OPINIÃO

Catarina de Almeida Santos é professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo.

Catarina de Almeida Santos 

 

Caetano Veloso começa a letra da música Força Estranha dizendo que viu um menino correndo, mas também viu o tempo brincando ao redor do caminho daquele menino. Três dias separam o dia dos que brincam e correm e daqueles que têm a complexa e difícil tarefa de fazer, de forma intencional, do correr e do brincar dos meninos e meninas um processo formativo e formador.


Se no dia 12 de outubro comemoramos o Dia das Crianças, hoje, dia 15, celebramos das professoras e dos professores, profissionais que por dever de ofício preparam o futuro tecendo o presente. Dia de quem precisa pôr os pés no riacho, no rio, no chão, no deserto ou pomar para construir com crianças, adolescentes, jovens e adultos o ato de educar.

 

Hoje é a data que o Brasil comemora o dia daquelas e daqueles que têm a difícil, desafiadora e tão importante tarefa de educar e educar-se, que aprende enquanto e com quem ensina.


A nossa Constituição diz que a educação é direito e para que assim seja, precisa ser de todas as pessoas, mas também é dever, do Estado, família e todos nós. Tem finalidades e intencionalidades: desenvolver plenamente os sujeitos, formá-los para construir uma sociedade que respeite e garanta a sua condição de sujeitos plenos, consequentemente diversos. Define também que a educação tem princípios, condições e precisa de profissionais específicos: professoras e professores, responsáveis pela mediação da construção do processo de ensino-aprendizagem.

 

Os dois últimos anos tornaram o nosso dever de ofício ainda mais desafiador, como se já não bastasse o tamanho da responsabilidade de ser os agentes do direito dos direitos, como no ensinou o grande educador Anísio Teixeira, em um país que historicamente faz da negação do direito à educação projeto e condição para negar o direito de sonhar, de viver e de existir. Para negar a sua população o direito de saber que tem direitos e as ferramentas para lutar por eles.

 

Estamos celebrando o 15 de outubro, pelo segundo ano, ainda em meio a uma pandemia que nos obrigou a aprender novas formas de organizar os processos educativos, a repensar o funcionamento das redes escolares, a encarar as desigualdades de acesso à educação, a tecnologia e aos bens mais básicos, a redefinir a vida e a docência no ensino remoto - modalidade em definição.


A pandemia fez com que nós educadores nos juntássemos para fazermos de uma outro forma, uma forma que minimizasse a exclusão, a dor inevitável das perdas, a busca de novos caminhos, de não tirar de nós essa força estranha.


E tomo a liberdade de mesmo sem poder Caetanear, parafrasear os versos da sua canção para dizer que a pandemia mostrou que apesar de todos os ataques, educadoras e educadores são os que conhecem “o jogo do fogo das coisas que são” o tempo, a estrada e o chão dos processos de educar. Foram elas e eles que ouviram e continuam ouvindo os gritos das e dos estudantes e sabem de muitas das suas dores, carências e vontades encobertas.


Nessa Carta, além de parabenizar, aos que assim como eu tem o ato intencional de ensinar e aprender como exercício profissional, deixo o alerta para pensarmos sobre o papel político que temos como educadores e o convite para continuarmos na luta por uma democracia real, por educação de qualidade, pela superação dos mitos, dos intolerantes e da intolerância.

 

Que nos inspiremos nos versos de Milton Nascimento, na canção Carta à República:


Sim é verdade, a vida é mais livre
[...]
E até dá pra pensar no futuro
[...]
Mas eu não posso esconder a amargura
Ao ver que o sonho anda pra trás
E a mentira voltou
[...]
E foi por ter posto a mão no futuro
Que no presente preciso ser duro
E eu não posso me acomodar
Quero um país melhor

Feliz dia das professoras e dos professores!!

 

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