SAÚDE

Sucesso na operação foi acompanhado por equipe de oftalmologistas

 

Acostumada a não ver quase nada e a enxergar apenas “sombras”, a professora de ensino fundamental Lígia Christiane de Sousa Silva Santos, 41 anos, está aprendendo agora a identificar fisicamente as pessoas que conhecia apenas pela voz. O motivo foi a recuperação da visão após dois transplantes de córnea realizados no Hospital Universitário de Brasília (HUB).

 

Antes da cirurgia, porém, Lígia conta que vivia praticamente no escuro. “Minha visão era muito embaçada. Eu mal via, apenas ouvia as pessoas”, relata. Nessas condições, sair sozinha era tarefa impossível. Para qualquer lugar que ia, o marido, Valdir Ricardo dos Santos, a acompanhava. Na faculdade, contava com a ajuda de colegas quando precisava se deslocar de um local para outro.

 

Lígia viveu assim por aproximadamente dez anos. Ela procurou vários especialistas, mas nenhum sabia dizer qual era o problema dela, mesmo após a realização de exames. Uma luz surgiu em 2004, quando finalmente um oftalmologista deu o diagnóstico. A professora estava com ceratocone, um distúrbio em que há alteração do formato da córnea.

 

Depois de algumas tentativas de tratamento com óculos e lentes de contato, Lígia desistiu de encontrar solução para a doença. “Não havia grau de óculos e lente de contato que resolvesse meu problema. Minha visão não melhorava”, recorda. Os anos foram passando e, em 2011, enquanto dava aula, ela percebeu que era hora de procurar ajuda médica novamente. “Um aluno caiu na sala de aula e eu não vi, pois não estava enxergando quase nada.”

 

Foi então que se consultou com um especialista do Hospital de Olhos, em Valparaíso. “Foi algo muito abençoado por Deus, pois ele logo me encaminhou para inscrição na fila de transplante ao identificar que eu já estava num estágio avançado da doença”, diz Lígia.

 

TRANSPLANTE - Em poucos dias, ela fez a primeira consulta com a equipe de oftalmologistas do HUB e, meses depois, em fevereiro de 2012, passou pelo primeiro transplante de córnea, no olho direito. Como os procedimentos devem ser realizados separadamente, em junho de 2013, Lígia recebeu a córnea do olho esquerdo.

 

A decisão de realizar o transplante foi difícil, explica o marido. “Um conhecido havia feito a cirurgia, mas teve rejeição. Pelo que ele falou, parecia um procedimento de outro mundo. Ficamos muito assustados. A família também não apoiou, pois tinham medo de que ela ficasse cega. Ficamos a ponto de desistir”, diz Valdir.

 

O temor da cirurgia, no entanto, ficou para trás. “Minha recuperação foi maravilhosa, não tive rejeição e hoje enxergo perfeitamente, com toda nitidez. Passei muitos anos dependendo da ajuda do meu marido. Hoje, posso andar só”, afirma Lígia. Animada com a visão reestabelecida, Lígia brinca: “Eu agora esnobo pela minha capacidade de visão, já que até bula de remédio eu consigo ler”.

 

Na última quinta-feira (25), Lígia passou por avaliação com o oftalmologista Leonardo Capita, do HUB. “Ele é meu anjo. É maravilhoso o cuidado que ele tem com a gente. Ele passa muita confiança”, elogia ela.

 

Lígia saiu contente da consulta, pois a recuperação está indo muito bem. Mesmo assim, ela não descuida dos procedimentos repassados pelo médico. “Sou muito cuidadosa. Evito me agachar, fico longe da poeira, uso óculos de sol para proteção, higienizo os olhos com xampu neutro e uso colírio oito vezes ao dia”, exemplifica.

 

Para aqueles que têm medo da cirurgia, Lígia deixa um recado. “A pessoa tem que ter fé, não perder a esperança e não desistir se tiver problemas ou rejeição. Com fé, removemos montanhas, e eu sou a prova disso. Hoje, tenho outra vida”, afirma.

 

Mãe de duas filhas, uma de 15 e outra de oito anos, Lígia acaba de realizar outro sonho. Ela está grávida de quatro meses do terceiro filho, desejado há muito tempo pelo casal. “Felicidade completa”, declara.

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