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Evento, que faz parte do Mês da Reflexão, contou com a participação de gestoras de universidades do Brasil, de Cabo Verde e da Argentina

Desafios, conquistas e trajetórias de quatro reitoras de universidades foram destaque em live do Mês da Reflexão.  Imagem: Reprodução/DEX

 

Quatro professoras, pesquisadoras e reitoras de renomadas universidades foram convidadas a dialogar sobre a importância de vencer barreiras e enfrentar preconceitos ao assumir cargos de gestão no ambiente acadêmico. Promovido pelo Decanato de Extensão (DEX) da Universidade de Brasília, o debate aconteceu nesta terça-feira (16) em live temática, com transmissão pelo canal Extensão UnB no YouTube.

 

Intitulado A academia e o poder de ser mulher, o evento integrou o Mês da Reflexão, que conta com programação diversificada e conjunta da UnB e do Instituto Federal de Brasília (IFB) para marcar o protagonismo feminino nas lutas históricas por equidade de gênero e em defesa dos direitos das mulheres. O encontro virtual teve a apresentação artística de Thanise Silva, flautista formada no Instituto de Artes da UnB.

 

>> Saiba mais sobre a programação do Mês da Reflexão

 

As reitoras Márcia Abrahão (UnB), Judite da Encarnação (Universidade de Cabo Verde), María Delfina Veiravé (Universidade Nacional do Nordeste da Argentina), e Sandra Goulart (Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG) problematizaram o papel da mulher na gestão universitária.

 

“Ao longo do mês, a UnB está debatendo a condição da mulher sob várias perspectivas na sociedade em que vivemos. Nós organizamos essa mesa para que possamos trazer experiências diferenciadas de localidades distintas, mas também para promover interação entre todos”, expressou a decana de Extensão da UnB, Olgamir Amancia, mediadora do encontro.

“Não podemos falar sobre todas as mulheres que são silenciadas”, defendeu a reitora da UFMG, Sandra Goulart, ao abordar a dinâmica estrutural de poder entre as mulheres. Imagem: Reprodução/DEX

 

DESAFIOS NA GESTÃO – Reitora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sandra Goulart é a terceira mulher a ocupar o cargo na instituição e a primeira, como vice-presidente do Conselho de Reitores da Associação das Universidades Grupo Montevidéu (AUGM). “Tenho o privilégio de ter duas outras reitoras que me antecederam na UFMG”, afirmou.

 

A questão do gênero já faz parte de sua rotina acadêmica, uma vez que a docente pesquisa a inserção das mulheres no contexto da literatura. Ela informou que hoje mais de 50% dos estudantes na graduação e na pós-graduação são mulheres, mas reforçou que elas não estão distribuídas de forma igual em todas as áreas de conhecimento.

 

Um grande desafio é a segregação ocupacional. “É notória a ausência das mulheres nas Ciências Exatas, há um discurso de viés implícito de aptidão de gênero. A grande concentração delas está nas áreas de Humanas e Biológicas”, apontou. Outra preocupação é o efeito tesoura, em que o número de mulheres cai drasticamente à medida que se alcança a pirâmide acadêmica em cargos de destaque. “Isso é extremamente danoso para as mulheres”, lamentou a gestora.

 

Para Goulart, a construção de estereótipos de gênero no país tem um efeito que se expressa nos números da participação feminina em áreas tradicionais, como a política e a economia. “Faltam políticas públicas, ações para estimular a presença das mulheres em posições de destaque.”

 

“Ao homem, é natural que esteja em posições de poder; a mulher custa a desconstruir. Isso leva tempo e parte de uma educação que precisa ser ampla para as mulheres e para os homens”, enfatizou. Ainda que não se possa ignorar as diferenças biológicas entre os sexos, ela acredita que isso não pode ser desculpa para usar o determinismo biológico como justificativa.

 

A reitora da UnB, Márcia Abrahão, reforçou que esses dados são significativos e considera que, se houvesse uma sociedade equânime, não seria necessário promover esse debate. Como geóloga, uma das profissões em que as mulheres são minoria, ela revelou que embora se tenha avançado muito em termos de respeito, as práticas machistas ainda persistem, especialmente nas Ciências Exatas e Engenharias.

A reitora Márcia Abrahão lembrou que Olgamir Amancia – atual decana de Extensão da Universidade de Brasília – foi a primeira a ocupar o cargo de secretária de Estado da Mulher do Distrito Federal. Imagem: Reprodução/DEX

 

“Como gestoras, somos sempre analisadas e precisamos nos reafirmar”, assegurou a gestora. Em sua ótica, isso é uma forma de “os homens duvidarem da nossa capacidade de gestão”. E complementou: “Quando mostramos nossa posição e que existe uma hierarquia, esses homens costumam responder que as mulheres são grosseiras ou duras, mas quando eles agem da mesma forma, muitas vezes, ganham até aplausos”.

 

Por ser a primeira mulher a assumir a Reitoria da UnB, Abrahão alegou que fez um movimento simbólico na gestão. “É a primeira vez que a maioria das decanas são mulheres, e as que comandam as finanças também. É um recado para a sociedade de que a mulher pode ser o que quiser.”

 

EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL – Em 42 anos de história que resultou na fundação da Universidade de Cabo Verde, a participação das mulheres na gestão é bastante expressiva e não é tão recente, tendo em vista que, dos 11 líderes que já passaram pela instituição, seis foram mulheres. A primeira reitora eleita é Judite da Encarnação, que está agora em seu segundo mandato.

 

Em seu ponto de vista, o equilíbrio da distribuição de gênero nas mais diferentes instâncias acadêmicas não significa que haja equidade. “A mulher tem que desbravar caminho e o homem, em princípio, não tem grandes obstáculos”, ressaltou Encarnação.

 

Ela sinalizou seis desafios fundamentais na liderança feminina que percebe em seu dia a dia, e também em conversa com outras mulheres: conquistar a liderança e ter igualdade de oportunidades; manter o feminino na função; vencer o preconceito e as estratégias machistas que existem; equilibrar os diferentes papeis que a mulher exerce; desmitificar rótulos; e conquistar o respeito dos homens e, também, das mulheres que são machistas.

 

“A mulher não deve deixar de ser mulher quando é líder, não deve deixar de cultivar características, como a sensibilidade e a emotividade, que são femininas em essência. Sem exagero e de forma ponderada, precisamos marcar a diferença pela forma que lideramos”, manifestou.

Judite da Encarnação tornou-se reitora na primeira eleição da Universidade de Cabo Verde. Imagem: Reprodução/DEX 

 

Como solução, ela propõe criar mecanismos para contornar as estratégias que são desenhadas no sentido de desvalorização da liderança feminina. “Em Cabo Verde, toda vez que uma mulher vence um desafio, há sempre uma desconfiança, que não está relacionada aos méritos e às competências. Além disso, somos menos perdoadas pelos erros do que os homens”, compartilhou.

 

ROMPER BARREIRAS – María Delfina Veiravé, reitora da Universidade Nacional do Nordeste da Argentina, também mencionou as conquistas da participação da mulher nas universidades, informando que essa expansão teve início na década de 1960 em grande parte dos países da América Latina, em função do contexto social da época, a partir de processos como a urbanização.

 

Conforme relatou, algo que fez a diferença foram os “convênios coletivos de trabalho que propuseram medidas e regulações, que contribuem para inclusão de estratégias”. Entre eles estão os regime de licença, levando em conta os tempos de cuidado e a maternidade, e a flexibilização de ingresso à carreira de pesquisa para mulheres com filhos.

 

Uma questão crucial está relacionada a como melhorar o acesso de mulheres de comunidades indígenas, de classes pobres, imigrantes ou pertencentes a coletivos de diversidade de gênero e sexuais. “A esses casos, somam-se situações de discriminação de forma mais profunda do que as demais”, refletiu.

 

O caminho, para Veiravé, é romper as barreiras psicossociais e materiais que contribuem para a manutenção dos espaços de poder e decisão. Nesse sentido, é importante ir além dos modos tradicionais de exercício de poder, que são basicamente patriarcais, de discriminação, subordinação e controle.

 

“Deve-se pôr a perspectiva de gênero em transversalidade nas condições de igualdade”, resumiu a gestora. Ela lembrou que este é um trabalho coletivo de tomada de consciência e de transmissão cultural de experiências, para que mais mulheres possam se sentir preparadas e em condições de assumir posições de competência.

 

Confira a íntegra do evento:

 

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