OPINIÃO

Aldo Paviani  é geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília, membro da Associação Nacional de Escritores (ANE) e do Instituto Histórico Geográfico do DF (IHG.DF) e do Núcleo do Futuro da UnB/Ceam. Doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Aldo Paviani

 

Abril normalmente é um mês de transição meteorológica: quando não se tem temperaturas elevadas ou sufocantes, nem chuvas torrenciais. É o mês de entrada no período de estiagem. Em 2020, o abril, além das transições, será o mês de uma transição nunca antes surgida, a que nos leva a sair, aos poucos da pandemia, trazida pelo covid-19, após longos dias do “fique em casa”, em razão dos riscos trazidos pela pandemia. O medo de contágio em grande escala estimulou as cautelas e colaborou para conter a propagação da corona vírus perigoso, aqui e no resto do mundo.  


Resulta deste cenário que a Capital da República, com quase 70% de sua população obedecendo o confinamento social recomendado, evitou a disseminação do contágio, em certos casos fatal. Grande contingente de pessoas, por consequência, não sai de casa; os escritórios se encontram fechados, assim como as repartições federais e  do Distrito Federal.  Todos assumindo o salvador trabalho em casa (home office). Muitas lojas permaneceram fechadas. Aqui e ali, a população procura por abastecimento de produtos alimentícios e resolução de problemas menos complexos. Dentistas e médicos fecharam clínicas e consultórios mas, se viram compelidos a inaugurar as consultas remotas (vulgo on-line). Mas, dor de dente e cirurgias emergenciais obrigam a abertura de consultórios dentários e centros cirúrgicos de alguns hospitais. Em todos os locais de serviços, a rotina é não sair de casa ou sair apenas em casos de extrema necessidade e urgência. As escolas e universidades, optaram por, em alguns casos, cancelar o semestre; em outros casos, toda a rotina não foi a das salas de aula, mas a dos “deveres de casa”. E deixa de ser “invisível” o uso e a ajuda do computador para a execução dos trabalhos demandados pelas escolas.


Na Universidade de Brasília, as salas de aula, laboratórios e auditórios permaneceram fechados, assim como os serviços de administração central: nunca se utilizou tanto o computador e a internet para preencher o que, antes da pandemia, era executado presencialmente. Foi a oportunidade de se ter ruas e avenidas livres dos ônibus escolares e dos automóveis que antes eram “de porta a porta” (casa-escola-casa). Por isso, os estacionamentos dos colégios e das universidades deixam de estar superlotados.  A algazarra de crianças e jovens estudantes fez baixar o ruído e a grande presença foi o silêncio.


Pelo que se percebe, tanto os 60 anos de Brasília, quanto os 58 anos da UnB, terão os festejos postergados para quando a curva dos contaminados declinar ao ponto de não se temer recidiva. Essa é recomendação do OMS e os mais ajuizados obedecem e evitam se expor. Quem estiver propenso ao retorno, nos próximos dias, das atividades “normais”, terá que assumir a responsabilidade do que vier a acontecer, pois autoridades e pessoas responsáveis tem enfatizado que “o mundo não será como antes” (da pandemia).


Das cautelas é bem provável que as condições do “antes” levem meses para serem assumidas por todos. Há enorme contingente de “pessoas de risco”, os idosos, os que possuam doenças crônicas ou possuem baixa imunidade. Na outra ponta, as mulheres grávidas e os recém nascidos, ainda devem observar a quarentena, não por desejo próprio, mas por uma imposição das circunstâncias ainda não seguras para todos.


É importante que a Capital da República seja cautelosa na saída do isolamento social, mesmo com algum risco de abalos nas atividades econômicas. Provavelmente, muitas empresas terão que repensar suas estruturas r modo de atuação. Novas tecnologias deverão testadas para evitar o provável desarranjo que vier a acontecer. Preparar novo modo de aproveitar as respectivas cabeças pensantes e fazer as demandas necessárias de pessoal qualificado, inclusive no domínio de ao menos uma língua estrangeira, pois o mundo econômico, as vendas e o consumo, não serão mais os mesmos de antes do covid-19. Ao se falar em volta à “normalidade”, qual a contribuição que cada um dará para que se façam os ajustamentos necessários aos novos tempos.


É de se esperar que, fruto do isolamento, todos sejam mais solidários uns com os outros. Os desvalidos e as pessoas quase-esquecidas – os que vivem em “situação de rua” –  sejam merecedoras  do olhar solidário.  Portanto, surge no horizonte um trabalho de reconstrução como se tivéssemos passado por uma “guerra” cruel e devastadora. Igualmente, as empresas e toda a economia deverá se soerguer. Em sequência, o retorno à vida normal não é utopia, mas uma necessidade de o medo ser substituído pela esperança

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