Rafael Amaral Shayani
As emissões de gases de efeito estufa bateram novo recorde, sem sinal claro de desaceleração, conforme relatório publicado pela ONU para a COP25, que ocorre na Espanha em 2019. O setor energético mundial continua como um dos grandes emissores desses gases. Tal realidade suscita reflexões sobre a importância da formação universitária da engenharia, e o papel dos professores para reverter esse quadro.
Parece que a preocupação com a emergência climática ainda não sensibilizou toda a sociedade. Trata-se de um fato de grandes proporções e que promoverá mudanças importantes na temperatura e na vida do planeta. Mesmo assim, as emissões continuam aumentando, como se o problema fosse algo distante e não necessitasse de ações imediatas.
O Acordo de Paris, assinado na COP21 em 2015, alerta para a importância de abordagens não mercadológicas integradas, holísticas e equilibradas, e também ressalta a importância do “desenvolvimento de capacidades” para o combate às mudanças climáticas. Ora, o papel do professor universitário é desenvolver capacidades nos alunos! Porém o que se espera não é apenas uma forte formação técnica mas, também, que o aluno tenha uma visão holística e humanista, seja crítico, reflexivo, criativo, cooperativo e ético, com atuação inovadora e empreendedora, reconhecendo as necessidades da sociedade, adotando perspectivas multidisciplinares e transdisciplinares, considerando os aspectos globais, políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e de segurança e saúde no trabalho, além de atuar com isenção e comprometimento com a responsabilidade social e com o desenvolvimento sustentável. Tais prescrições encontram-se nas novas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Engenharia, atualizadas em 2019, e que chamam para uma inovação na forma de ensinar.
A questão é: como fazer isso? Como motivar os estudantes de engenharia, no presente caso, a utilizar toda a sua bagagem técnica para resolver grandes problemas da sociedade? A solução reside em tocar profundamente a essência do estudante, empoderando-o e enfatizando sua capacidade e responsabilidade de propor soluções que tenham como foco o ser humano, e não a tecnologia. Não estamos em busca da forma mais barata de gerar energia (que, muitas vezes, são os combustíveis fósseis), mas sim de gerar energia em harmonia com o meio ambiente! Para tal, os professores podem contextualizar suas aulas dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, onde o estudante desenvolverá o discernimento necessário para enxergar como o conteúdo técnico estudado poderá ser utilizado para erradicar a pobreza, reduzir desigualdades, gerar energia limpa, combater a mudança do clima, preservar a vida terrestre e na água, e promover paz e justiça, entre outros objetivos da Agenda 2030. Tal abordagem servirá de motivador para os estudos!
O papel crucial de todo educador, em relação aos alunos, pode ser sintetizado nas palavras de 'Abdu'l-Bahá (1844-1921): “Ensinai-as a dedicarem suas vidas a assuntos de grande importância e inspirai-as a empreenderem estudos que beneficiem a humanidade”. Tal é o papel do professor: inspirar os alunos para atuarem em benefício da humanidade!