OPINIÃO

Fabiane Nogueira Freitas é mestra em Ciência da Informação pela UnB e servidora da Biblioteca Central (BCE/UnB).

Fabiane Nogueira Freitas

 

Quando pensamos em ambientes democráticos em nossa sociedade logo vêm as bibliotecas em nossas mentes, ou, ao menos, logo deveria vir em nosso imaginário esse lugar tanto destinado ao provimento e acesso dos mais diversos tipos de informação, bem como ao acolhimento das pessoas. Àquelas bibliotecas vistas como depósitos de livros, longe de serem um local de acolhida, estão ligadas a um passado, esperamos que superado, pelo menos na maioria dos lugares. Um momento no tempo que parece estar distante da nossa querida e movimentada Biblioteca Central da UnB (BCE) e de muitas outras bibliotecas universitárias e públicas espalhadas em nossos espaços educacionais.


Na BCE, buscamos ser um espaço democrático. A Biblioteca Digital e Sonora (BDS), que é o carro chefe da instituição quando o assunto é acessibilidade, foi inaugurada em 2008 com o objetivo de ser um repositório para organização e acesso de conteúdos adaptados. Além da BDS, há cabines com isolamento acústico destinadas às pessoas com deficiência visual, ferramentas de acessibilidade no site e bases de dados assinadas pela biblioteca, acervos em braille e libras, além de outros produtos e serviços destinados às pessoas com deficiência, garantidos também pelo programa de Assistência Estudantil da UnB.

Parece então que a biblioteca cumpre seu papel no quesito acessibilidade, afinal, não há dúvida que dispomos de serviços destinados a esse público. Porém, pensando em um lugar de todas e todos, não podemos deixar de refletir se mesmo com uma biblioteca movimentada e viva encontramos nela um reflexo de nossa sociedade. Aonde queremos chegar com isso? Será que observamos nas bibliotecas do país uma amostra real de toda a diversidade contemplada em nossa comunidade? De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde, divulgada pelo IBGE, cerca de 8,4% da população brasileira possui alguma deficiência. É possível afirmar que essa mesma proporção é contemplada em nosso ambiente universitário... em nossa biblioteca? A impressão que se tem é que ainda estamos distantes dessa simetria, mesmo com os esforços dispostos até aqui.

Pensando nisso, é imprescindível para uma biblioteca refletir seu funcionamento para além da prestação de serviços acessíveis, mas também compreender como funciona nossa sociedade. Entender como pessoas com deficiência conseguem se mover na cidade até chegar ao nosso prédio, refletir sobre o nível de letramento que os estudantes com deficiência chegam ao ensino superior a fim de lhes facilitar o uso de todas as tecnologias disponíveis na biblioteca e verificar qual método esses estudantes usam para consumir informações, também são tarefas de uma biblioteca acolhedora.

Temos que ir além da disponibilização de serviços acessíveis se o que desejamos é ser parte da construção de uma sociedade mais justa, fraterna e equitativa. É preciso, ainda mais no caso das pessoas com deficiência, estarmos alinhados com as soluções para os problemas de nossa população e agir além das fronteiras da nossa Universidade. Assim, continuaremos no caminho de traçar estratégias que de fato promovam a inclusão.

 

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