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OPINIÃO

Olgamir Amancia é decana de Extensão da UnB. Doutora em Educação pela Universidade de Brasília (2009), mestre em Estado, Política Pública e Gestão da Educação pela UnB (2002). Possui graduação em Licenciatura Plena em Ciências pelo Centro de Ensino Superior de Brasília (1985). Atualmente é professora adjunta na Universidade de Brasília/FUP no Curso de Licenciatura em Ciências Naturais e conselheira do Conselho Superior do Instituto Federal de Brasília para o período de junho/2016 a junho/2020. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Formação de Professores, Metodologia da Pesquisa e Administração de Sistemas Educacionais.

 

Alexandre Pilati  é professor associado de Literatura Brasileira na Universidade de Brasília, doutor em Literatura pela UnB (2007). É pesquisador e professor na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira, poesia.  Realizou estágio pós-doutoral na Facultad de Filosofia y Letras da Universidad de Buenos Aires - Argentina (2015). Foi coordenador-adjunto do Curso de Aperfeiçoamento Educação, Pobreza e Desigualdade Social (MEC-UnB / 2017-2018). É Diretor Técnico de Extensão do Decanato de Extensão da Universidade de Brasília (DEX-UnB) e vice-coordenador do GT Literatura e Sociedade da ANPOLL. Integra o corpo editorial da revista Crítica Marxista.

Olgamir Amancia e Alexandre Pilati

 

Entre os dias 23 e 27 de setembro, vivenciamos a XIX edição da Semana Universitária da Universidade de Brasília, a Semuni 2019. Neste ano, o tema motivador foi Encontros que transformam, um lema que é capaz de revelar não apenas a essência da atividade extensionista, mas também a própria missão da universidade pública. Num país em que os problemas e as iniquidades sociais são tão estruturantes, é fundamental que a universidade possa se assumir como lugar que acolhe encontros e que promove transformações nos mais diversos âmbitos, do mais íntimo ao mais coletivo. E o que a Semuni 2019 comprovou, com um conjunto total de quase novecentas atividades de ensino, pesquisa e extensão, foi a vitalidade da UnB em promover encontros, transformação, reflexão, arte, cultura, conhecimento e calor humano.

 

Tal vitalidade, que é, de resto, uma força social evidentemente significativa, pode ser percebida em alguns dos destaques da programação que se desenvolveu ao longo dos cinco dias, nos quais que os campi se abriram mais uma vez à interlocução com a comunidade do Distrito Federal. Já na abertura, com a filósofa e escritora Viviane Mosé, ficou clara a abrangência e a relevância do tema central da semana. A autora apresentou, em sua fala, a necessidade urgente de se defender a Universidade pública e a capacidade que esta instituição, que pertence à sociedade brasileira, tem de gerar conhecimento e produzir desenvolvimento econômico, educacional e humano.


No campus Darcy Ribeiro, nos dias 23 e 24 de setembro, realizou-se a iniciativa inédita do I Encontro de extensionistas da UnB, um evento cujo formato foi desenhado pela Diretoria Técnica de Extensão, com o intuito de pôr em prática um dos princípios basilares do extensionismo: o protagonismo dos estudantes. Durantes esses dois dias, os estudantes puderam, além de apresentar os projetos de que fazem parte, debater em grupos de trabalho sobre temas essenciais do ensino superior e coligir os resultados dos debates na Carta dos Estudantes Extensionistas da UnB2019, que em breve será divulgada à comunidade.


É digno de destaque, no âmbito da Semuni 2019, o conjunto de atividades que apresentou como finalidade principal a interação com a educação básica e outras instituições de ensino do DF. Nesses termos, sublinha-se, por exemplo, pelo seu pioneirismo e sua dinâmica de contato com a sociedade, a realização da 2ª edição do Projeto UnB+Escola, uma parceria dos decanatos de Extensão e de Ensino de Graduação, que promoveu oficinas, nas quais foram ofertadas mais de mil vagas para professores de educação básica e estudantes de licenciaturas da UnB, além de conferências com os renomados professores da Universidade Livre de Bruxelas José Morais e Regine Kolinski. Sob o aspecto de contato com a escola básica, encontra-se também o projeto Universidade em pauta, conversas com a reitora, que realizou duas edições durante a Semuni 2019 e recebeu mais de 600 estudantes para dialogar com a administração superior e tirar dúvidas sobre a vida acadêmica. Estudantes de ensino médio e fundamental, aos milhares, visitaram os campi da UnB, numa iniciativa que é a marca mais tradicional da Semana Universitária.


Faz parte desse grande esforço de contato com os estudantes de educação básica do DF também a Mostra de cursos, iniciativa do Decanato de Ensino de Graduação que visa apresentar aos jovens de Brasília os cursos da UnB e possibilidades de carreira profissional. A cada ano, potencializa-se mais esse diálogo, numa importante ação de aproximação com os estudantes da rede pública, os quais, muitas vezes, a partir de uma visita à Semuni, podem passar a considerar a UnB uma realidade mais próxima, uma alternativa para o futuro; e não um sonho distante ou um espaço interditado.


Ainda nesse âmbito, outro evento que integrou a Semuni 2019, e que merece destaque pela capacidade de articulação com outras Instituições de Ensino Superior do DF, públicas e privadas, foi 25º Congresso de Iniciação Científica da Universidade de Brasília e 16º Congresso de Iniciação Científica do Distrito Federal, sediado no Centro Comunitário Athos Bulcão. Basta registrar que esta edição contou com a participação de cerca 2.800 trabalhos de iniciação científica nas mais variadas áreas do conhecimento para que se tenha ideia da relevância deste grande esforço conduzido pelo Decanato de Pós-Graduação da UnB.


Como já se tornou tradição na Semuni, a quarta-feira, dia 25/9, foi dedicada especialmente ao tema da saúde mental. O dia reuniu ações de cuidado com a saúde, sempre em relação às noções de bem-estar e de bem-viver. Nele, a comunidade mobilizou-se para inúmeras atividades que atravessam um tema que ganha ainda mais relevância se considerados os processos de adoecimento pelos quais a sociedade contemporânea passa e que, como é inevitável, a própria Universidade não está imune. A quinta-feira, dia 26/9, por sua vez, foi um dia dedicado à Feira criativa, que reuniu artesãos e empreendedores ligados à comunidade acadêmica, além de artistas da cidade, que puderam interagir com o público e mostrar a qualidade do seu trabalho.


A Semuni 2019 se encerrou de modo emocionante com a participação do escritor moçambicano Mia Couto, vencedor do prestigiado prêmio Camões de 2013. Mia Couto esteve na UnB para receber o título de Doutor Honoris Causa e proferir a palestra de encerramento da semana, com uma fala que abordou especialmente o tema encontros que transformam. De sua passagem pela UnB, destaca-se a mensagem de afeto e solidariedade para com os brasileiros bem como de reforço à necessidade de se defender sempre a liberdade e a democracia, contra o autoritarismo e a restrição de direitos.


Esses são apenas alguns destaques que se pode sublinhar neste breve espaço, pois a Semuni 2019 reuniu ainda inúmeras atividades nos campi de Ceilândia, Gama e Planaltina, na Casa de Cultura da América Latina e muito mais.


O sucesso da Semuni 2019 deve-se, indiscutivelmente, ao desenvolvimento de um modelo participativo de planejamento das atividades. Desde 2018, a Semuni é um Programa Especial do Decanato de Extensão, o qual é conduzido por meio de um edital específico que visa fomentar a participação das diversas unidades e a articulação de programações especiais, como forma de oportunizar a soma de esforços e de estimular o comprometimento de docentes e discentes da UnB. Esse modelo é decisivo tanto para o aumento do número de atividades propostas quanto para o visível aumento da participação da comunidade nas atividades, como bem ficou demonstrado ao longo da Semuni 2019.


Este modelo de Semana Universitária, portanto, é tributário do esforço e do comprometimento de toda a comunidade acadêmica, mas, sobretudo, do Decanato de Extensão, que, por meio de suas diretorias, do corpo de servidores técnico-administrativos e dos membros da Câmara de Extensão, foi capaz de desenhar uma política de fomento à extensão que consegue expressar, de modo sensível e abrangente, o que a UnB constrói de melhor cotidianamente e que precisa, cada vez mais, ser comunicado segundo formas criativas e participativas à comunidade do Distrito Federal.


É com esse ânimo, renovado pelos dias de encontros que nos estimulam à continuidade do trabalho, que estamos já pensando na Semuni 2020, pois sabemos que é um período fundamental para promovermos dentro da UnB o que o poeta Vinicius de Moraes um dia nomeou como “a arte do encontro”.