OPINIÃO

Henrique Marinho Leite Chaves é professor do Departamento de Engenharia Florestal da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília.

Henrique Marinho Leite Chaves

 

Sendo um lócus de discussão técnico-política, o Fórum Mundial da Água, que tem sua 8ª edição realizada em Brasília, entre 18 e 23 de março, visa aproximar os técnicos e acadêmicos, que militam no setor hídrico, dos decisores e da sociedade em geral.

 

A intenção dos idealizadores do evento é exatamente essa, ou seja, aprofundar a discussão do tema água, de grande importância estratégica, econômica, social e ambiental, em todos os setores da sociedade.  Sabe-se, entretanto, que ainda existe, em muitos países, principalmente naqueles em desenvolvimento, um gargalo importante separando a Ciência da Gestão de recursos hídricos, dificultando o atingimento de metas de universalização do saneamento, de seguridade hídrica, de melhoria ambiental e, sobretudo, de crescimento socioeconômico e bem-estar.

 

A despeito de nossa legislação hídrica ser considerada avançada, incluindo o reconhecimento do valor econômico (mas não mercadológico) da água, da utilização da bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão, e da importância da descentralização do gerenciamento hídrico, boa parte dos brasileiros ainda desconhece o fato de que todos somos corresponsáveis pelo gerenciamento dos recursos hídricos, empoderados que fomos pela Constituição e pela Lei das Águas (9.433/97).

 

Nesse contexto, o papel da academia, incluindo as universidades e centros de pesquisa, não é apenas de gerar novos conhecimentos e tecnologias para gestão de recursos hídricos. É necessário que nós, técnicos e acadêmicos, mostremos a importância do tema aos decisores e à sociedade, e como essas novas técnicas podem melhorar a vida de todos.

 

Entretanto, para quebrar o indesejável gargalo que separa a Ciência e Gestão, os resultados gerados por pesquisadores devem ser apresentados e discutidos com os diversos setores da sociedade, usando uma linguagem acessível e coerente, de forma que esses possam ser convencidos de que políticas públicas e investimentos adequados trazem benefícios para todos os setores econômicos. Para tanto, uma boa comunicação por parte dos acadêmicos é fundamental, mostrando a relação causa-efeito entre boa gestão e seguridade hídrica.

 

Resultados cientificamente robustos e transparentes são também indispensáveis para que o processo de discussão sobre a gestão de recursos hídricos seja eficaz, permitindo o atingimento de metas factíveis, traçadas em conjunto. A falta deste diálogo, por outro lado, pode contribuir para o desencadeamento de crises hídricas, onde as consequências recaem sobre todos.

 

Essa busca de diálogo e atuação conjunta com os diferentes segmentos do governo e sociedade, por sua vez, é parte da responsabilidade do pesquisador que, apesar de se concentrar no aprimoramento técnico e científico que lhe é inerente, deve sempre manter seus olhos, ouvidos e lábios abertos, contribuindo para o processo de gestão integrada de recursos hídricos. Neste aspecto, todos somos igualmente responsáveis.

 

_________________________

ATENÇÃO

O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. Os textos podem ser reproduzidos em qualquer tipo de mídia desde que sejam citados os créditos do autor. Edições ou alterações só podem ser feitas com autorização do autor.

 

Palavras-chave