CIÊNCIA E SAÚDE

Pesquisadores vão avaliar informações sobre a qualidade de vida de pacientes com tumores de cabeça e pescoço

 

Melhorar a qualidade de vida de pacientes com câncer de cabeça e pescoço e escolher a melhor opção de tratamento para cada caso por meio de evidência científica. Esses são os principais objetivos do projeto HN43 Brasil, pesquisa multicêntrica inédita no país, desenvolvida por iniciativa de pesquisadores do Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) do Hospital Universitário de Brasília (HUB).

 

O estudo consiste em uma coleta de dados para avaliar as variáveis que envolvem a qualidade de vida do paciente com tumor de cabeça e pescoço. Para isso, aplica-se periodicamente um questionário aos pacientes, de forma online, por meio de uma ferramenta criada pelo médico Ricardo de Alencar Vilela, residente do segundo ano de radioterapia, e pelo físico médico Luís Felipe de Oliveira e Silva. “O importante é que seguimos o paciente por pelo menos dois anos para avaliar a mudança que ocorre durante o tratamento, se a qualidade de vida melhora ou piora, observando as variáveis, como o tabagismo, por exemplo”, diz Ricardo.

 

A expectativa é que em dois ou três anos pelo menos mil pacientes em todo o país tenham sido pesquisados. “Até lá, teremos dados absolutamente inéditos na literatura mundial, com número de pacientes e de técnicas diferentes de tratamento, possibilitando a comparação entre eles”, conta o radioterapeuta e chefe do Cacon, Marcos Santos.

 

A proposta é comparar as técnicas de radioterapia usadas, as situações em que houve cirurgia e as estratégias de quimioterapia empregadas para poder ter evidência de quais são as melhores opções que garantam ao paciente viver com mais qualidade. “Hoje não sabemos o que fazer, pois não há dados na literatura. Esperamos esclarecer de forma mais sólida e científica essa situação, o que pode significar inclusive economia financeira, garantindo melhor aplicabilidade de recursos em tratamento”, relata Marcos.

 

Embora a coleta de dados tenha iniciado em fevereiro, após aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética, o estudo vem sendo realizado desde o ano passado, quando o artigo do radioterapeuta Marcos sobre o assunto foi divulgado, o que atraiu o interesse de mais centros de atendimento oncológico em todo o país. O HN43 Brasil já conta com a participação de mais de 30 instituições públicas e privadas do Brasil, com pelo menos 70 pesquisadores envolvidos, o que possibilita maior coleta de dados de pacientes e resultados mais expressivos.

 

Outro diferencial da pesquisa é o perfil dos pacientes avaliados. “Os protocolos de pesquisa geralmente exigem pacientes altamente selecionados, cujos dados não são reprodutíveis na prática. Nossa pesquisa terá dados de mundo real”, afirma Marcos.

 

Segundo o radioterapeuta, o estudo é o primeiro do país com o tema. “Temos um potencial para conseguir informação científica que ninguém no mundo tem, com a importância de definir tratamentos que, para o Brasil, é especialmente relevante, dada a enorme prevalência dessa patologia”, afirma.

 

Para os pesquisadores, o momento representa uma nova fase de produção científica relacionada ao assunto no Brasil. “Queremos tornar o HUB referência em pesquisa, não apenas em tumor de cabeça e pescoço. Já temos iniciativa para abranger outras áreas da radioterapia”, afirma o residente Ricardo. “Nosso objetivo é produzir conhecimento de forma sistemática na área, o que é raro no Brasil”, fala o físico médico Luís Felipe.

 

Aproximadamente 30% dos pacientes em tratamento no Centro de Alta Complexidade em Oncologia do HUB têm tumor de cabeça e pescoço, o que representa em média 150 pessoas por ano. “A doença é devastadora. O paciente não consegue comer, respirar, falar, sentir gosto e cheiro. Há perda de vários prazeres da vida, com tratamento altamente tóxico”, afirma Marcos.

 

INSPIRAÇÃO - A ideia do projeto surgiu há dois anos, quando o radioterapeuta Marcos Santos voltou ao Brasil, após uma temporada de trabalho e estudo na França. Lá, ele teve contato com o trabalho realizado por um grupo especializado em desenvolver questionários de qualidade de vida, integrante da organização científica EORTC (sigla em inglês para Organização Europeia para Pesquisa e Tratamento de Câncer). “A EORTC é conhecida por fazer pesquisa de ponta. Muitas das terapêuticas que usamos no dia a dia, em radioterapia e em oncologia, vêm de pesquisas desse instituto”, diz Marcos.

 

De volta ao Brasil, a iniciativa de aplicar a mesma pesquisa realizada na Europa surgiu naturalmente, com a diferença de que aqui seria possível coletar mais dados e por um sistema informatizado, criado pelos próprios pesquisadores. “Ao chegar ao Brasil, me surpreendi com a quantidade de casos de pacientes que apresentam tumor de cabeça e pescoço e percebi que poderia aplicar os questionários em muito mais pessoas”, afirma Marcos.

 

No futuro, a esperança é poder oferecer uma vida melhor aos pacientes. “Cada vez mais estudos na área identificam resultados parecidos com relação à quantidade de tempo que o paciente vive com a droga A ou com a droga B ou com a técnica A ou B. O que muda não é o tempo, mas como o paciente vive o tempo de vida que ele tem”, conclui.

 

HN43 BRASIL - o questionário aplicado aos pacientes tem 43 perguntas, número que dá nome ao projeto, além das siglas H e N, que significam head (cabeça, em inglês) e neck (pescoço, em inglês), fazendo referência às partes do corpo onde são encontrados os tumores dos pacientes avaliados.

 

Mais informações e contato com os pesquisadores podem ser obtidos pelo site www.hn43brasil.com.

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