos que minha geração não viu. Então é muito bom poder compartilhar as histórias dele."

ORGULHO DA CASA
A família da estrela da noite não poderia ficar de fora. Filho, tias, primos e irmãos compartilharam com ele esse momento tão importante. Sandra Carvalho, prima de Chiquinho, acredita que a homenagem é mais do que justa, pois a vida dele é a livraria.

"O Chico é uma pessoa que todo dia tem um comentário sobre um livro que saiu ou sobre um autor que ele conheceu. A figura dele é completamente relacionada com livros", contou. Quando tem comemoração na família, já se sabe que livros serão dados como presente: "ele escolhe o que tem a ver com cada um".

Convidada pela irmã, que foi aluna de Hélio Doyle, Cristina Flores só conhecia a Livraria do Chico, mas não a figura por trás do nome já famoso em Brasília. "Para mim, foi uma descoberta, porque conhecer a história dele, da pessoa e sua paixão pelo livro me tocou bastante", disse.

A família de Chiquinho, claro, estava lá para prestigiá-lo. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Ela que trabalha na área de educação e psicologia ficou muito sensibilizada porque também ama livros. "Os mais velhos têm superado a resistência à tecnologia, mas não podemos deixar que a nova geração perca o gosto pela leitura", contrapôs.

A possibilidade de ficar na memória das pessoas é muito gratificante para Chico. "Hoje o tempo está corrido, efêmero. Com a chegada das mídias digitais, ter um filme desse vai me dar uma visibilidade para o futuro."

EXEMPLO [CONTÉM SPOILERS] Dos 59 anos de idade, 44 anos foram vividos na Universidade de Brasília. Foi dona Chica, proprietária de uma banca de jornais na UnB, quem ajudou a mudar a vida de Chiquinho, ao convidá-lo em meados dos anos 1970 para trabalhar como vendedor. Ele começou vendendo jornais e na época ainda não sabia ler.

Com o passar dos anos, o autodidata não só adquiriu o gosto pela leitura como se tornou um "assessor bibliográfico", como ele mesmo se define. A partir de sua vivência, ele fez amizades que perduraram por três, quatro gerações inteiras. "A amizade é o que fica de mais importante. É algo sólido e não líquido como dizem os autores da atualidade. Hoje tenho legitimidade e sou muito feliz de prestar um serviço cultural, intelectual", assegura Chico.

Prova disso são os inúmeros episódios em que a solidariedade das pessoas marcou sua trajetória. Há alguns anos, a campanha Fica, Chico  tornou-se um emblema da conquista de seu espaço na Universidade. A possibilidade de sua banca ser retirada do Minhocão mobilizou a comunidade.

Lisonjeado com a homenagem, Chiquinho saudou com alegria os presentes. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Além de autógrafos de centenas de escritores e personalidades, o livreiro também acumula outras conquistas, tais como: ter sido um dos palestrantes do TEDx (Technology, Entertainment and Design) em 2015; ter sido eleito por votação popular para carregar a tocha olímpica em 2016; ter participado de diversas edições da Flip (Feira Literária Internacional de Paraty).

Mesmo com todas as adversidades, Chiquinho ensina que os sonhos não são impossíveis de serem alcançados e que a simplicidade e a humildade ainda são grandes qualidades do ser humano. Para quem ama histórias, nada mais digno do que celebrar sua biografia documentada pela sétima arte.

 

 

 

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