OUTORGA

Em 40 anos de trajetória acadêmica, docente notabilizou-se por pesquisas no Cerrado e contribuições para o desenvolvimento científico do Distrito Federal

Ao lado da reitora Márcia Abrahão, emérita Ivone Rezende exibe seu título. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

“O professor emérito é aquele que incentivou centenas de jovens cérebros com seu conhecimento, transmitido com dedicação e entusiasmo. É aquele pesquisador que contribuiu com seus estudos para gerar avanços significativos na sua área de atuação. É um profissional ético e participativo na comunidade científica, doando-se altruisticamente para que a instituição possa progredir e atingir seus objetivos. Você é mais do que merecedora desse título por agregar todas essas qualidades.” Ouvindo essas palavras, Ivone Rezende Diniz entrou para o rol de eméritos da UnB.

 

O discurso proferido pela oradora Regina Macedo, professora do Instituto de Ciências Biológicas (IB), traduz apenas parte das experiências de Ivone Rezende em quase 40 anos de dedicação à UnB e ao Departamento de Zoologia do IB. Não à toa, familiares, amigos, colegas de profissão e ex-alunos receberam a docente com aplausos durante a cerimônia de outorga da honraria, na última sexta-feira (24), no auditório da Reitoria. 

 

Natural de Esmeraldas, município no interior de Minas Gerais, a emérita viveu uma infância pacata na fazenda, com os pais e seus 14 irmãos. “Tive uma família de origem rural que valorizava os bastiões das Gerais. Sempre me sentia livre para fazer as minhas escolhas”, relatou Ivone, que descobriu cedo o gosto pela ecologia e zoologia.

 

Dos saberes oriundos do campo, vieram os anseios pelo aprendizado formal. Em 1971, graduou-se em História Natural pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Cinco anos depois, ingressou na UnB para cursar o mestrado em Ecologia, se tornando, possivelmente, a primeira mulher no Brasil a obter o título na área em uma instituição federal.

 

Em 1977, pouco antes de concluir o mestrado, foi contratada como professora da UnB, onde viveu sua segunda experiência de repressão após o golpe militar de 1964. A primeira ocorreu enquanto estudante de graduação. “O ano de 1977 foi caracterizado por uma enorme crise na UnB, com greve de vários meses e professores impossibilitados de exercer a docência, pois a universidade estava ocupada por militares”, lembrou. 

Colegas, amigos, familiares e ex-alunos celebraram com aplausos a entrada da homenageada. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Apesar dos momentos desafiadores, houve dias de glória. No início da década de 1980, morou em Edimburgo, na Escócia, para realizar outro mestrado, desta vez em Filosofia. Em seguida, doutorou-se em Ecologia pela UnB. Ao longo da carreira, desenvolveu trabalhos diversos na área, tendo como principais temáticas de atuação o Cerrado e as interações entre insetos herbívoros e plantas hospedeiras do bioma.

 

Com as pesquisas, consolidou um currículo que contabiliza 79 publicações em diversas revistas científicas brasileiras e internacionais, quatro livros organizados e 20 capítulos publicados. Foi também orientadora de 46 alunos de graduação, 29 de pós-graduação e quatro pós-doutorandos.

 

O reconhecimento de seus saberes evidencia-se ainda na atuação em cargos de gestão. Foi coordenadora de dois programas de pós-graduação – em Biologia Animal e em Ecologia –, chefe do Departamento de Zoologia e vice-diretora e diretora do IB. Em 2007, foi indicada para assumir a vice-presidência da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) e, em 2015, chegou à presidência, contribuindo para o desenvolvimento científico local.

 

Aposentada desde 2017, a emérita guarda carinho especial por outras conquistas alcançadas na UnB: conseguiu graduar seus três filhos na casa e uniu-se ao esposo, Antônio José Escobar Brussi, professor do Instituto de Ciência Política (Ipol).

 

Para o futuro, estima continuar contribuindo para a construção do saber científico. “Coloco-me à disposição para trabalhar pela UnB, pois acredito que ela continuará a ser a fonte principal das ciências, da cultura e das artes no Distrito Federal e uma das melhores do país. Também acredito que ela continuará na vanguarda em sua missão de lutar por uma sociedade cada vez mais pluralista, esclarecida, harmoniosa e justa”, completou.

 

MULHER MÚLTIPLA – “Você orientou um enorme contingente de jovens aprendizes e, muito mais do que conhecimento, tenho certeza que transmitiu uma ética de trabalho e compromisso com a ciência”, declarou a oradora Regina Macedo à Ivone, também considerada uma grande amiga.

 

Essa, no entanto, é apenas uma das atribuições assumidas pela recém-emérita no dia a dia. Fora das salas de aula, ela é esposa, mãe e avó, papéis, segundo Regina, desempenhados com muita dedicação. “A professora Ivone é prova viva de que é possível conciliar o papel de mulher e a maternidade com a excelência profissional.”

 

A emérita também é descrita pela colega como uma verdadeira aventureira, qualidade revisitada nas memórias sobre as diversas saídas de campo que fizeram juntas. “Depois da primeira viagem, vieram tantas que perdi as contas. Algumas, nem sempre tranquilas”, recordou a docente. Em uma delas, permaneceram paradas por um dia em um ônibus estragado, quando estavam a caminho de Ilha Grande, no Rio de Janeiro, para ministrar um curso de extensão. 

Emérita foi homenageada com canções que marcaram sua vida. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

À frente da tribuna de honra, a reitora Márcia Abrahão reconheceu a homenageada como um exemplo a ser seguido e personalidade que reflete a própria excelência da instituição. “Quando a universidade outorga o título de emérito, ela está mostrando para a nossa sociedade toda a sua qualidade. A professora Ivone representa hoje toda força, competência e ciência de alto nível que a Universidade faz”, salientou.

 

Agradecida pela trajetória trilhada ao lado de professores, técnicos administrativos e alunos do IB, Ivone Rezende confessa: “recomeçaria tudo outra vez na UnB”.

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