OPINIÃO

Aldo Paviani  é geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília, membro da Associação Nacional de Escritores (ANE) e do Instituto Histórico Geográfico do DF (IHG.DF) e do Núcleo do Futuro da UnB/Ceam. Doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Aldo Paviani

 
Os noticiários de televisão mostram, diariamente, o caos no trânsito nas metrópoles nacionais. Com isso, indicam opções para quem quer sair do tráfego congestionado. O congestionamento é referido em quilômetros de extensão em horários de pico –— das 6h às 9h e das 17h às 19h. A descrição faz entender que os gestores das metrópoles optaram pelo uso de veículos automotores, automóveis, caminhões e ônibus para atender à mobilidade urbana. Quando há acidentes, o que já era crítico, se torna caótico porque a remoção dos veículos acidentados leva horas.

A mídia não faz referência ao tráfego de trens de passageiros. As ferrovias não se disseminam na malha urbana. Os trens existentes possuem uma linha tronco em direção à periferia metropolitana, como é o caso do Rio e de São Paulo. Observe-se que algumas metrópoles possuem metrôs com trajetos subterrâneos e só geram noticiário em caso de greves, falta de energia ou composição quebrada. Esse quadro se repete em todas as grandes cidades. Nelas, a fluidez é rara ou inexiste.

O tráfego é um dos grandes nós para os administradores metropolitanos: quanto maior o território urbanizado, mais entraves à livre circulação de veículos. As periferias se tornaram dormitórios, e as atividades que oferecem postos de trabalho estão distantes. Mesmo com a ampliação das vias, construção de anéis viários, viadutos e pontes, o tráfego empaca. Mais: emite gás carbônico e o ar nas grandes cidades se torna tóxico, um grande problema.

 

A propósito de poluição urbana, a revista Pesquisa, da Fapesp, nº 262, traz como matéria de capa o que se deseja Por uma cidade mais saudável. O lead mostra que "Novos estudos indicam que integrar saúde pública e planejamento urbano pode trazer mais benefícios do que custos”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a ONU alertam sobre os efeitos nocivos da poluição urbana, pois ocasionam: “... um terço dos casos de morte por câncer de pulmão, por acidentes vasculares cerebrais (AVCs), por doença cardiovascular e por doença pulmonar obstrutiva crônica”. Medidas antipoluição obtiveram no mundo todo a adesão de 37 grandes cidades (nenhuma brasileira), as quais aderiram à campanha ao assumir o compromisso de atingir a meta da OMS de reduzir a poluição do ar e, com isso, evitar os danos por emissões de dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), causadoras de riscos aos homens, animais e plantas.

Essa campanha deveria ser adotada também pelas metrópoles brasileiras, apoiando pesquisas sobre o montante de automóveis e caminhões que, estando com motores desregulados, são grandes poluidores. De posse dos dados colhidos, os gestores lançariam campanhas para reduzir a poluição atmosférica; ao mesmo tempo fiscalizariam os maiores poluidores.

Aferindo os resultados, seriam oferecidos benefícios aos que apresentarem melhores resultados com substancial freio da poluição, enquanto trafegam em meio urbano. Há outras medidas como a de país europeu estabelecendo a eliminação total de veículos movidos a diesel no prazo de dois anos. Igualmente, dará incentivos ao uso de veículos movidos a eletricidade ou híbridos. Essa é a tendência mundial para evitar o agravamento das mudanças climáticas — verões quentes e catástrofes ambientais como os incêndios florestais na Califórnia e na Austrália. Outros desastres são as chuvas torrenciais com enchentes, deslizamento de encostas e derretimento de geleiras polares e dos picos das mais altas montanhas.

Que soluções se anteveem para os problemas apontados? Quanto aos congestionamentos: utilizar modais com maior capacidade de transporte de passageiros como o metrô e trem suburbano. No futuro, além de veículos híbridos, haverá utilização de energia solar nos transportes coletivos. Também será importante desestimular o uso de automóveis e substituí-los por outros meios como o ônibus, VLT, metrô regional e também o transporte solidário. Por seu lado, há transportes alternativos – bicicletas, patinetes ou a ida ao trabalho a pé.

No que toca à poluição, as soluções, de médio e longo prazos, dependem de acordos multilaterais a respeito da redução conjunta de indústrias e veículos poluentes, término do uso de combustíveis fósseis como carvão, diesel, gás e gasolina nas atividades produtivas e nos transportes de massa. Há dificuldade em implementar essas medidas porque grandes potências industriais não aderem aos protocolos ambientais coletivos. Por isso, o aquecimento global vai acontecendo com danos sem retorno.

 

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Publicado originalmente no Correio Braziliense em 31/12/2019

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